INDÚSTRIA METALÚRGICA

Como começar uma indústria do zero com o lean

Dariusz Dziuba
Como começar uma indústria do zero com o lean
Veja como uma indústria de fundição criou uma cultura de aprendizado contínuo para resolver problemas e adaptar-se rapidamente às necessidades do mercado.

Planet Lean: Você pode apresentar a Cranfield Foundry aos nossos leitores?

Dariusz Dziuba: Somos uma fundição de ferro moderna e ecológica que foi construída recentemente do zero na ensolarada Macedônia. Fundimos ferro dúctil e cinzento de qualidade para clientes na Europa e atualmente estamos expandindo para atender clientes na região do Oriente Médio. Nosso objetivo é ser uma fundição “fácil de trabalhar” na qual os clientes possam confiar.

PL: Qual foi o motivo de recorrer ao pensamento lean?

DD: Para ter sucesso como fundição, especialmente na Europa, é preciso acertar muitas coisas. É virtualmente impossível administrar um negócio lucrativo se a fundição for ineficiente e não adaptar continuamente sua forma de trabalhar às mudanças nas necessidades dos clientes. No início, não tínhamos know-how suficiente e logo percebemos que a única maneira de ter sucesso seria construir uma equipe que pudesse aprender continuamente e resolver problemas rapidamente. Assim, decidimos que o lean poderia ser a melhor opção para nós.

PL: Um greenfield lean! Como o lean está permitindo que vocês desenvolvam seu negócio?

DD: Como uma espécie de startup, quando começamos nossa jornada, não tínhamos muito – nem clientes, nem instalações, nem equipe. Era uma folha em branco. A única coisa que tínhamos era o desejo de construir uma fundição lean e o capital para isso (embora, como percebemos depois, tínhamos muito menos do que realmente precisávamos). Acreditamos verdadeiramente que, embora o capital e a tecnologia sejam incrivelmente importantes, no final das contas são as pessoas que podem fazer as coisas acontecerem – especialmente quando trabalham em equipe. Nosso maior e mais difícil desafio foi tentar nos tornar lean sem ter uma cultura lean totalmente desenvolvida.

PL: Como o pensamento lean ajudou até agora?

DD: Estamos apenas no início de nossa jornada, mas mesmo o fato de ainda existirmos como empresa, apesar da Covid-19, da guerra da Rússia e da Ucrânia e dos preços altíssimos de energia e de matérias-primas é uma prova de que o pensamento lean nos permitiu construir agilidade suficiente em nossa empresa para navegar em um ambiente extremamente desafiador. Algo de que estamos muito orgulhosos é o nosso sistema LeanShaman. Vemos que ele está nos ajudando a implementar mudanças e melhorias em uma velocidade que não vemos em outras empresas. Graças a esse software muito inteligente, muitas decisões na Cranfield Foundry são tomadas por líderes de equipe e supervisores.

PL: Na sua opinião, o que leva a uma transformação cultural?

DD: A cultura é resultado de tantos fatores e é tão complexa que, na minha opinião, tentar gerenciá-la ou modificá-la diretamente é quase impossível. O que podemos mudar são os processos e os sistemas que moldam essa cultura. Talvez seja por isso que decidimos seguir o caminho lean. O lean nos permite moldar nosso pensamento, ambiente, padrões e maneira de trabalhar. Com o tempo, aos poucos, isso vai construindo a cultura. O LeanShaman também nos ajuda aqui, pois nos oferece inúmeras oportunidades para treinar, aprender e construir cultura. Este processo nunca terminará.

PL: Quais são as principais ferramentas e técnicas lean que vocês estão usando?

DD: Tentamos muitas coisas no começo, e isso foi um erro. Depois de algum tempo, começamos a pensar que só precisávamos de duas coisas: pessoas com mente aberta e um punhado de ferramentas básicas. Então, começamos a usar os 5S, solução de problemas e padronização. Mas mesmo isso não funcionou bem. Foi quando decidimos seguir a recomendação que o Sr. Masaaki Imai nos deu em uma conferência: “Apenas concentre-se em pequenas melhorias”, ele nos disse. E foi isso que fizemos. Introduzimos um sistema chamado DAMIS – Daily Micro Improvement System (em retrospectiva, esse foi mais um erro) –, que depois se tornou o LeanShaman. Hoje, esta é uma das nossas armas mais poderosas. Usamos o LeanShaman para construir nossos 5S e nosso sistema de solução de problemas, para padronizar e melhorar.

PL: O que vocês esperam que os participantes tenham aprendido com sua apresentação no Lean Global Connection?

DD: Nossa abordagem ao lean é muito pragmática e acreditamos que as pessoas apreciaram nossa apresentação, especialmente aquelas que operam ou trabalham em empresas menores como a nossa (50 a 500 colaboradores), com operações físicas e um contexto de negócios incerto. Tentamos mostrar como – ao contrário do que a maioria dos consultores lhe dirá – um bom “sensei” (no nosso caso, Małgorzata Jakubik, do Lean Enterprise Institute Poland) e um sistema inteligente, como o LeanShaman, são mais do que suficientes para iniciar a sua transformação lean, construindo operações eficientes, porém flexíveis, e enraizando o pensamento lean na organização.

Publicado em 14/12/2022

Autor

Dariusz Dziuba
Gerente geral da Cranfield Foundry.
Planet Lean - The Lean Global Networdk Journal