As notícias recentes que vêm do front econômico mostram um crescente declínio de alguns dos principais indicadores macroeconômicos. A pergunta que paira, sem resposta ainda, parece ser: “Quanto ainda vai piorar antes de começar a melhorar?”.
O que fazer, então? Neste momento, pode ser útil lembrar-se das palavras de John Kennedy que disse, em 1959, que “crise” em chinês significava tanto perigo quanto oportunidade. Desde então, muitos no mundo da politica e dos negócios têm usado essa interpretação, embora alguns filólogos da língua chinesa não concordem plenamente com essa tradução.
Porém, em essência, essa interpretação pode ser muito útil e contém uma mensagem poderosa.
Se ficarmos paralisados ou intimidados pelo lado ameaçador ou perigoso, as coisas só tendem a piorar. Entretanto, se aceitarmos isso como uma oportunidade para desafiarmos nossa mente, ou seja, identificar a oportunidade e pensar em coisas diferentes, assim como agir de acordo com essas ideias, podemos alcançar uma situação muito melhor daquela na que entramos nesses períodos de turbulências e incertezas.
Vejamos alguns exemplos recentes.
O setor de óleo e gás no país é um dos mais afetados pela crise atual, tanto devido ao escândalo de corrupção e má gestão da Petrobrás, monopolista do setor, como devido a políticas ineficazes de proteção e garantia de conteúdo local. E é agravado, ainda, pelas mudanças na matriz energética no mundo, com a ascensão da produção de gás nos EUA, e pela reação dos países árabes produtores de petróleo, reduzindo dramaticamente os preços internacionais do petróleo.
Assim, a demanda por equipamentos de extração de petróleo está em cheque. Porém uma empresa brasileira do setor que havia começado sua jornada lean na fábrica há alguns anos e que a espalhou, mais recentemente, para o seu centro de tecnologia, engenharia e desenvolvimento já parece vislumbrar melhores perspectivas para o futuro.
Apesar desse investimento no centro tecnologia ter sido puxado principalmente pelas políticas de desenvolvimento local da Petrobrás e nas perspectivas de expansão do mercado brasileiro, se eles estivessem aguardando as demandas dessa empresa, as perspectivas futuras seriam sombrias.
Desse modo, a equipe do desenvolvimento de produtos tomou a iniciativa de, por conta própria, criar uma melhoria substancial em uma família de produtos existente que a tornará muito mais barata.
Vários clientes em todo o mundo estão muito interessados, e a corporação decidiu tornar a unidade brasileira o centro de desenvolvimento e produção desse novo produto, podendo tornar-se, assim, uma grande plataforma de exportações.
A oportunidade para desenvolver mudanças no produto e reduzir os custos para os clientes neste momento de dificuldades mundiais do setor, com a queda de receitas e rentabilidade de muitas empresas, foi uma oportunidade que pode ser muito bem aproveitada.
A empresa quer, agora, seguir nessa jornada de forma mais intensa e estender a ideia para outros produtos. Isso tenderá a possibilitar novas oportunidades de crescimento de negócios e gerar novos horizontes profissionais para seus colaboradores.
Assim, enquanto que, para muitas empresas do setor de óleo e gás, a crise tem gerado demissões, perdas financeiras e até ameaças à sobrevivência, para outras, poderá significar um momento de novas oportunidades e de expansão dos negócios.
E outro exemplo, desta vez de uma empresa de prestação de serviços médicos, mostra como a busca de melhorias nas operações pode trazer substanciais resultados financeiros e melhorias nos negócios, mesmo nessa conjuntura difícil. Em seu primeiro projeto lean, iniciado no último trimestre do ano passado, resolveram abordar um problema aparentemente trivial, mas que atrapalhava sua gestão e prejudicava o desempenho econômico, que era o problema das perdas e demoras em enviar as guias para cobrar dos planos de saúde o pagamento dos serviços realizados.
Essa empresa demorava de 40 a 60 dias para enviar aos planos de saúde as guias de cobrança. Às vezes, algumas guias se perdiam, inviabilizando até mesmo a cobrança dos serviços prestados.
A partir de um entendimento do processo real e da identificação das causas que atrapalhavam o desempenho, a empresa definiu uma série de ações e novos métodos de gestão, como estruturar o faturamento como linha de produção, simplificar a movimentação de guias, tornar a gestão visual, nivelar a carga de trabalho, treinamentos pontuais, entre outras, que permitiram reduzir o lead time de cobrança em 30% em uma primeira onda de melhorias e deverá levar a uma redução de mais de 70% em uma segunda.
Com isso, não apenas o fluxo de caixa da empresa será tremendamente beneficiado como também os custos internos de gestão diminuirão.
Esses são apenas dois exemplos. Muitas outras oportunidades podem estar esperando que você olhe com uma visão mais crítica e faça algo.
O que você e sua empresa estão fazendo radicalmente diferente para trazer prosperidade a clientes, colaboradores, acionistas e fornecedores em longo prazo neste momento de dificuldades?
O que você está fazendo para agregar mais valor e diminuir desperdícios é o suficiente para enfrentar a crise e sair dela mais forte?
José Roberto Ferro
Presidente
Lean Institute Brasil
PS1. Teremos alguns exemplos semelhantes aos aqui mostrados no II Fórum Lean Rio que acontece em 24/6 na FIRJAN. Apresentações confirmadas: SulAmérica, Grupo D´Or, GlaxoSmithKline, Haga, BBraun, CSA, MAN e Andrade Gutierrez.
PS2. Nosso próximo lançamento é o livro “Liderar com Respeito”, de Freddy e Michael Ballé. Disponível a partir de 22 de abril.
PS3. Para apoiar a formação de lideranças lean, teremos o novo workshop “Liderar com Respeito” no dia no dia 9 de junho.
PS4. Um método para ensinar a liderar com respeito é o “lean coaching”. O LIB desenvolve projetos customizados de apoio à formação de lideranças lean. Para informações, contate [email protected]