Para ocupar posições de liderança no mundo empresarial, sabemos que é recomendável ter um conhecimento na área em que se atua, o que envolve saber sobre os produtos e os processos específicos da empresa, assim como seus clientes, sobre motivar e engajar as pessoas, sobre finanças etc. Para assumir tais posições, é demandada também uma experiência adequada.
Isso porque as empresas querem e precisam dos melhores resultados possíveis, pois sabem que a concorrência está cada vez maior. Assim, procuram promover e escolher os líderes mais bem qualificados e competentes.
E no mundo da administração pública brasileira? Como isso funciona?
Vejamos o caso paradigmático do Ministro de Educação, cargo que se encontra vago, pois seu ocupante acabou de ser demitido em menos de três meses no cargo. O governo federal havia definido que a educação seria uma das prioridades. Quais deveriam ser as qualificações necessárias para ser um bom ministro?
Um conhecimento específico em educação e políticas educacionais parece ser necessário, assim como uma capacidade de gestão dos recursos existentes, de modo a potencializar os resultados esperados.
As principais diretrizes deveriam ser estabelecidas durante o processo eleitoral, e o ministro deveria, em princípio, ser capaz de implementar as políticas e conquistar os resultados esperados no sentido de melhorar o desempenho do sistema educacional brasileiro, sabidamente muito abaixo dos padrões mundiais.
A enorme quantidade de ministérios, que saíram de 12 em 1990 e chegaram a 39 no governo atual, torna a gestão pública extremamente complexa e ineficaz. As dificuldades de definição de prioridades, a fragilidade no acompanhamento da execução, entre outros fatores, tornam o setor público muito gastador e pouco realizador, exatamente o contrário do que deveria ser uma boa gestão.
Mas igualmente importante é a capacidade e a qualificação de seus ocupantes. Para que serve um Ministério específico da Pesca e Aquicultura? E mais, será adequada a qualificação do jovem atual ministro que parece estar vinculada ao fato de seu pai ser um conhecido político no norte do país?
Ou o que dizer da Secretaria de Portos, cujo ministro é advogado, professor, com vários mandatos como deputado federal? Mas qual é a experiência comprovada nessa área tão importante, estratégica e altamente complexa que é a dos portos?
E ainda o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, cujo ministro se mostrou historicamente pouco afinado com as demandas e tendências globais nessa dinâmica área?
Estendo ainda o questionamento ao titular do Ministério do Esporte, um radialista, apresentador de TV e também teólogo, cuja real experiência com o mundo dos esportes é desconhecida.
Praticamente, não há ministros com experiência em gestão no setor privado, a atividade econômica que gera riqueza e agrega valor, permitindo que a geração de impostos sustente o setor público. Difícil assim imaginar que eles possam entender os métodos e processos que deveriam utilizar para tornar a gestão pública mais eficiente.
Claro que todos sabemos que há uma enorme tradição nos governos brasileiros de fazer indicações muito mais “políticas” do que técnicas para as lideranças dos primeiros escalões de governos. Trata-se, porém, de um dos erros mais básicos da gestão pública brasileira.
A questão, porém, é que é preciso mudar essa mentalidade. Ela deveria ser pautada pelo conhecimento gerencial e técnico comprovado para permitir que se priorize e se execute as ações previstas de interesse público. E não mais “simplesmente” pelo “currículo” político.
Só assim, teremos governos com gestão mais avançada, assim como as maiores e melhores empresas do Brasil e do mundo, que trarão resultados que remuneram todos esses gestores e dos quais os cidadãos contribuintes de impostos poderiam se orgulhar.
O que se vê ano após ano são obras inacabadas, projetos concluídos totalmente fora do prazo ou do orçamento, desperdícios para todos os lados. A continuar assim, o país não conseguirá competir em um mundo onde as novas tecnologias e o conhecimento são cada vez mais centrais.
E seguiremos sendo o país onde milhões continuarão ativamente nas ruas, frustrados com a pouca competência e pouca capacidade de realização de seus principais líderes públicos.
Fonte: Revista Época Negócios