CULTURA E LIDERANÇA

Tempo Takt - O ritmo ditado pelo cliente

Na Reunião de Coordenadores Lean ocorrida no dia 16 de março, na fábrica da Fresenius Medical Care em Jaguariúna – S.P. , tivemos a oportunidade de fazer uma reflexão sobre o tempo takt (TT).

Por que e para que tudo isto?

Vejamos:
Se me perguntarem para dar em uma resposta simples, curta e direta de uma só palavra, o que é a coisa mais importante na filosofia lean, sem menor dúvida responderia que é o takt.  Para mim, o takt ou melhor o TT sintetiza e caracteriza a filosofia lean. Sem ele não dá para estruturar a filosofia lean e muito menos falar em TPS ( Toyota Production System) de onde originou a filosofia lean que conhecemos (lembre-se que a filosofia lean objetiva buscar  redução de custo pela eliminação de desperdícios !!!).

Na nossa metodologia (do Lean Institute Brasil) de disseminar os conceitos da filosofia lean, a primeira menção do TT é feita no Workshop de Mapeamento do Fluxo de Valor (MFV). Ao estabelecer o Estado Futuro, necessita-se conhecer qual é o ritmo de puxada da demanda, isto é  em que ritmo o cliente está demandando o produto. É a determinação mais importante no MFV. Todas as ações subseqüentes são elaboradas tendo como base, o valor desse pequenino mas muito importante elemento chamado TT.

Embora ele seja de suma importância, a experiência me tem mostrado e indicado que ele  não é levado à sério como deveria pela grande maioria das pessoas que estão implementando a filosofia lean em suas empresas. Como conseqüência, tem causado  um dano muito grande em toda cadeia do negócio, desde o fornecedor, passando pela fabricação até chegar nos clientes finais dificultando a sustentação a iniciativa. Isso tudo devido principalmente, a falta de previsibilidade do que é necessário ser feito, o que  ocasiona instabilidade na cadeia sistêmica. Essa instabilidade (veja o meu artigo sobre Estabilidade já publicado), coloca em cheque as melhores das intenções seja qual for o sistema produtivo.

Uma vez determinado o TT,  seja fiel, leal e totalmente comprometido com ele  pois,  é embasado nele é que se  estabelece todas as ações necessárias na cadeia de negócio para satisfazer as necessidades do cliente.

O TT em uma empresa lean é determinado quando da elaboração do orçamento (budget) anual. Na Toyota isto é uma realidade. Os dados de demandas são projetadas, o mais preciso possível, baseados nas pesquisas  e planejamento estratégico de marketing e vendas ( por vez outra, observa-se divergências nas pesquisas - a Toyota não é perfeita !!! Nesses casos perde-se as oportunidades) . O calendário anual, de como a empresa vai operar no ano,  é elaborado  pelo PCP (Planejamento e Controle de Produção) e referendado pela cúpula diretiva. Uma vez conhecido o calendário anual  e o volume da  demanda anual, o tempo takt é o resultado da relação  desse  tempo por essa demanda. Todos os membros da diretoria conhecem  e sabem  que o denominador comum, quando se trata de negócio da empresa, é esse TT.

O orçamento anual  é fundamentado, estruturado e elaborado baseado nele (TT)  e passado para o Hoshin da empresa a fim de ser disseminado em todos os níveis da empresa. O sucesso ou fracasso da empresa depende diretamente do atendimento e cumprimento do que está estabelecido no orçamento. O  Hoshin Kanri exerce um papel fundamental no acompanhamento e controle das atividades da empresa.

Vimos que ao nível de estratégia empresarial, a linguagem e o denominador  comum nos entendimentos da liderança da empresa quando se trata de negócio de produção, é o TT. Vejamos agora, ao nível de chão de fábrica o que acontece com o TT : ele imprime o ritmo de fabricação. É um dos elementos essenciais do Trabalho Padronizado (TP) juntamente com a sequência de operação do trabalhador e o estoque padrão de processo. É ele (TT)  que estabiliza o ritmo de atividade do operador protegendo o da sobrecarga no trabalho (muri), da variação na cadência e movimentação (mura)  evitando e eliminando  sumariamente os desperdícios (muda) durante a execução do seu trabalho. É através de TP que se  estabiliza a segurança do operador  no trabalho e também a qualidade no trabalho e conseqüentemente do produto.

Na Toyota quando ocorre acidente no trabalho ou problemas de qualidade, a primeira coisa a ser verificada e analisada é se o operador executava a tarefa de acordo com o TP. Na maioria dos casos  verifica-se que o operador não seguia o TP. Não obstante, existem casos em que o TP não assegura o que  foi mencionado acima requerendo assim  revisão e melhoria ; nessa situação pode se observar que o TP serve de referência para se implementar kaizen.  Sem TP não há kaizen costuma se dizer na Toyota. Ao elaborar o TP, o objetivo é fazer com que o trabalho do operador  seja bem definido,  previsível, mensurável,  transferível de um operador para outro nos seus elementos de trabalho e fazer a máxima utilização desse recurso.

Outra ferramenta de suma importância no dimensionamento da mão de obra no chão de fábrica é o GBO (Gráfico de Balanceamento de Operação) . Esta ferramenta também é baseado no TT. Uma vez  o conhecendo, efetua-se a distribuição da mão de obra nos postos de  trabalho. Atribui se a cada colaborador os elementos de trabalho até que a somatória dos tempos de execução desses elementos de trabalho preencham totalmente o TT. Procedendo desta maneira todos os colaboradores ficam com a carga de trabalho uniformemente distribuído e equilibrado evitando quaisquer mal estar e ou desentendimento entre eles. Além disto é uma boa prática promover rodízios nos postos de trabalhos ( promover colaboradores multifuncionais)

Vejamos agora a importância do TT relacionada com capacidade produtiva das máquinas e equipamentos (M&E). Nas empresas que tenho visitado, praticamente todas, tem a grande preocupação de fazer a máxima utilização dos recursos M&E não dando a devida importância ao TT  causando um grande transtorno no sistema produtivo. O tempo ciclo (TC) de operação deve ser ligeiramente menor (por volta de 5% ) que o TT ( chamo atenção  que isso também não deixa de ser desperdício) . As M&E e processos que tenham o TC muito menor que TT  é uma fonte geradora de desperdícios, pois ao fazer  a máxima utilização desses recursos produz-se mais que o necessário. Portanto ter recursos além da necessidade é um grande desperdício. Ao adquirir M&E ou estabelecer processos estar sempre norteado pelo TT e realizar  sempre o necessário ditado pelo TT. (utilizar o Gráfico de Balanceamento para M&E similar ao GBO) E quando o TC for maior que TT caracteriza-se gargalo que deve ser resolvido buscando eliminá-lo pela  implementação de kaizen e ou  redimensionamento e  aquisição de M&E.

Antes de encerrar vejamos que importância tem o TT para com os fornecedores. Lembre que na visão sistêmica do negócio o fornecedor está ligado e faz parte da sua cadeia produtiva. Tratar  o fornecedor como  parceiro do negócio e como extensão de suas atividades. Dessa maneira os fornecedores devem operar no mesmo TT da fábrica ,obviamente nos itens relacionados e aplicar o conceito de JIT na logística tanto externa como a interna utilizando o conceito do “milk round” evitando assim a formação de estoques de material (matéria prima) na fábrica.

No próximo artigo vamos tratar em mais detalhes sobre Trabalho Padronizado – ferramenta fundamental no chão de fábrica para sustentação da filosofia lean; estabilização da segurança no trabalho, qualidade e produtividade; motivação e treinamento dos colaboradores e gestão da liderança além de ser referência para se implementar kaizen.

Publicado em 03/04/2009

Planet Lean - The Lean Global Networdk Journal