Não é apenas a profunda recessão econômica atual, com a queda substancial dos mercados e a compressão das margens de lucro na maioria dos setores, que está prejudicando a indústria instalada no país.
Há anos vem caindo a participação da indústria na economia brasileira. Os “sócios” dessa atividade tem contribuído para esse declínio.
A atividade industrial é fundamental porque agrega valor e gera riquezas para o país. Ou seja, ela transforma matérias-primas em produtos acabados.
E quais são esses dois "sócios" principais da nossa indústria?
São os governos, em suas diferentes esferas, e o setor financeiro.
Os governos não apenas ficam com a parcela mais importante do faturamento das empresas, através de dezenas de impostos, o que já seria o maior custo. Como se não bastasse, isso ainda gera enormes custos adicionais, ocasionados por toda a estrutura administrativa necessária para que a companhia consiga pagar as contribuições tarifárias.
Pois esse sócio, que fica com a maior parte dos resultados, deveria retribuir com serviços essenciais de qualidade, como transporte, educação, saúde etc., além de uma estrutura adequada para o crescimento da economia.
O que vemos, porém, é uma imensa incapacidade desse sócio de prover qualquer valor. Tanto é que boa parte desses serviços dos governos, quando existem, são “duplicados” pelas empresas privadas, como na saúde, com planos privados, na educação, com programas internos de capacitação e qualificação devido à baixa qualidade da formação da mão de obra... E os custos adicionais de logística externa (portos, estradas, aeroportos etc.), que são exorbitantes e crescentes.
O outro “sócio” importante é o setor financeiro, que cobra taxas de juros exorbitantes, drenando recursos que poderiam ser utilizados em atividades mais produtivas, como desenvolvimento de novos produtos, busca de novos mercados etc.
Tanto que os bancos brasileiros estão entre os mais rentáveis do mundo, com lucros bilionários, enquanto que o setor industrial mingua.
Dentro deste cenário, quais alternativas tem a indústria?
Uma delas, trilhada por um número crescente, embora ainda pequeno de empresários, é o esforço de melhoria da eficiência operacional e da capacitação gerencial. Isso traz resultados substanciais no curto prazo, muitas vezes, capazes até de compensar as dificuldades atuais.
Estive recentemente em um evento promovido por uma federação estadual de indústrias para tratar exatamente desse assunto e ouvi informalmente de um empresário que outras alternativas também estavam sendo pensadas e tentadas.
Uma delas é sair do Brasil.
Conheci um empresário brasileiro de biotecnologia que atua no Paraguai. Ele mostrava-se entusiasmado com os baixos impostos, baixos custos de energia e de mão de obra que, segundo ele, compensam os problemas de logística, qualidade de trabalho etc.
Também conversei com outro que está em processo de mudança para os Estados Unidos, onde, segundo ele, tem encontrado um ambiente de negócios extramente favorável e também em termos de qualidade de vida para ele e a família.
Alguns dos empresários mais bem-sucedidos e reconhecidos do país já saíram do Brasil há tempos e realizam seus negócios globalmente.
Há ainda a prática ilegal, mas antiga e disseminada, de sonegação de impostos. Muitos crêem que, no Brasil, pagam impostos corretamente apenas os pequenos e médios.
Um país não pode ter sucesso se não contar com uma atividade produtiva forte. Muitos serviços têm uma atividade produtiva-industrial. Por exemplo, um restaurante é um serviço, mas tem componentes de produção industrial: o processamento dos alimentos e a produção dos pratos.
Se quisermos ter um país desenvolvido, será necessário aproveitar e maximizar o potencial da indústria que já conseguimos desenvolver ao longo de décadas. E crescer em novos setores.
Será um enorme retrocesso perder isso.
Uma eventual retomada do mercado doméstico ou mesmo a possível ampliação das exportações, tendo em vista a desvalorização da moeda, tende a não resolver alguns dos problemas estruturais do nosso parque indústrial.
Nossa indústria precisa poder “respirar” para voltar a crescer com vigor e solidez. Mas os “sócios" precisam parar de atrapalhar e passar a ajudar. Quem produz riqueza e valor precisa ser reconhecido e apoiado.
Fonte: Revista Época Negócios