Se formos examinar as definições de propósito, missão, visão e valores das empresas, jamais encontraremos qualquer declaração dizendo, por exemplo, que se procura ganhar o máximo de dinheiro possível, pouco se importando com os meios ou como isso ocorre.
As revelações divulgadas sobre a prisão dos presidentes de algumas das mais importantes companhias do país envolvidas na Operação Lava Jato mostram que, segundo a Justiça, eles teriam se envolvido diretamente na organização de cartéis para ganhar licitações públicas bilionárias.
O sucesso nesses negócios, entenda-se por vencer licitações públicas, seria possível, segundo as investigações, com a distribuição de propinas para vários atores da esfera pública, tanto no poder executivo, legislativo e de gestão das empresas públicas. Mas também implicaria na geração de faturamentos e lucros extraordinários para as companhias envolvidas, o que não seria possível sem esses esquemas ilegais.
Frequentemente, há problemas de ilegalidades cometidos nas mais diversas empresas, mas, geralmente, são resultado de ações individuais que ocasionam em punições e, quase sempre, em melhorias nos processos de gestão, quando ocorre o que internacionalmente se denomina compliance – processo pelo qual a companhia se adequa às normas legais, por exemplo, dos órgãos reguladores de onde atua.
Independente do resultado dos processos legais em curso, essa situação nos permite refletir sobre ocorrências frequentes no Brasil em que empresas se envolvem em atividades questionáveis com o intuito de maximizar seus resultados financeiros. Essa realidade parece revelar que algumas companhias têm como objetivo real – embora não explícito, mas traduzido por práticas concretas – a busca pelos melhores resultados financeiros possíveis, independentemente dos métodos utilizados.
Não se trata, porém, de pensar ou mesmo aceitar que “os fins justificam os meios”. Trata-se de questionar os fins, ou seja, de refletir sobre qual é, afinal, o objetivo de uma empresa. Se assumirmos que o propósito de uma companhia é ganhar o máximo de dinheiro possível, criamos uma distorção enorme que, no limite, gera esse tipo de comportamento mencionado.
Acreditamos que o propósito essencial de uma empresa é agregar valor aos seus clientes, entregando produtos com elevada qualidade a um preço adequado. Esse esforço vai ser recompensado pelos clientes, o que acabará remunerando os acionistas e colaboradores, permitirá a reversão de recursos acumulados sob a forma de lucros na própria companhia em novos produtos, maior volume de produção e melhorias que permitirão seu crescimento continuado.
Assim, o propósito da empresa deveria ser o de fornecer o máximo de valor aos seus clientes. Muitas empresas dizem isso explicitamente em declarações públicas. Mas a realidade mostra frequentemente a busca por fusões e aquisições para criar situações de monopólio, aumentando a fatia de mercado e os preços. Ou buscam a proteção dos governos com mecanismos para reduzir a competição ou ainda com a solicitação de recursos financeiros com juros subsidiados.
Ou ainda quando há mudanças nos produtos reduzindo a quantidade de produto oferecido com os mesmos preços, como mencionei na coluna “Socorro, o produto encolheu!”.
Um controle do Estado sobre a prática das empresas para garantir sua legalidade e colocando os interesses da sociedade e dos consumidores em primeiro lugar é fundamental.
Mas se as empresas focalizassem seus esforços em desenvolver e entregar produtos e serviços de boa qualidade, procurando fazer, sempre que possível, apenas aquilo que interessa aos seus clientes, seria um caminho essencial para conquistar, também, bons resultados financeiros satisfatórios, sem precisar recorrer a métodos e práticas não adequadas.
A definição do propósito com foco no valor para o cliente e a busca pelo máximo de efetividade para atingir o propósito definido são os caminhos para o sucesso, tanto econômico quanto social, das empresas.
Fonte: Revista Época Negócios