O desafio das empresas em se manterem competitivas ocorre não apenas através da
melhoria de seus produtos e processos atuais, como também através da inovação, para
desenvolver e lançar produtos e processos radicalmente diferentes.
Muitas pessoas de fora da nossa comunidade ainda continuam pensando em lean como um conjunto eficaz de técnicas de manufatura. Ou seja, lean seria bom para melhorar a produção de produtos já existentes.
Porém, mesmo aqueles que já deram um passo adiante e entendem lean como uma filosofia de gestão aplicada a empresa inteira, muitas vezes, não percebem que lean também ajuda a criar as condições para que se estabeleça um poderoso sistema de inovação capaz de gerar os novos produtos e processos necessários para enfrentar os desafios competitivos.
Quase sempre o processo de inovação está associado a uma ou poucas pessoas criativas que começam do zero uma nova organização. Mas nem sempre é o caso. A maioria das inovações surge dentro de grandes empresas.
Podemos definir inovação como um processo através do qual ideias são traduzidas em novos produtos e processos que servem para criar, melhorar e expandir oportunidades de negócios.
A gestão lean não apenas melhora o desempenho atual como prepara melhor a empresa para os desafios das novas demandas dos clientes e também dos desafios de novos produtos e processos.
Quais são os elementos do sistema lean que apoiam a geração de inovações? Quais ferramentas apóiam diretamente esse processo?
Os fundamentos, premissas essenciais, práticas e ferramentas lean podem servir para transformar a empresa em uma máquina de geração de novos conhecimentos, ideias e inovações. Senão vejamos:
O sistema lean consegue integrar a gestão da rotina com a inovação porque desafia as pessoas, em todos os níveis da organização, desde a direção até o pessoal responsável direto pela criação de valor, passando pelas áreas suporte, a aprender permanentemente.
E isso se aplica também nas funções de Estratégia ou Desenvolvimento de Produto e na alta administração, em última estância os maiores responsáveis pela inovação.
O sistema lean procura transformar todas as pessoas no maior especialista possível em sua função ou responsabilidade, conhecendo profundamente os detalhes de sua atividade específica.
E, para isso, tenta transformar as pessoas da empresa inteira em mestres na utilização dos métodos de solução de problemas. Se adequadamente utilizado, esse método leva à criação de alternativas ou contramedidas para atacar as causas reais dos problemas, o que acaba gerando conhecimentos novos que podem ser utilizados na solução desses problemas ou então reutilizados para outros problemas. Esse método gera uma enorme capacidade nas pessoas de desenvolver novas ideias e novas soluções, o tempo todo, em toda a empresa.
A não utilização desse método gera as habituais soluções rápidas, inconscientes, conforme comentei em leanmail de abril de 2013 (“Lean muda tudo na empresa”). Quando temos uma única “solução”, restringe-se o processo de criação de um repertório de alternativas e consequentemente não se estimula o desenvolvimento pleno da capacidade das pessoas.
Outro exemplo para ilustrar o poder gerador de inovações do sistema lean pode ser dado pelo Processo 3P (Processo de Preparação da Produção, ver
Léxico Lean), um método para projetar um novo produto ou reprojetar de forma radical o processo de produção de um produto já existente. Com o apoio de uma equipe multidisciplinar, forca-se a criação de alternativas e, após um processo de seleção baseado em critérios objetivos, escolhe-se as melhores que então passam por um processo de simulação, o mais próximo possível da realidade quando então o grupo envolvido escolhe a melhor opção.
Quando aplicado, as dificuldades iniciais são muito grandes, pois estamos sempre acostumados a achar que já temos a melhor solução. Quando colocado o desafio de buscar alternativas, é comum criar-se um vazio mental enorme. Mas na medida em que as pessoas vão aprendendo, passa a ser natural e fluir suavemente a identificação de um amplo conjunto de ideias e alternativas.
E mais um exemplo de pratica lean é a própria elaboração dos A3 (para detalhes sobre o processo A3, ver “Gerenciando para o Aprendizado” de John Shook). Se bem elaborado, na etapa de definição de possíveis contramedidas, é sempre importante identificar um conjunto de possibilidades para se chegar ao consenso, pois nem sempre uma boa solução para uns é a melhor para outros. E como todos devem estar convencidos e engajados para possibilitar o sucesso da iniciativa ou solução sugerida, ter esse amplo portfólio de alternativas facilita sempre.
Assim, a responsabilidade pela inovação na empresa é de todos, com diferentes níveis de comprometimento. A geração permanente de novas ideias, que podem ou não ser descartadas no momento, mas podem ser reutilizadas depois com a criação de um “supermercado” de ideias, acaba por criar uma organização que aprende e melhora permanentemente.
Essas mesmas ideias e princípios aplicados aos departamentos mais diretamente envolvidos com as inovações como o de Planejamento Estratégico, Desenvolvimento de Produtos, Marketing, Engenharia etc. podem tornar muito mais robustos os processos relacionados diretamente com isso.
E o que dizer do processo de inovação advindos da criação de novas empresas? Muitas das novas empresas que são criadas, muitas vezes, para dar vazão a uma ideia nova de um empreendedor, também têm sido concebidas mais recentemente segundo os princípios lean. O movimento de “startups” lean (ver leanmail de maio de 2012) continua crescendo em várias partes do mundo e está cada vez mais sendo aplicado a outras atividades de negócios, além das áreas de ponta, tipicamente inovadoras, como IT e biotecnologia.
Assim, em sua essência, o sistema lean contribui tanto para melhorar a produção de máquinas de escrever quanto ajuda a criar o computador pessoal.
José Roberto Ferro
Presidente
Lean Institute Brasil
PS1. Lançamos nossos três primeiros e-books: “Aprendendo a Enxergar”, “Tudo que sei sobre lean aprendi no 1º ano da escola”
e “Caminhadas pelo Gemba”. Permitem uma agradável experiência
de leitura. É possível adquiri-los em grandes livrarias digitais como Amazon, Apple,
Gato Sabido, Iba etc.
PS2. Nossos próximos lançamentos serão os livros “TI Lean: Capacitando e
sustentando sua transformação lean”, de Steve Bell e Michael Orzen, uma pioneira
contribuição em uma área que está florescendo recentemente e o “Perfecting Patient
Journeys”.
PS3. Nossos próximos eventos são: “Encontro Lean São José dos Campos, que
ocorrerá no Hotel Nacional Inn nos dias 24 e 25 de outubro; “Encontro da Alta Administração”, que ocorrerá em Porto de Galiinhas/PE nos dias 10 e 11 outubro;
e “Lean Summit Saúde”, que ocorrerá em São Paulo no dia 26 de novembro.
PS4. No segundo semestre, ofereceremos os seguintes novos temas de treinamentos
públicos:. “Liderança
Lean para Supervisores”, “Kata
Prático” e “Trabalho
Padronizado Administrativo”. Para o programa completo, ver o
calendário de 2013.