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ÍNDIA: O PRÓXIMO GIGANTE ADORMECIDO A DESPERTAR?

O PAÍS PARECE ESTAR SE PREPARANDO PARA DAR UM SALTO - UM NOVO GOVERNO EMPOSSADO EM MAIO PODE TER REPRESENTADO O INÍCIO DE UMA PROFUNDA MUDANÇA

Dos gigantes adormecidos, os países de enormes territórios e grandes populações, China, Brasil, Índia e Rússia, mais recentemente chamados de BRICs, o único que realmente acordou nas últimas décadas foi a China, que se tornou a segunda potência mundial, no rumo de se tornar a economia número um do mundo.

Os outros gigantes parecem continuar dormindo, apesar de algumas iniciativas e impressões de que poderiam decolar. Porém a Índia parece estar se preparando para dar um salto. Um novo governo empossado em maio pode ter representado o início de uma profunda mudança.

O novo primeiro ministro Narenda Modi está procurando atacar algumas das maiores vulnerabilidades do país, a saber a elevada corrupção, a débil infraestrutura – estradas, portos, energia, água, esgotos, as desigualdades sociais, as tensões com os países vizinhos (China e Paquistão), a inflação (cerca de 8%) e o crescimento econômico (em torno de 4,5%).

A corrupção vem sendo atacada. Após 14 anos governando o Estado de Gujarat, o novo primeiro ministro teve um histórico limpo, o que levou o seu partido, chamado de Bharatiya Janata, a ter a maioria no congresso, rompendo a necessidade de alianças políticas que não davam a estabilidade necessária e nem criavam as condições para avanços importantes. A política econômica e industrial da Índia tem sido parecida com a brasileira em termos de elevado protecionismo e pouca abertura, com forte presença estatal, o que gerou uma economia pouca competitiva globalmente.

A população de 1,3 bilhão de pessoas representa um mercado potencial extraordinário, apesar da elevada concentração de renda e das várias línguas, religiões e etnias, nem sempre convivendo pacificamente.

Nos últimos meses, tem preocupado os reformistas mais ávidos e ansiosos a pouca profundidade das reformas para facilitar os investimentos, eliminar a burocracia e tornar o Estado menor e mais eficaz.

Uma campanha em prol da limpeza em geral – principalmente nas cidades atulhadas de lixo e com péssimas condições sanitárias, pois a população não foi educada adequadamente e os sistemas de coleta são ineficazes – afina-se com uma política anticorrupção para dar maior transparência aos gastos públicos. No governo anterior, estimava-se que cerca de 50% dos recursos destinados a programas de benefícios sociais eram desviados por políticos e burocratas.

A elite das empresas indianas aproveitou a ameaça e os desafios trazidos pela abertura da economia ocorrida nos anos 90 para se modernizar e mudar o sistema de gestão. A maioria delas procurou adotar o modelo de qualidade total em voga durante a expansão das empresas japonesas nos anos 80.

Muitas delas priorizaram a busca de prêmios de qualidade e de gestão no Japão, como o prêmio Deming, norte americano responsável pela disseminação de práticas de melhoria de qualidade no Japão. Das 232 empresas ganhadoras, 43 eram estrangeiras. Dessas, 25 são empresas indianas. E das 27 ganhadoras do Grand Prize Deming, sete foram empresas da Índia. Esses prêmios são oferecidos pela JUSE (União Japonesa dos Cientistas e Engenheiros).

Temos como exemplos o grupo Tata, um enorme conglomerado que vai de aço, química, automóveis, TI etc., O grupo Mahindra, líder mundial na produção de tratores e entrando no setor de veículos comerciais e de passeio mais recentemente, o grupo TVS, com várias joint ventures com empresas globais automotivas e de autopeças, além da Airtel e Reliance, ambas entre as dez maiores operadoras de telefones celulares do mundo.

Ao visitar algumas unidades dessas empresas recentemente, notei que elas ainda precisam melhorar muito o seus sistemas de gestão e o desempenho para poderem competir efetivamente no mercado global, apesar de terem conquistados essas premiações.
O enorme sucesso de serviços de TI de empresas instaladas na Índia aproveita os menores salários, mas se trata de vantagem passageira.

E a existência de um enorme pool de mão de obra técnica qualificada pode ser uma vantagem competitiva futura muito importante.

Porém, se as novas políticas governamentais forem implementadas, será necessário que as empresas indianas passem por uma segunda onda de melhoria na gestão e no desempenho para poderem competir globalmente.

Deverá ser uma jornada desafiadora. Mas poderemos testemunhar, assim, nos próximos anos, o possível despertar do segundo gigante adormecido. E não seremos nós.

Fonte: Revista Época Negócios

Fonte: Época Negócios
Publicado em 18/11/2014