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Oscar 2023: melhorar gestão também é 'tudo em todo lugar ao mesmo tempo'

Flávio Augusto Picchi
Oscar 2023: melhorar gestão também é

O filme “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, dos diretores Daniel Kwan e Daniel Scheinert, foi o grande ganhador desse fim de semana no Oscar 2023, ao levar o maior número de estatuetas e o prêmio de melhor filme.

Independentemente das qualidades cinematográficas, a obra também pode sugerir uma boa reflexão sobre como pensar e implementar o sistema lean. É que, de certa forma, transformar e melhorar a gestão de uma empresa no sentido lean é ou precisa ser uma “aventura multidimensional”.

O próprio título do filme já diz muito a respeito disso, ao nos lembrar de um fundamental princípio da gestão lean: implementar o lean é, essencialmente, a busca por melhorar tudo, em todo lugar, ao mesmo tempo. Vamos analisar rapidamente cada um desses aspectos.

No caso, “tudo” significa que, sem exceção, todas as atividades podem e devem ser melhoradas. Uma organização, seja qual for, é feita de “processos”, dos mais variados, pequenos ou grandes, estruturados para produzir, gerenciar e entregar todo tipo de produto ou serviço. Podem ser processos de produção ou administrativos e, por mais que já tenham sido racionalizados, sempre será possível identificar algo que pode ser feito com maior eficiência, atendendo melhor aos clientes.

“Todo lugar” pressupõe que analisar e melhorar processos significa fazer isso na organização inteira, envolvendo todos os setores, áreas ou departamentos. E todas as pessoas, do porteiro ao CEO. Também quer dizer que isso pode e deve ocorrer em todo tipo de empresa, das pequenas aos conglomerados. Isso significa também que uma integral transformação lean numa organização será melhor se isso ocorrer em seus fornecedores, nos fornecedores deles… e em toda a cadeia de valor.

E “mesmo tempo” quer dizer que essa transformação deve ser algo “contínuo”, ou seja, precisa ocorrer a todo momento, e não apenas em situações específicas ou quando se nota algum problema. Deve ser algo contínuo, uma preocupação presente em todo e qualquer tempo dentro de uma organização.

Então, podemos concluir que, sim, uma real e sustentável transformação de gestão é algo multidimensional, no sentido de ter de ocorrer em múltiplas dimensões. Do contrário, terá efeitos limitados.

A diferença é que, no filme, a personagem principal usa habilidades excepcionais trazidas de outras dimensões. Já para implementar a gestão lean desse ponto de vista multidimensional, não precisamos de “superpoderes” para melhorar tudo, por todos, em todo lugar e sempre. Precisamos, sim, de pessoas “comuns”, mas com propósitos claros, motivação, método e capacidades devidamente desenvolvidas. Ou seja, que aprenderam os conceitos e práticas lean, a maneira lean de pensar, e são cotidianamente estimuladas a colocar isso em prática em tudo o que fazem.

Isso pressupõe haver lideranças que entendam e apoiem isso. Só assim é possível ter um efetivo modelo de gestão que mostre rapidamente qualquer desvio e crie um ambiente onde as pessoas não tenham medo de expor e resolver problemas.

A criação e manutenção de um sistema de gestão com essas características não é fácil, mas pode ser feito. Uma vez implantado, não vai levar uma empresa a um “universo paralelo”, como no filme. No entanto, certamente elevará a organização a outra dimensão em termos de produtividade, qualidade, competitividade e resultados.

Publicado em 15/03/2023

Autor

Flávio Augusto Picchi
Senior Advisor do Lean Institute Brasil