“Em São Paulo se trabalha, e no Rio se diverte”. Esse é um estereótipo antigo que sugere como as coisas seriam em São Paulo e no Rio de Janeiro. As causas comumente apontadas seriam ao menos duas. De um lado, geográficas, pois a beleza natural do Rio permitiria uma conexão maior com praias, montanhas etc., enquanto, em São Paulo, haveria falta de locais naturais para o lazer. De outro, históricas, na medida em que o Rio dependeu muito do governo federal enquanto foi a capital do país até os anos 60. E São Paulo se constituiu como centro industrial, econômico e gerador de valor, entre outras possíveis razões.
Em parte, o estereótipo encontra algum reflexo na percepção real quando as pessoas de uma das cidades visitam a outra e percebm significativas diferenças no desempenho e qualidade de certos serviços, quer sejam transporte, hotéis, restaurantes, hospitais, por exemplo. Desde a mudança da capital federal para Brasília, a economia do Rio vinha decaindo. A transferência dos escritórios do governo federal (executivo, legislativo e judiciário) fez com que o Rio perdesse muito poder econômico e político.
Além disso, algumas empresas saíram do Rio, em grande medida por questões de segurança. O turismo declinou, os investimentos em infraestrutura definharam, a gestão pública se degradou. Apesar de ainda manter a sede de algumas empresas federais importantes, como a Petrobras e o BNDES.
A recuperação econômica do Rio começou há cerca de duas décadas com a chegada de alguns investimentos no setor automotivo e, mais recentemente, com o “boom” do setor de petróleo, agora em cheque pelas dificuldades da Petrobras como também pela redução internacional dos preços do petróleo.
No ano que vem, o Rio estará na vitrine do mundo com a realização da Olimpíada. Até lá, serão inauguradas inúmeras obras para melhorar a infraestrutura da cidade, como novas estações do metrô, pontes, túneis, museus e instalações esportivas. Porém, será que esses investimentos serão suficientes para impulsionar a economia do Rio pós-Olimpíada? O turismo será revigorado o suficiente pela exposição da cidade à mídia mundial? E os investimentos realizados em infraestrutura serão suficientes para permitir que o Rio alce novos voos?
Cremos que esses potenciais benefícios não serão suficientes para elevar a economia do Rio a um novo patamar, mesmo que o país se recupere em breve. A história recente das grandes corporações mundiais tem mostrado que é possível atingir elevados níveis de desempenho até em ambientes onde não há uma forte cultura de eficiência, produtividade e qualidade, quer sejam países ou regiões. Basta ter um sistema de gestão sólido.
Desse modo, acreditamos que a melhoria na gestão poderá levar as empresas do Estado a um novo patamar de desempenho. Uma melhor gestão é o caminho para levar a economia do Rio adiante. Não bastam investimentos ou mesmo recursos financeiros. Sem um sistema de gestão sólida, não há futuro, como mostra o caso Eike Batista, cujas empresas conseguiram a proeza de levantar uma massiva soma de recursos, mas que, mal gerenciados, levaram à falência várias empresas de sua propriedade.
O Lean Institute Brasil vai realizar o II Fórum Lean Rio, no dia 24 de junho, em parceria com a FIRJAN (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), em que o futuro da economia do Rio estará em discussão à luz do sistema de gestão lean. Estarão presentes algumas das empresas mais importantes do estado, através da participação de seus mais importantes executivos, em uma mesa redonda intitulada “Lean e o futuro da economia no Rio”.
Estarão debatendo o tema, por exemplo, Adilson Dezoto, vice-presidente da MAN-VW, líder do setor de caminhões e ônibus, cuja fábrica em Resende representou um dos mais revolucionários conceitos de produção das últimas décadas no mundo. Também Otto Braun, diretor-presidente da BBraun, empresa que recentemente reservou investimentos de R$ 346 milhões em uma nova unidade da fábrica em São Gonçalo.
Paulo Couto, vice-presidente da FMC Technologies, empresa líder mundial em produção de equipamentos para a extração de petróleo no fundo do mar, com fábrica em Pavuna, centro de tecnologia no Fundão e unidade de serviços em Macaé. Walter Medeiros, presidente da ThyssenKrupp, que representa o maior investimento na indústria do Rio na última década. E Charles, diretor industrial da GlaxoSmithKline, umas das maiores empresas farmacêuticas do mundo, com a unidade brasileira localizada em Jacarepaguá.
Todas essas empresas já perceberam como o sistema lean melhora substancialmente seus desempenhos. Além dessa mesa redonda, serão apresentados casos de empresas instaladas no Rio, como o Grupo D´Or, RioSaude, SulAmerica, Haga, Dudalina e Andrade Gutierrez.
A melhoria da qualidade da gestão no Rio poderá ser o fator propulsionador do crescimento da economia no futuro. Algum esforço de profissionalização da administração municipal e estadual já tem ocorrido.
O sistema lean poderá ajudar muito nessa direção. E, assim, com uma gestão sólida, não haverá estereótipos que se sustentem muito tempo. O Rio poderia se tornar um local excelente para se trabalhar produtivamente e viver com alta qualidade.
Fonte: Revista Época Negócios