Política não é igual à gestão das empresas. É evidente. Todos sabemos disso. Mas muitos dos princípios gerenciais que são vitais para o sucesso corporativo poderiam ser aplicados igualmente ao mundo mais complexo e abrangente da política.
Empresas prosperam ou ficam estagnadas e morrem. Por sua vez, países também prosperam, mas podem ficar estagnados e minguar. É uma opção. As sociedades e suas lideranças escolhem.
Há sempre interesses divergentes nas empresas (departamentos, setores, níveis hierárquicos etc.). E também há interesses diversos na sociedade que precisam ser conciliados e tornados transparentes.
Para garantir uma mudança bem sucedida na empresa e na sociedade, podemos definir um processo, ou uma série de etapas, que nos ajudarão a navegar nessas ondas que podem ser turbulentas.
Tudo começa com a definição de um norte, onde queremos chegar juntos. E, com isso, deve vir uma identificação clara e reconhecimento de onde estamos, com base em fatos e dados. Assim, define-se o gap, ou seja, a distância ou diferença de onde nós estamos e aonde queremos chegar. Mas tudo começa com o reconhecimento da realidade de forma objetiva, como ele realmente é e não como gostaríamos que ela fosse.
Esse passo inicial no mundo da política deveria servir para buscar entender onde estamos sob a ótica social, econômica, política, cultural etc. Depois de entender onde estamos nos aspectos que definiremos como os mais relevantes para o país (por exemplo, nível educacional, mortalidade infantil, renda per capita, níveis de segurança, distribuição de renda, taxa de inflação etc.), poderemos traçar aonde vamos chegar nesses itens. Mas não é possível focalizar em tudo. Devemos definir as poucas e fundamentais prioridades.
Essa etapa ainda não foi cumprida no país. Não se define claramente onde estamos. Quem está de um lado tende a dizer que “tudo está bem”, sem um esforço mínimo de quantificar e também com uma enorme carga de mistificação que camufla a realidade. Enquanto isso, quem está do outro lado tende a dizer que “tudo está mal”, mas igualmente não consegue convencer muita gente com os argumentos e dados claros, particularmente das causas e do que deveria ser feito.
Porém, se partidos e lideranças sérias forem consultados, é bastante provável que haja um grande consenso sobre onde estamos e onde queremos chegar, o que fica escondido na espuma da micropolítica eleitoral.
Em seguida, o próximo passo é entender com profundidade as causas, os porquês de estarmos onde estamos. Buscar os culpados, tal ou qual governo, ou apontar os dedos para indivíduos não vai resolver. Devemos aprender com erros e acertos, buscar as causas dos problemas, os obstáculos que poderemos enfrentar na busca de se chegar à situação-alvo desejada. Essa etapa é mais difícil ainda. O uso da razão, da ciência, dos dados e fatos é vital para o sucesso dessa etapa.
A partir daí, pensar em várias alternativas e saber ouvir os envolvidos para ser capaz de acomodar os múltiplos interesses e visões é essencial.
Finalmente, assim, deve-se construir um plano de ação definindo o que será feito com os recursos existentes para se chegar à situação desejada. Problemas vão surgir no caminho, o que vai requerer ajustes. Uma administração transparente é essencial para garantir o continuado apoio dos principais interessados e envolvidos.
Essas são algumas ideias bastante simples consagradas no mundo das empresas e que podem ajudar a evitar a continuidade da situação de confusão e insatisfação que já vem acontecendo há anos e que só tenderá a se agravar.
Manifestações e barulhos dos lados que vierem e com os propósitos que tiverem podem ser muito importantes para chamar atenção ou mostrar força. Mas não bastam. Podem ser inócuos. Não haverá mudança mágica ou continuidade eterna. Os retrocessos econômicos do país já são mais do que evidentes. A degradação política e social poderá vir a passos rápidos.
Não vamos sair fácil desta situação atual pela confusão mental que prevalece e pela falta de um norte claro, de um rumo. Campanhas políticas pautadas e lideradas por marqueteiros sem compromisso com a realidade e com o futuro geram alguns vencedores de eleições que se sentarão em cadeiras que lhes darão o direito de alocar vultosos recursos, mas não garantem o apoio da maioria da população no presente e o sucesso do país no futuro.
E, ainda pior, nas sombras que são produzidas pela falta de razão e, às vezes, pela fumaça das bombas nas ruas, alguns poucos se beneficiam dessa falta de luz e de transparência.
Talvez seja um bom começo termos um bom entendimento de onde estamos e aonde queremos chegar, digamos, nos próximos cinco anos, sem discursos vazios e oportunistas, ou, ainda, sem ideologias antiquadas que pareciam fazer sentido no século 19. Não é tão difícil quanto possa parecer.
A política envolve fatores emocionais. Mas se não formos capazes de torná-la mais racional não conseguiremos avançar. Não vai se eliminar as múltiplas opiniões e pensamentos divergentes que são naturais em qualquer sociedade. Apenas, dará mais transparência e lógica.
Gerenciar o país com base na preocupação do que dizer ou fazer no curto prazo para aumentar a popularidade momentaneamente, ou então dizer ou fazer o necessário para apenas ganhar a próxima eleição, ou pior ainda, dizer uma coisa e fazer outra, são caminhos para o desastre.
Alguém pode vencer o próximo round. E outro talvez ganhe o próximo. Se isso continuar assim por muito mais tempo, os lutadores perderão e a plateia também. Perderemos todos.
Alguns poderão ficar felizes porque estarão sentados momentaneamente em confortáveis cadeiras assinando cheques, decretos e nomeações. Poucos poderão se beneficiar disso. Mas estarão governando um país sem progresso, sem futuro e sem vida.
A vida política pode se beneficiar da racionalidade e do método científico da gestão empresarial. Uma das grandes diferenças entre a política e a gestão é que a catástrofe em uma empresa é resolvida com a sua extinção pura e simples. Porém, países não “morrem” do mesmo jeito. Mas seus habitantes sofrem muito mais.
Fonte: Revista Época Negócios