GESTÃO DA PRODUÇÃO

Gestão em “pequenos lotes” acelerou vacinas e deveria ser tendência para 2021

Flávio Augusto Picchi
Gestão em “pequenos lotes” acelerou vacinas e deveria ser tendência para 2021
Conceitos bastante conhecidos da gestão lean podem ser reconhecidos claramente em algumas estratégias que foram usadas

Além de ser a melhor notícia do ano, o desenvolvimento e a aprovação em tempo recorde das primeiras vacinas para a covid-19 traz uma lição de gestão que deveria ser uma tendência para 2021.

Foi sem dúvida o resultado do esforço de inúmeros pesquisadores, instituições e empresas e de uma concentração de recursos, sem os quais não seria possível desenvolver e aprovar, em praticamente um ano, uma vacina que normalmente poderia demorar uma década.

Contudo poucos se deram conta de que essa agilidade foi também viabilizada por conceitos bastante conhecidos da gestão lean e que podem ser reconhecidos claramente em algumas estratégias que foram usadas.

Vamos usar o exemplo do conceito de processamento em pequenos lotes aplicado na análise para aprovação da vacina na maioria das agências reguladoras do mundo.

Diferentemente da prática tradicional, de aguardar toda a pesquisa e desenvolvimento serem realizados e concluídos para, então, ao final, receber um grande lote de informações para fazer todas as averiguações, adotou-se a prática de fazer análises em cada etapa da pesquisa.

Ou seja, cada “pacote” de informações era analisado assim que estivesse disponível, gerando respostas rápidas em cada fase.

Pode não parecer, mas apenas essa mudança na forma de fazer o trabalho já foi fundamental para acelerar todo o processo, mantendo a qualidade e gerando esperança mundial para a pandemia, com primeira aprovação em tempo recorde da agência reguladora britânica.

Essa maneira de gestão, muito distinta da tradicional, é uma das bases do sistema lean, que traz uma série de conceitos e práticas que buscam justamente rapidez de resposta.

Trabalhar em “pequenos lotes” significa jamais deixar peças, fatos, dados, ou problemas se acumularem por longos períodos para só depois processá-los. Isso certamente deixaria tudo muito mais lento e complicado.

Segundo, ao analisar os pequenos lotes, deve-se buscar envolver as pessoas e dar respostas rápidas aos problemas identificados em cada etapa, se possível no exato momento em que eles ocorrem, sempre tentando identificar e atacar as causas raízes.

E terceiro, deve-se fazer isso tudo num fluxo contínuo, que envolva todos os colaboradores e processos da organização.

Essa lição de gestão deveria ser uma tendência para 2021. As instabilidades e incertezas devem continuar ou mesmo aumentar no ano que vem. Problemas cotidianos em todas as áreas certamente não vão faltar.

Assim, deixar os problemas se acumularem para só depois tentar entendê-los e resolvê-los só trará ainda mais falhas e dores de cabeça. Muito melhor será ver os

processos sempre sob esse prisma: pequenos lotes, respostas rápidas, fluxos contínuos… possibilitando respostas ágeis e maior adaptabilidade, essenciais nos dias de hoje.

Trata-se de uma mentalidade fundamental que deveria ser reforçada no ano que vem, não somente para as empresas, mas para toda a sociedade.

Desejo a todos um 2021 de saúde pessoal e nos negócios.

A coluna entra em recesso e retorna em fevereiro de 2021.

Publicado em 16/12/2020

Autor

Flávio Augusto Picchi
Senior Advisor do Lean Institute Brasil