Parece haver uma opinião forte e generalizada de que os presidentes são importantes na transformação lean. Há alguns que até acham que eles seriam imprescindíveis e que, sem o engajamento e o envolvimento deles, não é mesmo possível começar.
Ou seja, não seria possível realizar a transformação sem a concordância e mesmo o seu envolvimento direto.
Certamente eles são essenciais. Mas talvez não necessariamente do jeito que imaginamos.
Será que ele são tão importantes assim? Qual é sua real importância? Como eles deveriam contribuir? Será que basta ter o envolvimento e o engajamento direto deles?
Em primeiro lugar, seria possível começar sem eles? A resposta é claramente sim.
Ao longo de nossa jornada disseminando lean no Brasil, temos notado, cada vez mais, o engajamento e a participação dos presidentes desde o inicio da transformação. Mas também temos testemunhado a luta de pessoas no meio da organização querendo convencer os dirigentes a iniciar.
Porém, a maneira de convencer por excelência é fazendo alguma melhoria e mostrando o resultado. Tentar convencer racionalmente a um presidente, mesmo usando exemplos de outras empresas, não tem tanto poder quanto o fato de se mostrar resultados concretos em sua organização.
Recentemente, um contador de um hospital comentou sobre sua frustração ao tentar convencer o seu presidente. Sugeri a ele que procurasse um problema ou fluxo importante na organização, fizesse um mapa da situação atual, identificasse oportunidades e implementasse as ações com a colaboração do pessoal diretamente envolvido. Que tal melhorar a farmácia do hospital (armazenagem de remédios e entrega aos pacientes)? Ou porque não olhar para a lavanderia, desde a saída da roupa suja dos leitos e instalações hospitalares até o seu retorno ao uso, após ser lavada e passada?
Após uma implementação inicial, mostrar os resultados e convencer pode ficar mais fácil. Não é garantido, pois dirigentes focalizados essencialmente em números muitas vezes têm dificuldade em perceber o beneficio de melhorias efetivas em processos. Mas não desista. Nessa etapa inicial, você ganhará adeptos e multiplicará o interesse.
Imagino que muitos acham que só é possível começar com o apoio do presidente porque os princípios do modelo autoritário de gestão são tão fortes e enraizados no nosso inconsciente que acreditamos que nada pode acontecer se não vier de cima. Esse conceito “top-down” do comando e controle nos faz crer que as coisas importantes da empresa só podem acontecer se o presidente estiver envolvido.

O presidente não pode ser visto como e nem deve se considerar o salvador da pátria. Deve ser capaz de formar uma equipe forte, que significa literalmente todos os colaboradores da empresa. E estimular a iniciativa das pessoas.
Por outro lado, o envolvimento forte do presidente não é garantia de sucesso. Talvez o modelo autoritário possa ser útil para começar a transformação, para desafiar a tirar a organização da zona de conforto. Porém, em um segundo momento, pode ser um fator de desestímulo.
Temos visto empresas lean maduras que trazem um presidente de fora (não tão lean assim ao não ser capaz de formar o sucessor internamente) que, às vezes, tentam mudar o sistema de gestão. Mas, como o sistema lean estátão forte e enraizado, o máximo que ele pode e consegue fazer é melhorar algum aspecto marginal, mantendo a essência do sistema. O novo presidente se ajusta e aprende, mas quase atrapalha.
Cada vez mais é minoria a situação do presidente que não sabe o que a transformação lean significa e quais são seus benefícios. Como normalmente eles gostam dos resultados, querem apoiar e começam a se envolver fortemente, mas o fazem com o modelo mental tradicional. E podem se tornar um elefante em uma sala de cristais.
O estilo de gestão autoritário enraizado pode atrapalhar. Podem ir ao gemba, mas acabam – muitas vezes sem querer e perceber –intimidando, pois não sabem ouvir, não sabem perguntar e não estimulam as pessoas a tomar a iniciativa. Buscam culpados, o que reforça o encobrimento de problemas e não permite uma maior transparência.
Poucos presidentes das empresas tradicionais lideram e apoiam efetivamente, na empresa toda, com uma nova filosofia de gestão, dando exemplo, entendendo os princípios da liderança lean, mesmo que intuitivamente. Esses vão ao gemba naturalmente, sabem ouvir e perguntam mais “porque” do que procuram culpados, estimulam o trabalho em grupo e o engajamento de todos. Desafiam a empresa a melhorar sempre. E assim, a transformação lean ocorre quase que naturalmente, com grande vigor.
Há presidentes que não se interessam desde o inicio por não conhecer os princípios, por achar que as atuais práticas de gestão vão levar aos resultados esperados ou por estar em uma zona de conforto.
Ainda existem os presidentes que dizem que apoiam a transformação lean,“deixando” ela acontecer, e permitindo que se aloquemos recursos necessários. Os resultados favoráveis, se a transformação for orientada para a resolução de problemas do negócio, e não focalizada na implementação de ferramentas pura e simplesmente, tendem a atraí-lo.
Tem aumentado cada vez mais o presidente engajado. Trata-se de um bom sinal que precisa agora ser orientado adequadamente para que essa contribuição seja construtiva.
É fundamental, porém, mudar a maneira de pensar e permitir que o modo de pensar e a maneira como todos fazem o seu trabalho na empresa mude completamente. E, para isso, o presidente será essencial.
E, se ele se engajar, devemos procurar orientar esse envolvimento o quanto antes para que a organização dê um salto de desempenho em bases sólidas e tenha um progresso permanente, sem retrocessos, através das atitudes e comportamentos certos.