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Quem se importa com os resultados do nobel?

Principal premiação mundial representa orgulho e fortifica identidade nacional dos vencedores. No brasil, parecemos dar mais importância aos resultados do futebol...

A expectativa é grande. A imprensa fica ansiosa para saber o resultado. O público também… Não, não estou falando da Copa do Mundo, nem do Campeonato Brasileiro, nem dos resultados das pesquisas eleitorais, nem de quem foi eliminado do último reality show… E nem estou falando de algo que se passa no nosso país.

Falo, sim, da grande expectativa que muitos países têm, todos os anos nessa mesma época, para saber quais foram os ganhadores do prêmio Nobel, principal premiação mundial conferida a quem mais contribui para a evolução da cultura e da ciência.

Como aconteceu agora em outubro, a Academia Real Sueca de Ciências divulgou para o mundo os agraciados com os prêmios de Física, Química, Medicina, Literatura, Paz e Economia. E foram premiados três japoneses, dois franceses, dois norte-americanos, dois noruegueses, um inglês, um alemão, uma paquistanesa e um indiano. E, todo ano, trata-se de um acontecimento digno de nota em países como nos EUA, Japão e também em boa parte dos países europeus ocidentais.

A imprensa discute os ganhadores, os temas das pesquisas, o mérito dos prêmios etc. Isso representa uma dimensão importante do orgulho e identidade nacional, mostrando a força da ciência e da cultura do país. Neste ano, os franceses ganharam dois prêmios. E ficaram muito orgulhosos. O de Literatura, que já ganharam por varias edições, e o de Economia, que tem sido domínio dos norte-americanos, embora o ganhador Jean Tirole, apesar de hoje estar vinculado à Universidade de Toulouse, na França, ter conquistado seu Ph.D. em Economia no Instituto de Tecnologia de Massachussetts, nos EUA, o que poderia mostrar um certa fragilidade das escolas francesas de economia.

Durante muitos anos, os japoneses viam sua pouca presença entre ganhadores do prêmio Nobel (acumularam 20 com os 3 mais recentes), o que era um reflexo de uma educação e um sistema universitário e de pesquisa pouco criativo. O primeiro ganhador japonês do prêmio de Medicina, no final dos anos 90, tinha tido uma carreira totalmente realizada nos EUA.

Mas, neste ano, por exemplo, foram dados os prêmios de física a três cientistas japoneses pelas pesquisas que geraram a criação do LED, mostrando a pujança do sistema de pesquisa e desenvolvimento e sendo motivo de júbilo.

Em toda a sua história, desde 1901, a Academia Sueca já premiou representantes de 73 paises! Há uma grande concentração de ganhadores nos EUA (338), Reino Unido (119), Alemanha (103), França (66), Suécia (30), Suíça (26) e Canadá (21). Porém, há uma quantidade de países pequenos, com economias frágeis e problemas sociais tão graves quanto os nossos, que tiveram reconhecidos os seus esforços e resultados científicos e culturais.

Da América Central e do Sul já foram premiados representantes da Argentina (5), Chile (2). Colombia (1), Costa Rica (1), Guatemala (1), México (3), Peru (1), Santa Lucia (2), Trinidad Tobago (1), Venezuela (1), sendo que a ampla maioria de prêmios é de Literatura e Paz.

Nunca ganhamos um prêmio Nobel. Estamos entre as 10 maiores economias do mundo há muito tempo e jamais fomos agraciados. Ou seja, estamos completamente fora desse circuito. Possivelmente, nunca fomos considerados, seriamente, nas áreas científicas, como medicina, química e física, mesmo tendo bravos e capacitados cientistas, a maioria deles formado no exterior, que se esforçam para realizar pesquisas relevantes.

No Brasil, o interesse por isso é muito pequeno. A imprensa, no máximo, dá a notícia, com pouco aprofundamento sobre a pesquisa agraciada, seus fundamentos, efeitos, onde foi realizada… E não é só a mídia, diga-se de passagem, mas também as próprias universidades e centros de pesquisa repercutem pouco o fato.

E, assim, para a sociedade brasileira em geral, essas notícias pontuais que por nosso país “pingam”, aqui e ali, sobre o Nobel soam sempre como se estivéssemos sendo informados, por exemplo, sobre o resultado do campeonato nacional de sumô no Japão.

Trata-se de um triste cenário. Há uma falta total de expectativa no Brasil por um Nobel local, o que é considerado por muitos como algo que está a “anos-luz” da nossa realidade. Portanto, infelizmente, mais um reflexo da fragilidade de nossos processos educacionais e científicos, apesar da quantidade substancial de recursos alocados.

Os temas que surgem dos debates presidenciais passam longe de tentar entender por que isso ocorre e o que fazer para mudar o posicionamento do Brasil no sistema mundial de geração de ciência e cultura.

Parece fácil ir à TV fazer ataques pessoais ou promessas vagas sobre educação. Seria também interessante refletirmos um pouco mais sobre por que sempre esperamos com tanta ansiedade os resultados do futebol (sim, ganhamos cinco vezes o campeonato mundial), mas nunca parecemos nos importar com os vencedores do Nobel.

Fonte: Revista Época NEGÓCIOS

Fonte: Época Negócios
Publicado em 21/10/2014