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Carro velho precisa ser reciclado

Faltam iniciativas mais consolidadas para tirar veículos desgastados da rua

Recentemente, fui entrevistado por um jornalista do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, sobre o tema “reciclagem de automóveis”. O tema é importantíssimo e deveria estar na ordem do dia.

Afinal, só no ano passado, foram emplacados – ou seja, passaram a circular pelo país – mais de 5,5 milhões de novos veículos automotivos, entre carros, comerciais leves, ônibus, caminhões e motos, segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). Mas, estima-se, que apenas 10% disso saíram de circulação no período.

Ou seja, os carros vão se acumulando pelas cidades e pelo interior. Vão ficando velhos, ultrapassados, defeituosos e poluidores. Boa parte deles acaba abandonada pelas ruas das grandes cidades ou jogada em ferros velhos onde são reaproveitados em parte.

saiba mais Gostou? Veja todas as colunas Faltam iniciativas mais consolidadas de reciclagem de veículos, tanto para diminuir o seu impacto no meio ambiente, como para tirar veículos desgastados da rua para reduzir a poluição, melhorar a segurança e até mesmo reduzir o congestionamento, pois carros velhos quebrados atrapalham a circulação de veículos.

Sugiro que se procure a “reciclagem máxima”, ou seja, a ideia de que todas as partes de um veículo automotivo poderiam e deveriam, após o uso, voltar a serem utilizadas na produção de novos carros e seus componentes ou em outros produtos.

Na Alemanha e no Japão, as montadoras já conseguem reciclar boa parte dos componentes automotivos. Nos EUA, também, mas em menor número. No Brasil, isso ainda é uma realidade distante.

Aqui, o maior aproveitamento que se faz ocorre com os pneus: a borracha que é quase toda reaproveitada. Mas as outras partes ainda têm pouco ou nenhum reproveitamento. Mas poderia ser diferente se as montadoras, por exemplo, investissem em mais tecnologia visando baratear a reciclagem.

Além disso, o assunto deveria ser alvo de uma política governamental que poderia estimular e ajudar a criar as condições para a indústria reciclar – se não todo, pelo menos parte do que produz.

Para começar, por exemplo, os setores públicos poderiam entregar os caminhões que aprodecem nos pátios dos órgãos públicos – e sabemos que isso ocorre – para entidades que, se bem orientadas e treinadas, poderia também fazer esse serviço.

Trabalhamos com uma cooperativa de reciclagem no interior de São Paulo que conseguiu dobrar sua produtividade e remunerar melhor seus colaboradores apenas com mudanças simples nos métodos de gestão. Essa cooperativa conseguia empregar pessoas que praticamente não tinham condições de acessar o mercado formal de trabalho.

Só a Rede Cata Sampa, de São Paulo, por exemplo, é formada por 15 cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis. Tais entidades renderam, inclusive, o projeto Cataforte, do Governo Federal, que visa fortalecer esse setor. E por que não incentivar tais cooperativas a também trabalhar na reciclagem automotiva, quem sabe com suporte das montadoras?

No começo deste ano, a imprensa informou que o governo brasileiro estudava a criação de um programa de reciclagem de veículos, fruto de uma proposta da Fenabrave.

Na ocasião, líderes da entidade chamaram a atenção para um fato absolutamente importante nessa discussão: o de que, embora o Brasil seja o quarto mercado mundial de veículos automotivos, não temos ainda uma legislação amadurecida e nem um programa nacional sobre reciclagem automotiva.

A Toyota, considerada “a empresa mais verde do mundo”, já se preocupa há tempos com o tema. Em seu Relatório de Sustentabilidade 2012, publicado no site brasileiro, a empresa informa, por exemplo, os 17 itens do Corolla que podem ser reciclados.

Além disso, no ano passado, a montadora publicou uma espécie de manual intitulado “Vehicle Recycling” que, entre outras coisas, dá detalhes sobre como desmontar e reciclar parte dos veículos da marca.

Tudo começa nas fases inicias do projeto produto onde são levadas em conta as oportunidades de reciclagem. Assim a ideia de gestão do ciclo de vida do produto vai além d do momento em que ele para de funcionar e vai até a completa recuperação de suas peças e componentes.

Como se vê, trata-se de um assunto com muitas oportunidades a se explorar. Se bem implementada, a reciclagem de veículos poderia gerar mais empregos e negócios, aproveitar melhor os recursos naturais de uma maneira economicamente viável e ajudaria a manter nosso planeta mais verde. Está na hora de começarmos a fazer algo.

Fonte: Revista Época NEGÓCIOS

Fonte: Época Negócios
Publicado em 26/08/2013