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Inovação e lean startups

Inovação e lean startups

A inovação segue sendo uma preocupação central das empresas, não só por possibilitar melhorias nos negócios existentes como também permite criar novos produtos e serviços, muitas vezes revolucionários.

Já mostramos em outras oportunidades como o pensamento lean ajuda a inovação nas empresas (ver leanmail tratando de Inovação na empresa lean em LeanMail Setembro/2010 e artigo publicado no Lean Post do Lean Enterprise Institute (LEI) intitulado Lean e Inovação em Where Lean Meets Innovation). Procuramos mostrar que a essência e os princípios básicos da filosofia lean acabam estimulando a inovação como característica intrínseca desse modo de pensar e fazer nas empresas.

Um dos fundamentos do pensamento lean é a busca da redução dos “lead times”, o que não apenas aumentaria a velocidade no processo produtivo, fluindo mais rapidamente os produtos da matéria prima até as mãos dos clientes, como também no ciclo de desenvolvimento de novos produtos e serviços, reduzindo o tempo entre a identificação da necessidade ou oportunidade e o produto lançado no mercado.

Porém, mais recentemente, a contribuição do “lean startup” vem ajudando a dar um salto na capacidade de inovar, não só das empresas com tecnologias emergentes como também nas empresas maduras. Popularizado pela publicação do “best seller” nos EUA “A Startup Enxuta” de Eric Ries, os conceitos e métodos do “lean startup” aumentam ainda mais a velocidade no desenvolvimento de produtos e serviços em condições de elevada incerteza.

Esse conceito, conforme o autor define, “é a aplicação do pensamento lean à inovação”. E foi concebido para evitar o insucesso de empresas emergentes em condições muito incertas, nas quais são desconhecidos os clientes e assim, quais produtos eles esperam ou querem. Traz vários métodos de abordagem e ferramentas que merecem ser aprendidos e entendidos por todos.

Apresenta uma versão própria do PDCA com ênfase no aprendizado. O loop Construir-Medir-Aprender (C-M-A) é essencial para permitir avaliar os progressos com base na hipótese de valor (testa se um produto ou serviço realmente entrega o valor esperado aos clientes que os estão utilizando) e na hipótese de crescimento (testa como novos clientes vão descobrir o produto ou serviço) que foram elaboradas.

O Produto Viável Mínimo (PVM) é uma versão de produto que permite uma rodada completa do ciclo Construir-Medir-Aprender (C-M-A) com o menor esforço possível e a menor quantidade possível de desenvolvimento. A partir disso, com o passar do tempo e com os novos conhecimentos aprendidos, pode-se ir construindo novas e mais elaboradas versões dos produtos, com base na experiência dos clientes e no aprendizado dos processos de produção.

Essa noção pode desafiar visões enraizadas que temos sobre qualidade dos produtos. A visão tradicional de qualidade assume que a empresa já conhece quais atributos do produto os clientes valorizarão e perceberão como importantes. Porém, isso não funciona em um “startup” onde não se tem certeza mesmo sobre quem é o cliente e, portanto, o que ele espera.

Ao completar esse loop, é possível decidir sobre a estratégia fundamental: persistir ou pivotar. Isso permite realizar mudanças de rumo mais cedo, evitando perdas de tempo e recursos e a não persistir em uma estratégia errada. E, ao seguir em frente, avançar nas necessidades e prioridades corretas.

O modo de avaliar progressos são os “marcos (milestones) do aprendizado”, momentos em que o aprendizado é validado de forma rápida, empírica e concreta. Permite saber se um grupo descobriu verdades valiosas sobre as perspectivas de negócio do novo empreendimento, testando as hipótese de valor e de crescimento. Isso contrasta com os métodos tradicionais de se definir um plano detalhado e avaliar a implementação do plano como medida de progresso. E estabelecer medidas financeiras um bom tempo depois. Essa maneira de avaliar evita se executar bem um plano que leva a lugar algum e só vai ser percebido quando já é tarde demais.

Esses são apenas alguns dos conceitos, métodos e ferramentas do “lean startup”. Prever o futuro é sempre muito difícil. E as mudanças tecnológicas e nos mercados são cada vez mais intensas e imprevisíveis. Ou seja, as condições de extrema incerteza abarcam cada vez mais mesmo as empresas em setores tradicionais. O conceito de “lean startup” procura superar esses obstáculos, criando assim ciclos mais rápidos de aprendizado e de decisão que evitam as perdas enormes embutidas nos conceitos tradicionais.

E sua contribuição tem ido além das empresas novas, ajudando tambémas empresas tradicionais. Esse conceito agora sendo usado em experimentos de empresas maduras como, por exemplo, a GE (General Electric) nos EUA. E pode ser útil para a sua empresa. Quanto mais madura e bem sucedida for a transformação lean na sua empresa, e, em particular, se já envolveu os processos de desenvolvimento de produtos, os conceitos do “lean startup” podem ajudar a criar produtos e processos verdadeiramente inovadores, independendo assim da sorte ou de indivíduos geniais.


José Roberto Ferro
Presidente
Lean Institute Brasil





PS1. Ver um vídeo com a palestra de Eric Ries na Universidade Stanford e um vídeo com diálogo entre Eric Ries e John Shook para maiores detalhes sobre “lean startups”.

PS2. Alguns desses temas tratados nesse leanmail serão cobertos no Lean Summit 2014 nos dias 2 e 3 de setembro em sessões sobre Inovação e desenvolvimento de produtos. Aguarde a programação.

PS3. Temos a enorme satisfação de comunicar a criação do Escritório Regional Sul liderado por Ernani Paludo, que recentemente, faz parte da equipe, após experiência bem sucedida com a transformação lean na DuPont. Sediado em Porto Alegre, ajudará a coordenar esforços nos estados do Sul e também nos países do Cone Sul. Giuliano Marodin apoiará como instrutor de treinamentos. O evento de lançamento ocorrerá em Abril.

PS4. O primeiro grupo de empresas trabalhando em um projeto de aprendizado coletivo em Desenvolvimento de Produtos está concluindo seus trabalhos em uma primeira fase. Tivemos a participação da Embraer, Fundição Tupy, Tecsis, Villares Metals e FMC. Estamos formando um novo grupo. Se a sua empresa tiver interesse, favor entrar em contato com [email protected].

PS5. Ver vídeo de John Shook sobre o modelo de transformação que está sendo usado no Lean Enterprise Institute nos EUA e Brasil.

Publicado em 30/01/2014

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