Suponhamos que você vá ao supermercado em busca do seu produto favorito, aquele de que tanto gosta ou com o qual já se acostumou. Então, você encontra o produto que queria: você é o “sonho” de muitas empresas, você é o consumidor fiel!
Daí, no supermercado, você simplesmente se aproxima da prateleira e – muitas vezes, mecanicamente, sem refletir muito sobre esse ato – pega o seu produto preferido. Eis, então, que você finalmente percebe: o produto encolheu!
A embalagem, muitas vezes, é do mesmo tamanho. Só que lá dentro, falta produto e “sobra” espaço na embalagem. Um produto que antes tinha 100 gramas, agora tem 85. Outro tinha 200 ml, mas já não passa mais de 190 ml...
É claro que em tempos de muita competição, as empresas precisam reduzir seus custos e manter ou, quando possível, subir seus preços para assegurar as margens de lucro.
Mas quando as companhias diminuem o tamanho do produto, mas mantêm o mesmo preço sem informar essa operação de forma clara ao cliente, além do risco de serem enquadradas na legislação de proteção ao consumidor, que prevê punições contra “maquiagem de produto”, tais empresas ainda podem sofrer consequências ainda mais prejudiciais e que podem colocar em risco o futuro da organização.
É preciso saber que quando uma empresa faz isso, ela está também “entregando menos valor ao cliente”. E isso pode ser muito mais danoso!
Empresários e executivos precisam entender que cada vez mais, no ambiente hipercompetitivo do mercado globalizado, a principal força que faz e fará empresas obterem sucesso será sua capacidade em gerar e entregar “valor” aos clientes.
É simples assim: companhias que criam cada vez mais “valor” e entregam isso adequadamente aos consumidores, pelo preço mais competitivo possível, são as que sobreviverão e ganharão mercado.
Podemos definir “valor” como um “conteúdo inerente de um produto ou serviço”, sempre segundo o julgamento a quem interessa: o cliente. Ou seja, valor é aquilo que o cliente está disposto a pagar pelo que adquire. O valor de cada produto é refletido em seu preço de venda e é sempre criado pelo fabricante e/ou produtor.
Nesse sentido, é um tanto absurdo descobrir que o produto “encolheu”. Como vem ocorrendo com barras de chocolate, bombons, iogurtes, barras de cereal, bolachas e uma série de outros produtos alimentícios. Também com aparelhos e cremes de barbear, desodorantes... E até com papel higiênico!
Empresas que se utilizam desse expediente precisam saber que estão indo na contramão do que acreditamos ser o propósito das companhias.
O pensamento lean visa criar condições dentro da organização para que ela crie e entregue o maior valor possível ao cliente. O sistema lean faz isso ao eliminar, nos processos produtivos, as atividades desnecessárias e todo tipo de desperdício, ao mesmo tempo em que preserva e aumenta as ações que criam e entregam o valor.
Infelizmente, isso não é o que está ocorrendo recentemente com diversos produtos. Reduzir o tamanho dos produtos mantendo os preços para manter ou obter mais lucro pode ser uma estratégia que até “funcione” inicialmente, ao se considerar que a maioria dos clientes pode não perceber de imediato a “estratégia por comprarem por impulso e de forma distraída.
Alguns consumidores, porém, certamente se sentirão frustrados e enganados.
Eu, por exemplo, que sou consumidor assíduo de barras de cereal, acabo de mudar de ideia sobre a minha até então “tradicional” marca de que tanto gostava. Além de encolher, a qualidade piorou. E o preço manteve-se o mesmo de sempre. Com tantas opções nas gôndolas, vou experimentando outras marcas. E sempre que posso, em viagens para fora do país, trago algumas na mala.
Ou seja, ao pensar apenas do ponto de vista dos negócios, não se engane: diminuir o produto e manter o preço sem ser transparente é estratagema, o que acarreta mais contras do que prós no longo prazo. Os consumidores vão perceber.
Fonte: Revista Época Negócios