GERAL

Há 25 anos, começamos a nossa história...

Flávio Augusto Picchi e Flávio Battaglia
Há 25 anos, começamos a nossa história...
Reflexões sobre a trajetória dessa celebração – e o que devemos esperar para os próximos anos

O Lean Institute Brasil (LIB) vai completar 25 anos em outubro. Para nós, esse marco é motivo de muita alegria e uma boa oportunidade para fazermos uma reflexão sobre a evolução do sistema lean em nosso país. Sobre o que passou, o que hoje vivemos e o que se intensificará, cada vez mais, para o futuro.

Ao olhar para essas duas décadas e meia, é interessante perceber que a trajetória do LIB se entrelaça com o desenvolvimento desse método de gestão no país. Participamos do "nascimento coletivo" do lean no Brasil. E o que foi, no começo, algo desconhecido, com exceção de poucas iniciativas pioneiras, hoje é reconhecido como um modelo de gestão indispensável em todos os setores da economia.

Tivemos a oportunidade de participar ativamente e de acompanhar a evolução da jornada lean em inúmeras empresas e o aprendizado coletivo que isso tem gerado na comunidade. Isso nos traz algumas reflexões sobre a evolução de diversos aspectos do lean até agora e das tendências futuras.

O lean nasceu na indústria automobilística, e isso gerou até mesmo resistências iniciais em alguns setores. Mas rapidamente se disseminou quando organizações de diferentes segmentos viram que a maneira lean também poderia ser aplicada com sucesso em seus próprios ambientes. Alguns setores ainda apresentam grau de maturidade inicial, mas a troca de experiências tende a fazer com que a adoção se amplie e se aprofunde em diferentes situações, com elevados potenciais de sustentação e continuidade.;

No início, lean se restringia às operações, às linhas de produção. Hoje, aumenta-se, a cada dia, a consciência de que serve para a empresa toda: supply chain, logística, serviços, escritórios, tecnologia, vendas, marketing, recursos humanos, relações com fornecedores. A evolução do lean como um modelo gerador de excelência operacional em cada uma dessas áreas vai aos poucos se transformando em algo mais profundo que permeia horizontalmente todos os processos da empresa.;

Cresce a concepção de que lean precisa ser a base e a forma de trabalhar e integrar todos os fluxos de valor envolvidos na entrega de valor aos clientes. A análise "porta a porta", usada historicamente desde as primeiras iniciativas lean, articulando os fluxos de informação e de materiais através de silos funcionais, foi uma primeira revolução. Ela foi seguida do conceito de fluxo estendido, conectando fornecedores ao longo de toda a cadeia de valor. A tendência é a criação de ecossistemas lean, com clientes, parceiros, fornecedores, integradores, distribuidores, com modelos de negócio cada vez mais colaborativos, abertos e conectados.;

Outro conceito que evoluiu muito foi a percepção de que lean é um sistema “sociotécnico”. Reúne, sim, técnicas e "ferramentas" importantes. No entanto, elas só funcionam plenamente se devidamente inseridas num contexto de transformações pessoais e social nas organizações. Conforme a aplicação evolui, compreende-se que se trata de um sistema mais “sócio” do que “técnico”, dependendo de comportamentos da liderança, da segurança para expor desvios e do trabalho em equipe para resolver problemas de maneira colaborativa e imediata.

Lean surgiu nas fábricas, bastante ligado à engenharia industrial, mas sua compreensão vem evoluindo para um fenômeno de gestão muito mais sofisticado do que isso. Lean é um modelo de gestão que traz um olhar diferente e sinérgico com todas as megatendências do mundo corporativo, como sustentabilidade, responsabilidade social, transformação digital e inovação.;

Uma outra mudança – e talvez ainda mais estratégica – é a evolução do lean como uma maneira de criar valor “para o cliente”, mas incorporando uma perspectiva mais sofisticada, que é a ideia de criar valor "com o cliente". Num caminho que potencializa, cada vez mais, a experiência de quem compra, usa e consome.

Essa trajetória evolutiva representa importantes lições e inevitáveis transformações que já ocorrem e vão continuar se intensificando pelos próximos anos. Nesse contexto, nessa passagem que agora ocorre do lean “da era das ferramentas” para a “era da gestão”, precisamos, todos, compreender o passado, entender o presente e nos preparar para o futuro.

 Por tudo isso, temos certeza de que as próximas décadas serão palcos de mais transformações, provavelmente cada vez impactantes, profundas e sistêmicas. Continuaremos trabalhando de maneira focada para apoiar o desenvolvimento das organizações no Brasil, impactando a sociedade e buscando novos patamares de produtividade e prosperidade para o nosso país.

Comunicado:

Informamos a toda comunidade lean que Flávio Battaglia é o novo Presidente do Lean Institute Brasil (LIB). Há 24 anos no LIB, Battaglia entrou pioneiramente no Instituto como estagiário, passou e atuou por todos os setores e cargos – especialista lean, gerente, diretor, vice-presidente – e agora assume a presidência.

Ao longo dessa trajetória, vem contribuindo para o desenvolvimento e aplicação prática do conhecimento lean em organizações de diferentes setores e países. Battaglia, substitui Flávio Picchi, também há 24 anos no LIB e que, felizmente para todos, não deixará o Instituto.

Passa a ser Senior Advisor e Conselheiro do LIB, ao lado de José Roberto Ferro, fundador do Instituto. Picchi continuará atuando intensamente no desenvolvimento dos conceitos e práticas lean em diversos ambientes, incluindo manufatura, serviços, administração, mas, principalmente, na construção civil.

Publicado em 09/08/2023

Autores

Flávio Augusto Picchi
Senior Advisor do Lean Institute Brasil
Flávio Battaglia
Presidente do Lean Institute Brasil

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