A recente perda do escritor João Ubaldo Ribeiro nos lembrou da importância e do poder das histórias no mundo empresarial. Em suas colunas semanais na imprensa e em seus livros clássicos como “Viva o Povo Brasileiro” e “Sargento Getúlio”, entre tantos outros, nosso célebre autor baiano esmerou-se na capacidade de escrever histórias tão vivas, bem humoradas e coloridas que, ao lê-las, parecia que éramos capazes de testemunhar os acontecimentos, personagens e situações relatados de corpo presente.
Respeitado pela comunidade literária, o vencedor do Prêmio Camões, o mais importante para escritores em língua portuguesa, e membro da Academia Brasileira de Letras, João Ubaldo Ribeiro tinha um lado acadêmico ligado à administração, talvez pouco conhecido. Após o curso de Direito na Universidade Federal da Bahia, fez pós-graduação em Administração Pública nessa mesma universidade e também ensinou em seu Departamento de Administração.
A contribuição de sua rica obra nos lembra de que a habilidade de contar histórias é uma condição que os líderes empresariais devem buscar e procurar aprender, por sua capacidade de comunicar significados, engajar colaboradores e estimular à ação.
A capacidade de contar histórias pode ser aprendida. João Ubaldo Ribeiro pode ter sido um nato contador de histórias a partir de sua educação familiar reforçada pelas obras infantis de Monteiro Lobato. Mas aprendeu seu oficio formalmente indo para os EUA fazer um curso para jovens escritores. E, logicamente, esmerou-se praticando muito ano após ano.
As histórias tornam mais vivas e reais as situações do cotidiano das empresas. Por serem simples, vivas, concretas e significativas, elas comunicam melhor os problemas e as necessidades, facilitam a apresentação de propostas e estimulam o engajamento das pessoas nas ações.
Elas substituem com vantagem a linguagem e a comunicação predominante no meio empresarial. O calor e a emoção das histórias não conseguem ser superados em eficácia pelo aparente rigor frio e pretensamente objetivo e racional dos relatórios empresariais sisudos, longos e entediantes.
Há vários tipo de histórias e muitos modos de contá-las. Para evitar a sua vulgarização e irrelevância e manter sua objetividade e contribuição efetiva, sugerimos formatos que respeitem a lógica do PDCA para contar histórias. Uma contribuição poderosa é a utilização do formato seguido pelo relatório A3 (tamanho do papel) conforme relatado no livro “Gerenciando para o Aprendizado” de John Shook (Lean Institute Brasil, São Paulo-SP, 2008).
Qualquer solução de problemas ou plano pode ser escrito respeitando esse formato A3, e deve ser escrito como se conta uma história. Deve-se começar com a definição do tema a ser tratado (o título da história), o histórico ou contexto (por que vale a pena ou por que você precisa continuar ouvindo a história).
Em seguida, vem a narrativa central, a situação atual, descrita da forma mais pictórica (lembre-se: uma imagem vale mais que 1.000 palavras!) e realista possível, que pode ter elementos de drama ou comédia, que leva à identificação do problema central (a essência do enredo). A partir daí, a definição de onde se quer chegar (as metas e objetivos).
Muitas vezes, a parte aparentemente mais chata de uma história contada em um A3 é a que fala dos motivos e causas mais profundas da narrativa central, mas que, igualmente, pode ser contada de um modo interessante e até emotivo.
Esses elementos do A3 fazem parte do lado esquerdo no papel e que agora nos levam ao lado direito, aonde queremos chegar e o que precisamos fazer para nos livrar dos problemas e dificuldades narrados até esse momento. Em seguida, vem a parte essencial, ou seja, o que o ouvinte da história precisa fazer para, ele mesmo, se tornar também um personagem da história.
Se a história foi bem contada, motivou, interessou, despertou a atenção, fica mais fácil conquistar o apoio de quem está ouvindo para se tornar mais um protagonista, ou seja, poderá realizar ações que ajudarão a desvendar mistérios através de testes de hipóteses, e a desenrolar ações que gerarão ou poderão gerar uma situação futura melhor.
O A3 deve ser escrito, podendo até ser a mão, e comunicado oralmente. Mas esse é apenas um formato sugerido. Nossa criatividade pode gerar formatos alternativos de histórias capazes igualmente de comunicar, engajar, motivar e levar à ação.
O poder das boas histórias está em sua simplicidade e no poder de engajar racional e emocionalmente. E na sua capacidade de conquistar apoios, chegar a consensos e estabelecer acordos sólidos, mobilizar as pessoas e engajá-las nas ações pertinentes.
Bons líderes devem ser capazes de contar boas histórias, com bons enredos e personagens interessantes e enredos inspiradores. E, com isso, conseguir tornar todos os colaboradores em personagens pró-ativos e engajados na vida da empresa.
Fonte: Revista Época NEGÓCIOS