Uma grande obra não é entregue a tempo. Novidade? Ao contrário, é a regra. Surpresa seria se fosse entregue na data prevista.
Uma máquina importada não chegou a tempo. Surpresa? Também não. Trata-se de uma situação normal com as incertezas nos portos e alfândegas.
O estudo para o lançamento de um novo produto não ficou pronto a tempo para se antecipar ao produto da concorrência. Inesperado? Não, isso já tinha acontecido no lançamento anterior.
Todos nós já passamos por uma situação semelhante em que algo não saiu de acordo com o previsto ou esperado. Algo tão recorrente leva as empresas a sempre saírem apagando incêndios e criando correrias e gerando estresse.
Ou seja, a famosa e onipresente “Lei de Murphy” continua atualíssima. Não se sabe claramente as origens desse epigrama, uma frase ou conceito conciso carregado de ironia e jocosidade. Alguns até a chamam de uma forma da segunda lei da termodinâmica ou lei da entropia, que prevê um crescente estado de desorganização. Em resumo, diz que “em qualquer circunstância e situação, se algo puder dar errado, vai dar!”.
Temos que nos conformar com isso e considerar isso parte de nossa vida pessoal ou profissional? Não necessariamente. Podemos eliminar a lei de Murphy através de melhorias substanciais em nosso processo de planejamento e de gestão.
O que podemos fazer para desafiar e eliminar a lei de Murphy? Podemos passar a elaborar planos mais detalhados e minuciosos, a construir sempre múltiplas alternativas e a eliminar a ideia do pensamento positivo.
Precisamos, em primeiro lugar, trabalhar com planejamentos mais detalhados e rigorosos. Muitas vezes, definimos genericamente as ações a serem realizadas, esquecendo-nos de muitas delas e mesmo não conhecendo com mais profundidade o que precisa ser feito. Com isso, na hora da execução, muitos itens vagos ficam difíceis de serem implantados.
O processo de planejamento é sempre mais importante do que os planos em si. Normalmente, as condições mudam e requerem também mudanças nos planos. Mas quanto mais rigoroso, profundo e detalhado o plano for, mais facilita o nosso entendimento e conhecimento.
A segunda dimensão importante é sempre pensar e construir múltiplas alternativas. Isso obriga nossa mente a forçar a busca de outras soluções além daquela que pensamos ser a correta. Além de ajudar a criar alternativas concretas em caso de ajustes necessários, fato comum em virtude de mudanças no contexto e condições, ajuda o processo mental e a criatividade, obrigando os agentes envolvidos a serem capazes de realizar os ajustes nos planos, aumentando a flexibilidade e a velocidade de resposta.
E, finalmente, a terceira dimensão é afastar o pensamento positivo, aquele que diz que “não se preocupe, tudo vai dar certo”. O pensamento positivo ou otimismo pode criar uma sensação de alívio e tranquilidade. Mas, ao mesmo tempo, causa complacência e acomodação. A tranquilidade acaba quando os problemas inesperados surgem.
Já os que não são “otimistas” estão melhor preparados para adversidades, pois, para eles, como tudo pode dar errado, se antecipam a isso. Para aqueles que utilizam o pensamento negativo que considera “tudo pode dar errado”, a preparação e antecipação de problemas estimula a produção de adrenalina e deixa as pessoas em estado de alerta.
Não se trata de criar ambientes e pessoas depressivas que geram falta de ação e imobilismo. Ao contrário, trata-se de criar condições para as pessoas e organizações reagirem a tempo e com a qualidade esperada às naturais turbulências e incertezas que sempre ocorrerão. Preparar-se para que o pior possa acontecer é muito melhor do que achar que tudo vai correr bem.
Evidentemente, o caráter de lei é uma brincadeira que cientistas dos mais diversos campos fazem. Não se trata nem de algo da natureza ou mesmo do campo do Direito.
Mesmo assim, a “lei de Murphy” e seus axiomas vão continuar presentes. Não será possível “revogá-la”. E principalmente para quem planeja mal, sem pensar em alternativas e sem avaliar adequadamente os riscos e ameaças. Quem fizer diferente, ou seja, planejar com rigor, estabelecer alternativas e antecipar-se às adversidades, vai conseguir mitigar seus impactos.
Fonte: Revista Época NEGÓCIOS