Uma das maiores promessas e ilusões dos novos sistemas de tecnologia da informação e da gestão via indicadores (números) é que, com isso, a direção da empresa poderia ficar sabendo o que está acontecendo nas várias dimensões do negócio.
Um método muito mais eficaz é “ir ver” com seus próprios olhos, no local onde as coisas acontecem. Isso implica que as pessoas devam ir até onde as atividades ocorrem, para serem capazes de analisar e entender profundamente o que está acontecendo na empresa. É uma maneira de se envolver pessoalmente e diretamente com processos e problemas reais. Para saber das coisas, você precisa ver por si próprio, com olhos críticos.
Trata-se de um sistema diferente do modelo tradicional de gestão, baseado preponderantemente em indicadores, números ou dados – que são sempre meras representações do que acontece na realidade.
Infelizmente, esse modelo tradicional, baseado na definição e gestão de “indicadores e metas”, parece suficiente para a maior parte das empresas. A alta administração estabelece as metas. E “como chegar lá” tende a ser visto como responsabilidade dos outros níveis da organização. Pior, muitas vezes ouve-se a seguinte frase: “Não me importa o que você faça, desde que os resultados sejam atingidos”. Um grande erro, pois o “como” faz toda a diferença.
Totalmente inverso disso, o “vá ver” tem um impacto muito mais profundo sobre a empresa ao sair da gestão baseada em números para outra fundamentada em processos reais – os meios para se chegar aos resultados. O que interessa é a robustez e solidez dos processos, assim como a capacidade de resolver problemas e melhorar.
E, com isso, pode se exercer o papel de verdadeiro líder, ou seja, ouvir, entender e tentar ajudar, ao invés de pretender que sabe e dizer o que deve ser feito. Mas entender a situação é sempre mais fácil quando você verifica tudo pessoalmente. Quando se está apoiado por uma gestão visual adequada, em que seja evidente para todos onde estamos, onde deveríamos estar, o porquê das diferenças e o que está se fazendo a partir daí.
É mais que uma simples questão de caminhar e conversar com as pessoas. É um método muito mais eficaz de gestão. Metas e objetivos cascateados de cima para baixo, acompanhados por complexos sistemas de TI, sem uma visão clara do como vão ser conquistados, podem ser perigosos por “cegar” os líderes que, ao desconhecer os processos reais, não ajudam os subordinados, mas apenas usam a autoridade do cargo para garantir obediência, não estabelecendo, assim, um diálogo construtivo. E também porque quando simplesmente entramos no “modo automático” de implementar ações definidas num plano para atingir metas, não reconhecemos o fato real de que estamos adentrando num espaço de incertezas, em que as condições vão mudar e não sabemos exatamente o que vai acontecer. E as coisas nunca acontecem exatamente como o previsto. E ajustes sempre são necessários.
Evidentemente, interessa atingir os resultados, mas também o processo pelo qual os resultados serão atingidos. Junto aos responsáveis, o líder deve “ir ver” para fazer perguntas certas e entender o que está ocorrendo. Depois, garantir que seja estabelecido um processo científico que represente uma boa proposta de como atingir os objetivos.
E se a solução não for alcançada pela proposta, cabe ao líder fazer com que esse processo gere um aprendizado, para que se consiga ver o que deu certo e o que deu errado.
Processos cientificamente melhorados são tão importantes quanto os resultados alcançados por eles. Porque geram resultados sustentáveis. Resultados alcançados aleatoriamente nunca são sustentáveis. E gerar aprendizado enquanto se melhora processo e se atinge resultado é, na verdade, o objetivo mais importante.
É por isso que “ir ver” significa uma mudança fundamental no sistema de gestão da empresa no qual o foco central, em todos os níveis de gestores, passa a ser na padronização, na estabilização e nas melhorias dos processos organizacionais. Assim como na gestão visual, como apoio essencial. E não nas metas, indicadores e objetivos quantitativos, que são, na verdade, os resultados de processos.
Comece a utilizar o “vá ver”. Saia da sala, fique menos envolvido em reuniões e em olhar a tela do computador. Você perceberá a diferença.
Fonte: Revista Época NEGÓCIOS