Os resultados macroeconômicos dos últimos 4 meses apontam que o país está saindo da recessão. Há uma sensação de alívio para muitos, enquanto para outros o otimismo e as expectativas favoráveis quanto ao futuro se acentuam ainda mais.
Entretanto, esses momentos deveriam nos trazer lições importantes que merecem ser sempre lembradas daqui para frente. Refletindo sobre alguns dos impactos do comportamento de muitas empresas e sobre algumas decisões tomadas durante este período turbulento, notamos algumas diferenças importantes, comparativamente a situações semelhantes do passado.
Uma delas foi a maneira como elas lidaram com a força de trabalho. Em crises anteriores, a política mais comum foi um corte profundo na quantidade de colaboradores para acomodar-se aos novos patamares da demanda. Assim, desta vez não ocorreu uma onda de demissões. Anteriormente, os cortes eram mais profundos justificados pela necessidade de reduzir custos. Agora, ajustes marginais foram feitos em uma ou outra empresa, assim como a liberação de alguns trabalhadores temporários ou terceirizados.
Mas, aparentemente, as empresas parecem que aprenderam a valorizar mais o seu pessoal, constatando a importância da mão de obra direta e gerencial. Pelo visto, reconheceram a relevância do conhecimento específico da realidade da empresa, após anos de aprendizado e de investimento feito tanto no treinamento direto para o trabalho do dia a dia quanto no aumento da habilidade dos colaboradores de resolver problemas, assim como no de idealizar e implementar melhorias. Assim, as pessoas tendem cada vez a mais serem vistas como “seres pensantes” e não apenas como “braços”.
A saída de colaboradores significa uma perda de conhecimento que não é reposto facilmente. Não basta ir ao mercado e esperar gente pronta para atender as necessidades da empresa.
Essa política das empresas, de não realizar cortes profundos em seu contingente de pessoal, acabou ajudando a não acentuar e intensificar o ciclo econômico negativo com a queda na demanda, gerando demissões, queda no emprego e renda e, conseqüentemente, maior queda ainda da demanda. O ciclo recessivo foi assim minimizado. Lembre que a utilização plena das pessoas é mais importante no longo prazo do que a utilização das máquinas (ver artigo “Trabalho da máquina x Trabalho do homem” na Coluna de Gilberto Kosaka).
Outra mudança importante foi o reforço da importância da manutenção de um fluxo de caixa saudável, através da redução do excesso de produção (produção além do necessário, ou antes do necessário), gerando elevados estoques, inadequados para atender a demanda.
E mais uma lição fundamental da crise é que nesses momentos as pessoas estão mais propensas a buscar e a pensar naquilo que realmente é necessário, ou seja, no que efetivamente agrega valor. Embora, ainda a preocupação possa ter sido, na maioria dos casos, uma mera redução imediata de custos, é importante pensar sempre assim, ou seja, focalizar naquilo que realmente é relevante e procurar reduzir ou eliminar aquilo que não é essencial.
Pense sempre e questione todas as atividades realizadas na empresa e se elas interessam efetivamente aos clientes
Estas lições servem igualmente para as empresas que não sofreram impactos negativos com a crise, sendo capazes de manter bons níveis de crescimento neste período por terem nichos favoráveis de mercado, ou porque souberam repensar o valor para os clientes, inovando na busca de soluções.
A retomada do crescimento possivelmente levará muitos a pensar em novos investimentos. Momento propício para que os “arquitetos do fluxo de valor” desenvolvam o seu trabalho (ver artigo “Em busca dos arquitetos do fluxo de valor”, na Coluna de James Womack).
Daqui para frente, esperamos que as empresa tenham ainda maior rigor na hora de contratar pessoas e de realizar investimentos para aumentar capacidade. O conceito de administração “genryo” e a filosofia da linearidade do capital e da força de trabalho detalhado em nosso mais recente lançamento, o “Kaizen Express”, de John Shook e Toshiko Narusawa (disponível a partir de 5 de outubro).
Muitas empresas reforçaram sua confiança na filosofia lean como maneira de enfrentar períodos de baixa e fazer a empresa prosperar. E esses princípios não devem ser esquecidos ou abandonados em tempos melhores e com menores ameaças. Agindo assim, você e sua empresa estarão melhor preparados para quaisquer novas incertezas e turbulências, que certamente voltarão a acontecer.
Pensar lean é adotar um modelo mental que reconhece a permanente escassez de recursos. E ao mesmo tempo, manter o foco nas necessidades dos clientes. Continue administrando como se a crise ainda estivesse presente. Isso pode preparar melhor a empresa para as novas incertezas do futuro.