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Lean para ajudar o desenvolvimento regional: o exemplo do Nordeste

Lean para ajudar o desenvolvimento regional: o exemplo do Nordeste

Um dos problemas mais relevantes do país é a desigualdade regional, pois certas áreas geográficas possuem um nível de desenvolvimento significativamente maior do que outras. Nos últimos anos, tem havido um esforço para reduzir esta diferença. Mas não basta aproveitar subsídios fiscais ou mão-de-obra barata. É preciso pensar lean. Tomemos como exemplo o Nordeste.

Uma combinação positiva de fatores como a expansão da renda via programas sociais do governo federal, governos estaduais fiscalmente mais responsáveis e novos investimentos na infra-estrutura estão sendo conjugados para permitir um maior crescimento da economia regional. Mas, ainda mais importante, tem sido o aumento dos investimentos produtivos na região, tanto em termos de indústrias intensivas em mão-de-obra, como calçados e confecções (aproveitando salários menores), como no agro-negócio e extração mineral.

Entretanto, essas não devem ser vantagens comparativas duradouras, pois esperamos que os salários na região aumentem ao longo do tempo e que também os recursos governamentais possam ser utilizados na criação de infra-estrutura e melhorias dos serviços básicos, tais como saúde e educação.

Nesse sentido, uma das mais importantes mudanças para permitir um desenvolvimento regional efetivamente sustentado é a adoção dos princípios lean. Citaremos alguns casos do Nordeste, em diferentes setores da economia, por exemplo indústria automotiva, alumínio e construção civil.

Um dos primeiros projetos em que o Lean Institute se envolveu foi apoiar a implementação dos conceitos lean no novo complexo da Ford em Camaçari-BA. O investimento da Ford e de seus principais fornecedores (25 diretos) chegou a mais de R$ 1,5 bilhão para a montagem de produtos, com elevado valor agregado e alta tecnologia. O investimento foi viabilizado graças a um substantivo pacote de estímulos e incentivos fiscais.

O sucesso conquistado é inegável. O site produziu mais de 830.000 veículos desde 2002, ano da inauguração do complexo, sendo responsável por quase 10% do total de veículos produzidos no país, e representou 15% do total de exportações do Estado da Bahia.

Mas este extraordinário resultado não foi conseqüência apenas dos subsídios fiscais. Além de produtos adequados para o mercado brasileiro, também se fez o esforço de usar os mais avançados conceitos lean para a produção de veículos. A fábrica baiana da Ford tornou-se assim uma das mais eficientes plantas montadoras de automóveis do mundo.

A intenção da Ford encontrou muito ceticismo nas regiões industriais mais tradicionais do país, pois não se acreditava que os trabalhadores baianos fossem responder ao desafio de produzir com eficiência. Com muito treinamento e a ajuda de engenheiros e gerentes com experiência em produção automotiva, este complexo foi responsável pelo retorno da Ford aos lucros no Brasil.

Outro exemplo, em um setor dependente de recursos naturais é o da Alumar, produtora de alumínio e alumina em São Luis, Maranhão, e um dos maiores investimentos no Nordeste. O sistema de gestão é avançado, baseando-se no Alcoa Business System, inspirado na Toyota.

E finalmente, mesmo em um setor tradicional como o da construção civil, tem havido um esforço na implementação da filosofia e das ferramentas lean. Diversas empresas de construção do Ceará servem como referência internacional, aplicando de forma pioneira os conceitos lean na construção de edifícios em Fortaleza, com significativa redução de prazos de entrega e custos.

Acreditamos que o Sistema de Gestão Lean pode ajudar as empresas da região a dar um salto em seu desempenho e a criar um desenvolvimento sustentado, reduzindo dramaticamente os custos, melhorando a qualidade, atendendo melhor os clientes e ajudando a crescer as vendas e os resultados financeiros.

Por exemplo, a aplicação dos conceitos de Logística Lean entre fornecedores e clientes através do “milk run”, no qual o cliente retira os produtos em diferentes fornecedores com um único caminhão, otimizando o fluxo e reduzindo estoques através de entregas mais freqüentes em menores lotes. Outro conceito importante é a “reposição de produtos puxada pelo consumo real”, que evita grandes estoques e falta de produto por erros de previsão. E os almoxarifados podem ser transformados em cross docks.

A Logística Lean pode ser muito útil, pois o possível aumento da demanda regional tende a atrair investimentos no setor de bens de consumo não duráveis, os quais vão requerer conceitos de logística mais eficazes já que na região há uma maior capilarização da rede de varejo. Além disso, com freqüência, a base de fornecedores fica fora da área e mercados importantes estão distantes, nas regiões Sudeste e Sul.

Os próximos anos abrirão uma enorme oportunidade de desenvolvimento econômico e industrial para o Nordeste. Os novos investimentos em infra-estrutura na região, prometidos pelo PAC para melhorar e expandir o sistema de transportes (rodoviário, ferroviário e marítimo), ajudarão a reduzir os custos para as empresas e facilitar a implementação da logística lean.

As empresas da região terão a oportunidade de conhecer mais sobre os conceitos lean no II Fórum Lean Nordeste, que acontecerá em Fortaleza nos dias 22 e 23 de maio. Neste evento, empresas metalúrgicas, da construção civil, de calçados e de processo apresentarão os resultados atingidos após a prática dos conceitos. Haverá também sessões conceituais para ensinar a implementação dos conceitos lean, assim como workshops práticos em empresas.

Esperamos com isso contribuir para o fortalecimento da comunidade lean do Nordeste.

José Roberto Ferro
Presidente
Lean Institute Brasil



Publicado em 01/05/2007

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