Há até um dito bastante popular que resume muito bem um dos piores problemas que podem ocorrer numa organização: “Jogar a sujeira para debaixo do tapete”.
E muito embora muita gente saiba e até reconheça que isso não é certo, claro, todos nós sabemos que isso acontece todos os dias e em muitas empresas.
E trata-se de algo que ocorre por um motivo muito simples de se reconhecer, mas não tão fácil de resolver.
É que por não conseguir, muitas vezes, resolver os problemas que acontecem cotidianamente nas empresas, lideranças e colaboradores preferem o caminho mais “fácil” – o de “esconder” os problemas “debaixo dos tapetes corporativos”.
Muita gente acaba fazendo isso “simplesmente” porque tem “medo”. Isso mesmo: “medo” de ser responsabilizado e sofrer punição, caso os problemas sejam realmente revelados.
Ou por não haver padrões claros a serem seguidos por todos. Ou ainda, por não haver métodos de gestão que exponham claramente onde se está e onde se deveria estar.
Com isso, a empresa sofre. Seus processos vão ficando cada dia piores, pois os problemas se acumulam e não são resolvidos, retornando, após mais uma rodada de “apagar incêndios”.
A boa notícia é que um encontro de empresas em São Paulo na semana passada mostrou que tal visão parece estar mudando. Pelo menos nas companhias que participaram do Lean Summit 2014, que já se consolidou como o maior encontro do Brasil e um dos maiores do mundo de empresas praticantes da filosofia lean.
Os números do encontro mostram o tamanho dessa mudança. Foram mais de 1.000 participantes, que vieram mais de 200 empresas diferentes, de 17 estados brasileiros e de 8 países (Brasil, Argentina, Chile, Peru, Colômbia, Bolívia, Venezuela e México), de 24 setores diferentes da economia.
Eles assistiram a mais de 70 palestras sobre a aplicação do sistema lean nas empresas, com mais de 40 companhias diferentes apresentando seus cases. Foi a 11ª edição do encontro que desde 1998 vem ocorrendo em São Paulo, de dois em dois anos.
O encontro mostrou que há um movimento muito forte no Brasil de empresas que não se contentam mais com os modelos tradicionais de gestão.
São empresas que estão eliminando desperdícios em seus processos, seja nas fábricas, nos escritórios, na logística, no desenvolvimento de produtos, em seus setores de recursos humanos, nos departamentos de marketing, enfim, em toda a empresa.
São empresas que cotidianamente se perguntam: “como eu posso fazer para melhorar cada vez mais os meus processos?”
Empresas que começaram a definir estratégias adequadas, além de desdobrá-las adequadamente. E que acreditam que melhor do que “simplesmente” crescer é crescer de forma sustentável, o que significa crescer fruto de processos robustos, sem desperdícios, o que significa, portanto, um crescimento por vezes não tão rápido, mas certamente sólido.
Empresas que respeitam seus funcionários, vistos como detentores de experiências e conhecimentos fundamentais e que, por isso, precisam ser valorizados e, principalmente, mentorados a fazer seus trabalhos cada dia melhor.
Enfim, empresas que descobriram que é bem melhor tirar do cotidiano da organização a “culpa” ao estabelecer o que está errado.
E, principalmente, empresas que, com tudo isso, estão cultivando uma nova e poderosa cultura que estimula a revelação diária de problemas e suas respectivas resoluções. Assim, são empresas que estão ficando cada dia melhores.
Quem participou do encontro viu tudo isso.
Os números apresentados de melhorias e aumentos na qualidade, na produtividade, na eliminação de falhas, na economia de recursos, no faturamento e nos lucros mostraram o potencial ao se fazer essa mudança.
Tais números, porém, são apenas a “ponta” de um iceberg muito maior. O que mostra que há hoje uma “revolução silenciosa” ocorrendo em muitas empresas brasileiras. Elas estão descobrindo que não adianta só “fazer”. É preciso, sim, fazer de forma correta.
Porém, esses números são ainda pequenos frente ao tamanho da economia brasileira e das ineficiências que ainda permeiam as empresas e a sociedade.
Fonte: Revista Época NEGÓCIOS