Lembra-se da última vez em que você teve uma febre? Foi ruim, não é? Saiba, porém, que você deveria “agradecer” à febre. Se não fosse por ela, poderia ter sido muito pior para a sua saúde...
É que, longe de ser uma doença, a febre é uma reação que o organismo tem para sinalizar que algo não está bem em nosso corpo. É como se fosse um “aviso”, um alerta que o nosso corpo dá a nós mesmos para que possamos descobrir o que está errado em nossa saúde, qual é o problema e, claro, qual é a solução.
Pois já imaginou se tudo que fosse importante tivesse um “aviso” que alertasse os interessados quando a coisa não está funcionando como fora planejado? No Sistema Lean há uma técnica – que é uma das bases desse sistema de gestão – que faz justamente isso: avisa imediatamente quando um processo passa a não funcionar da maneira como se deveria.
Estamos falando do “Andon”, um conceito que, falando de forma mais técnica, significa um aparato de “gestão visual” que serve para avisar quando ocorre algo anormal ou fora do padrão esperado. Um típico “andon” muito usado na manufatura, por exemplo, é geralmente algumas luzes (normalmente verdes, amarelas e vermelhas) ou um painel luminoso com linhas de números que correspondem às estações de trabalho ou às máquinas de uma linha de produção.
A luz se ilumina quando um problema é detectado por um sensor em uma das máquinas ou em uma das estações de trabalho. Por exemplo, quando uma máquina está quebrada ou uma estação de trabalho fica parada, sem funcionar, o “andon”, com uma luz vermelha, dá o alerta. Essa sinalização pode ocorrer automaticamente ou pelas mãos de um operador. Há alguns sistemas muito mais sofisticados com sons etc.
O mais importante, porém, é que esse aviso chegue imediatamente a equipes responsáveis para irem lá resolver o problema e fazer a máquina ou estação de trabalho voltar a funcionar normalmente, como se havia planejado, eliminando, assim, perdas de tempo e diminuindo prejuízos para a empresa.
Tal sistema de alerta – é bom que se fique claro – não objetiva “achar culpados” para os problemas, mas, sim, alertar a quem é de direito para que a falha seja solucionada, para fazer a “anormalidade” virar “normalidade”.
Hoje, em boa parte dos chãos de fábrica de grandes empresas, principalmente das que seguem o sistema lean, esse tipo de equipamento já é algo corriqueiro. Mas ele poderia e deveria ir além. Por exemplo, mesmo nas empresas que já seguem o sistema lean, o “andon” fica, muitas vezes, muito restrito apenas às linhas de produção, quando deveria ser adotado na empresa toda. Tal conceito pode e deve ser expandido para todo tipo de setor produtivo.
Por exemplo na área administrativa, que pode, sim, elaborar mecanismos para deixar evidente, de forma imediata, quando uma pessoa tem problemas em seu trabalho, e sua “produção” está atrasada. Nesses casos, as dificuldades com a padronização do trabalho torna frequentemente difícil saber se estamos tendo um dia “normal” ou se há algum problema.
Podemos ainda ir mais além. Que tal começarmos a pensar em cidades inteiras organizadas levando em conta também o conceito de “andon”? Por exemplo, problemas urbanos poderiam ter um tratamento mais eficaz. Rompeu uma adutora e está havendo vazamentos e desperdícios de água? Um “andon” avisaria isso rápida e instantaneamente a quem deveria saber, gerando a correção rápida do problema e o fim dos desperdícios.
Atualmente, essa comunicação é lenta e passa por vários canais. E quase sempre a resposta é mais lenta ainda. Policiais podem dispender mais tempo do que o necessário em áreas mais seguras, enquanto regiões com mais criminalidade ficam sem proteção? “Andons” poderiam alertar isso, avisando para um eventual desequilíbrio de distribuição e, assim, direcionar rapidamente os efetivos.
Poderíamos pensar em centenas de outras utilizações. E em muitas outras frentes. Sempre com o espírito de rapidamente tonar visível uma situação de anormalidade, algo diferente do planejado, previsto ou esperado, através de dispositivos simples e diretos.
E, mais importante ainda, deveria permitir que a situação fosse resolvida o mais rápido possível e voltasse ao “normal”. O “andon” é apenas a primeira parte de um eficaz sistema de ajuda e de solução de problemas. Enfim, uma boa dose de “andonmania” poderia ser muito benéfica. Não só para as empresas, mas para toda a sociedade em geral.
Fonte: Revista Época Negócios