CONSTRUÇÃO

Enfrentar e vencer desafios com lean: mais que lean construction

Daniel Jardim e Vinicius Coral
Frente às incertezas do cenário atual que empresas de infraestrutura estão vivenciando, o lean pode ser a chave para melhorar a eficiência no setor.

O setor de infraestrutura vem sofrendo mudanças de mercado significativas que impactam diretamente os clientes. Seu volume de obras em carteira, que costumava ter uma constância elevada, está tornando-se cada vez mais incerto, e a matéria-prima utilizada vem sofrendo um aumento constante. Com novos entrantes praticando preços menores e expondo as ineficiências do setor, que antes eram cobertas por “estoque” de caixa, a liquidez de grandes grupos não é mais suficiente para cobrir as deficiências dos projetos. Com menos obras e um custo mais elevado, torna-se imprescindível para o setor encontrar uma solução para tornar os processos mais eficientes e compensar essas dificuldades enfrentadas.


Situação das empresas

Como resposta a esse cenário, as grandes empresas do setor de infraestrutura vêm implementando medidas de gestão que visam superar esses obstáculos. Essas medidas, entretanto, costumam ser aplicadas sem uma visão holística, sem olhar para os processos como um todo de seu empreendimento, de sua obra, o que limita suas conquistas a pequenas melhorias de eficiência em serviços pontuais, mas não uma melhoria da eficiência global. Além disso, as ferramentas utilizadas nessas medidas de gestão costumam ser mais tradicionais (e por vezes obsoletas), não sendo suficientes para conectar os diferentes processos com a visão sistêmica.

Medidas mais eficientes e mais holísticas precisam ser tomadas pelas empresas do setor se elas quiserem verdadeiramente superar essas dificuldades, e é aqui que o pensamento lean pode ajudar. A utilização do lean para otimizar a obra se dá em três situações distintas:

  • Quando tudo está bem: Mesmo quando a obra está dentro do prazo, a utilização do pensamento lean é essencial para garantir que ela não saia dos trilhos e que consiga melhorar seu resultado. Sua atuação, nesse contexto, ocorre no pré-planejamento e no planejamento puxado da obra, na garantia do ritmo de produção e da produtividade, na busca por um ciclo de caixa ideal, uma liquidez gerenciada e margens garantidas.
  • Quando a obra está “indo para o brejo”: Naquele momento em que você percebe que os prazos estão ficando comprometidos e que a margem está sendo corroída, o jeito de pensar lean pode atuar trazendo tudo de volta ao lugar. Além de atuar nas áreas citadas no item anterior, aqui o lean pode buscar uma redução de desperdícios em campo e pensar em um ciclo de caixa possível para resgatar as margens.
  • Quando a obra já está atrasada e com a margem corroída: Por fim, em uma situação em que as coisas já estão bem ruins, o lean pode atuar, além das áreas citadas nos itens anteriores, com metas de equilíbrio e na contingência de prejuízos.

Mas como exatamente o lean pode atuar? Com o LIB Way to Construct, que é mais do que lean construction; é lean. Ele propõe uma atuação do macro para o micro em fluxo contínuo. Assim, torna-se possível encontrar os gaps de desperdício para garantir uma execução mais eficiente, sempre conectado ao “norte verdadeiro” da empresa e com a seleção de algumas ferramentas de padronização de processo e de logística de entrega que, para aquele momento e situação, são adequadas. Além disso, com um planejamento que consiga fazer uma boa gestão da obra, em vez de uma área de planejamento que fique simplesmente atualizando cronogramas com foco predominantemente financeiro.

A metodologia LIB Way to Construct apresenta um novo paradigma: um “processo” de planejamento focado em entregar para ter resultado, e não somente com foco financeiro. Há quatro bases nesse novo paradigma:

  • O planejamento como um processo multidisciplinar, e não somente uma área ou departamento. Normalmente, as empresas possuem uma área de planejamento, mas eles não costumam ter um processo de controle, limitando-se somente a anotar o que foi produzido, sem nada muito robusto.
  • Gestão de entregas e do ritmo de execução, mais do que foco financeiro puro. Normalmente, na construção, há restrições de faturamento que colocam pressão no pessoal para atingir os marcos necessários para conseguir faturar logo, fazendo com que eles não se preocupem com o ritmo de produção dos serviços e com o fluxo contínuo do trabalho.
  • Liquidez e fluxo de caixa balanceado em função do ritmo de obra. Embora seja importante ter sempre um olho no faturamento, é imprescindível levar em consideração o ritmo de entregas parciais, em pequenos lotes, das etapas executivas.
  • Medição como consequência, e não foco principal. Com tudo isso, a medição se torna uma consequência do trabalho, deixando de ser o foco principal para as empresas.


Processo de planejamento multidisciplinar

Em um ambiente tão incerto e mutável como estamos vivendo, buscar formas de melhorar a eficiência nos processos e conectá-los à visão do todo é uma questão de sobrevivência. O jeito de pensar lean traz uma nova perspectiva de como enfrentar os desafios atuais e, mais do que isso, prepara o time para enfrentar todas as situações e definir a ferramenta mais adequada com uma abordagem situacional do momento da obra, ou seja, mais do que tentar impor ferramentas é saber selecioná-las e adaptá-las em função do seu propósito. O LIB Way to Construct tem como objetivo desenvolver competências para que as pessoas em suas empresas consigam definir seus propósitos e serem adaptáveis a cada situação e panorama que desafiam constantemente seus negócios e seus resultados. Por isso, ele significa enfrentar e vencer desafios com lean mais do que lean construction.

Publicado em 13/12/2023

Autores

Daniel Jardim
Expert Lean na Construção
Vinicius Coral
Especialista do Lean Institute Brasil
Planet Lean - The Lean Global Networdk Journal