Se
você seguiu nossa recomendação do
Lean m@il anterior e implementou o Trabalho Padronizado
nas suas operações, parabéns!! Você
deve ter ficado impressionado pela quantidade de desperdícios
que conseguiu eliminar. E possivelmente deve ter notado
ainda melhorias na qualidade, ergonomia e também
percebido que agora os problemas tornam-se mais visíveis
e exigem respostas mais rápidas.
Então,
o que fazer em seguida? A resposta óbvia parece
ser “melhorar” o padrão conseguido.
Mas cuidado. Pare um pouco e pense nessa nova situação.
Tenha um pouco de paciência e verifique se os processos
estão sob controle. Por que?
Pode
ser que muitas de suas operações estejam
em constante instabilidade por problemas nos equipamentos,
materiais, métodos ou pessoas. E com isso, o esforço
para instituir o Trabalho Padronizado tende a se perder.
Vamos
tratar então do próximo passo que deve ser
o de garantir a estabilidade. Problemas
devem surgir e será necessário responder
a eles antes de se aventurar no fascinante mundo da melhoria
contínua. Esses problemas vêm de duas frentes,
uma interna à sua organização e a
outra externa.
Vamos
olhar para a fonte dos problemas internos. As máquinas
podem quebrar, problemas de qualidade novos e inesperados
podem surgir, pessoas vão ter dificuldades em seu
trabalho, o pessoal de apoio pode não reagir na
velocidade necessária, materiais podem não
chegar na hora e qualidade certas etc. Assim, será
preciso ter um elenco de respostas como, por exemplo,
melhorar a manutenção e a disponibilidade
das máquinas, identificar “poka-yokes”
e outros dispositivos de baixo custo para não deixar
que os problemas de qualidade ocorram, estabilizar as
trocas para garantir o tempo pré-estabelecido,
implementar um novo tipo de organização
interna no chão da fábrica, a começar
do líder da equipe que deve estar o mais próximo
possível dos operadores para ajudá-los em
caso de problemas pois o operador precisa estar o tempo
máximo possível criando valor para o cliente
e ter o suporte necessário para isso.
O
fascinante desse enfoque é quase sempre liberar
capacidade produtiva antes não aproveitada e assim
atender à necessidade de eventuais incrementos
de demanda, sem aumentar os desperdícios na utilização
dos recursos.
E
isso é muito importante pois as condições
da demanda estão sempre mudando, uma importante
fonte de instabilidade externa. Nesses últimos
meses, por exemplo, houve um crescimento nos volumes de
produção da maioria das empresas no Brasil,
possivelmente inclusive na sua. Ao aumentar a produção,
o “takt time” em princípio deve diminuir
(tempo disponível de trabalho/ volume da demanda)
e assim, mudar as condições básicas
do Trabalho Padronizado. Ou seja, o esforço realizado
seria perdido pois, como sabemos, o Trabalho Padronizado
se baseia no “takt time”. E assim, vai ter
que se começar tudo de novo.
Então
a saída é não aumentar os volumes
de produção e perder oportunidades? Também
essa não é a alternativa. O esforço
nessa situação deve ser proteger ao máximo
o “takt time” das incertezas e volatilidades
externas. Uma coisa é um súbito e repentino
soluço e a outra é uma sólida e persistente
melhoria nas condições do mercado. E além
disso, se as vendas não forem niveladas, essa turbulência
será amplificada.
Há
varias formas de fazer isso e ao mesmo tempo aumentar
o volume de produção. Uma é aumentar
a capacidade através do uso de horas extras temporárias
até o soluço passar. A outra é iniciar
um sério esforço de nivelamento das vendas.
Se isso, não for suficiente, então é
hora de pensar em uma decisão mais séria,
ou seja, é preciso reduzir o “takt time”
para produzir mais já que o ritmo das vendas aumentou.
Muitas
vezes a instabilidade das operações deve-se
ainda a falta de resposta adequada dos fornecedores que
entregam com atrasos, com problemas de qualidade etc.
Na verdade, muitas vezes isso ocorre por deficiências
internas na forma de programar (estabilidade da programação,
nivelamento etc) e de demandar materiais através
de informações confiáveis enviadas
aos fornecedores.
Em
resumo, garantir a estabilidade é proteger as operações
das instabilidades externas conjunturais da demanda ou
criadas artificialmente por sua organização
de vendas e marketing, além de também atuar
firmemente na causa raiz dos problemas internos de produção.
Só
quando isso acontecer estará na hora de pensar
no Kaizen.
José
Roberto Ferro
Presidente
Lean Institute Brasil
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