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À prova de erros em tudo

Pois já pensou se as cidades, as estradas, os shoppings, as casas, os edifícios, as empresas etc. Fossem permeadas de dispositivos para evitar falhas?

A tragédia que ocorreu recentemente no Rio de Janeiro do caminhão cuja caçamba derrubou a passarela na Linha Amarela, matando e ferindo diversas pessoas, é mais um exemplo das muitas “falhas fatais” que infelizmente podem ocorrer – e frequentemente ocorrem – nas cidades e que acabam ceifando vidas inocentes.

É evidente que agora é preciso saber quem são os responsáveis pela falha e punir quem é de direito, tarefa das autoridades do Rio de Janeiro. A investigação vai desvendar se houve falha mecânica ou humana. Ou ambas, como muitas vezes tende a ser o caso.

Mas há aqui uma reflexão importante a se fazer: agora já é tarde demais. Mais importante do que procurar punir após as tragédias que insistem em acontecer no Brasil, não seria melhor evitá-las?

Trata-se aqui, talvez, de uma urgente e necessária mudança de “visão” em nossa sociedade. A de incutirmos em nossa “cultura” o hábito de, em tudo o que fizermos, inserimos sempre mecanismos à prova de erro ou poka-yoke. Inventado pela Toyota e parte hoje integrante do sistema de gestão lean (“enxuta”), o poka-yoke é um termo japonês que pode ser traduzida por “à prova de erros”. Sakichi Toyoda (1867-1930), fundador da Toyota, e quando ela ainda era uma tecelagem, no início do século 20, desenvolveu pioneiro e até então inédito dispositivo automonitorado que, instalado em todos os teares de sua fábrica, interrompia imediatamente o funcionamento das máquinas caso um fio se rompesse.

Isso evitava que a máquina continuasse produzindo de forma defeituosa, evitando produção com defeito, perda de tempo, de matéria-prima, de horas trabalhadas.

Inovação revolucionária para a época, tal procedimento não só passou a impedir que erros ocorressem por um longo tempo como também propiciou que um operador controlasse diversas máquinas, o que levou ao conceito de jidoka, outra expressão japonesa que significa "automação com inteligência humana", que passou a ser incorporado às máquinas.

Mais do que uma simples instrumento técnico, significa a prática ou a atitude cotidiana de, em tudo o que se fizer, prever mecanismos que impeçam a ocorrência e/ou a proliferação de erros nos processos e nas atividades em geral.

Poka-yoke é todo método, técnica, tecnologia ou procedimento capaz de ajudar as pessoas a evitarem a ocorrência de erros. Atualmente, é utilizado tanto nos processos produtivos quanto também nos processos administrativos. Muitas empresas aliás, já adotam, com muito sucesso, tanto as manufatureiras quanto alguns hospitais e empresas de serviços.

Pois já pensou se as cidades, as estradas, os shoppings, as casas, os edifícios, as empresas etc. fossem permeadas de poka-yokes?

Quem sabe se a recente tragédia do Rio de Janeiro fosse evitada se, por exemplo, houvesse um dispositivo que tornasse impossível do caminhão trafegar com a caçamba levantada. Ou de haver sinalização quando um veículo entrar na avenida com mais altura do que o permitido. Esses dispositivos já existem, não custam caro e poderiam ser amplamente implementados se a nossa cultura preventiva fosse mais forte.

As organizações ganhariam muito se conseguissem embutir em todas as suas atividades os mecanismos que evitam falhas. Economizariam milhões, incrementariam a qualidade, atenderiam melhor e com mais segurança seus clientes, usuários e colaboradores, e se

tornariam muito mais competitivas. Mas, para isso, devemos ter outro tipo de atitude cotidiana em tudo o que se faz. A avaliação dos riscos e potenciais erros e, em seguida, da mentalidade da prevenção deve estar presente em tudo. A visão de que tão importante quanto fazer uma coisa é prever mecanismos “à prova de erros”. Não custa caro e resolve. Economiza milhões e salva vidas.

Fonte: Revista Época NEGÓCIOS

Fonte: Época Negócios
Publicado em 06/02/2014