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O legado de Eiji Toyoda

O que talvez muitos não saibam é que a Toyota, na verdade, desenvolveu um inovador sistema de gestão que vai muito além do sistema de produção

A Toyota é conhecida pelos seus produtos e também pelo seu revolucionário sistema de produção que a tornou famosa globalmente. O que talvez muitos não saibam é que a Toyota, na verdade, desenvolveu um inovador sistema de gestão que vai muito além do sistema de produção.

E ainda, que a pessoa mais importante por trás desse desenvolvimento foi Eiji Toyoda, que morreu na quarta-feira passada, aos 100 anos, no Japão. Ele foi um visionário que conseguiu analisar como ocorria a gestão em sua época e, a partir daí, imaginou e implementou um modelo muito mais eficiente que aplicou na Toyota, a empresa de sua família.

Antes dele, houve contribuições importantes na empresa como a de Sakichi Toyoda (1867-1930), que, no início do século 20, inventou um revolucionário dispositivo para os teares de sua tecelagem que interrompia imediatamente o funcionamento das máquinas caso ocorresse algum defeito na produção, o que levou a uma das bases do modelo Toyota, que é o de buscar fazer a coisa certa sempre e “parar” quando algo começa a dar errado para resolver o problema, conhecido como jidoka.

Ou a de Kiichiro Toyoda (1824-1952), filho de Sakichi, que liderou a entrada da empresa familiar na já competitiva indústria automotiva nos anos 30. E tinha crença de que era possível manter o processo inteiro de produção com mínimo possível de estoque de produtos caso o processo precedente simplesmente respondesse às necessidades exatas do processo seguinte fluxo abaixo, base do sistema just in time.

Foram eles visionários nas melhorias na forma de produzir e, assim, mudaram o mundo. Mas se formos falar de um processo de gestão mais amplo e dos valores necessários para se gerir eficazmente uma organização, daí o grande visionário foi Eiji Toyota, sobrinho de Sakichi e primo de Kiichiro.

Eiji trabalhou na empresa têxtil original da família, a Toyoda Automatic Loom Works, tecelagem embrião da montadora. Logo depois, em agosto de 1937, passou definitivamente para o ramo automotivo, na Toyota Motor. E lá, iniciou sua carreira no gemba, local onde as coisas acontecem, supervisionando a produção e o trabalho no “chão de fábrica”.

Assumiu a presidência da companhia em 1967, ficando até 1982, quando assumiu a presidência do conselho, Eiji liderou o período mais importante de crescimento da montadora e teve um papel central na seleção e na colocação de líderes que criaram o sistema de gestão da empresa, de vendas e marketing, passando pelo desenvolvimento de produtos e relacionamento com os fornecedores além do já conhecido Sistema Toyota de Produção e o seu principal criador, Taiichi Ohno.

Em 1950, Eiji foi um dos que fez uma peregrinação de três meses, a então famosa e emblemática fábrica de Rouge da Ford, em Detroit, na época o maior e mais eficiente complexo fabril do mundo. Estudou cuidadosamente todos os seus detalhes e reconheceu a superioridade do sistema desenvolvido por Henry Ford, mas também assumiu que era ser possível ser mais eficiente.

No seu retorno ao Japão, desafiou a todos na empresa a assumir o desafio de desenvolver um inovador sistema de gestão para superar a concorrência. O que, pouco a pouco, foi conquistado até tornar a Toyota a maior montadora do mundo. E que vem sendo copiado não só por toda cadeia automotiva, mas por diversos outros tipos de empresas, de transformação em todos os setores até os serviços, de hospitais a bancos, até setores de governos em todo o mundo.

Eiji deixou um legado essencial não apenas para a empresa criada por sua família como contribuiu com práticas e ideias extremamente poderosas que revolucionaram a filosofia de gestão das empresas no final do século passado e que ainda hoje desafia o nosso entendimento.

Fonte: Revista Época NEGÓCIOS

Fonte: Época Negócios
Publicado em 23/09/2013