Para mostrar visões alternativas e modos de pensar diferentes, a partir de um mesmo fato, uma das histórias que muito provavelmente você já tenha ouvido é o conhecido exemplo do copo com água até a metade.
Frente a isso, ao examinar essa situação, as pessoas otimistas enfatizariam o fato de que o copo está metade cheia, significando assim que progressos foram feitos e resultados foram atingidos.
Por outro lado, as pessoas pessimistas enfatizariam o fato de que o copo encontra-se metade vazio e que muita coisa ainda precisa ser feita.
Ambos os lados estão corretos: o otimista, querendo enfatizar o aspecto positivo, o progresso alcançado, e o pessimista, alertando para o fato de que ainda falta algo. Ambos têm, igualmente, pontos de vista – legítimos e baseados na realidade.
Os pensadores lean, as pessoas que acreditam na filosofia lean de gestão (enxuta), normalmente tendem a se alinhar mais com os pessimistas pelo aspecto desafiador e estimulador, no qual se destaca e se enfatiza a necessidade de melhorar e de não se acomodar com as realizações conquistadas.
Uma visita a uma empresa, realizada recentemente, fez-me repensar essa história. Estive em uma empresa com instalações novíssimas, recém-transferidas de outra região do país.
Localizada às margens de uma estrada movimentada, a empresa chama a atenção de todos que passam em frente. Edifícios reluzentes, instalações com fachada muito bem pintada e decorada, com um logo chamativo e inovador, deixam, enfim, uma excelente impressão.
Porém, ao adentrar nas instalações veem-se muitos espaços vazios e áreas mal utilizadas, tanto na fábrica e almoxarifados como nos escritórios e áreas administrativas.
Por exemplo, na manufatura, a empresa tem uma capacidade produtiva de cerca de quatro vezes acima de sua produção atual. E ainda poderia produzir esse volume muito aumentado utilizando cerca de 25% da área existente. Sem considerar ainda o fato de que a empresa não tem claro se a atividade de manufatura deveria ou não ser totalmente terceirizada. Ou seja, além de investir em excesso tendo em vista a sua demanda real, ainda assim poderia terminar por eliminar completamente essa atividade, passando-a a terceiros.
As consequências são um aumento desnecessário e substancial dos custos, não apenas a partir do capital investido como também da necessidade de manutenção de uma estrutura desproporcional às necessidades reais do negócio.
Por que essa empresa e tantas outras acabam dispendendo tantos recursos sem necessidade?
Há um número infindável de possíveis razões, como excesso de otimismo, análises e expectativas sem fundamento, a existência de empréstimos governamentais subsidiados e mesmo a ideia de que um investimento assim pode preparar melhor a empresa para o futuro.
A empresa tem tido maus resultados financeiros apesar de uma grande variedade de produtos de boa qualidade e um bom conhecimento do mercado e de logística complexa, tanto das peças e componentes como dos produtos acabados. Não é à toa.
O investimento do tamanho certo deve ser aquele que é capaz de atender a necessidades reais da demanda, sendo focalizado em instalações e equipamentos flexíveis para acomodar, fácil e rapidamente, mudanças de volume e de mix. Investimentos menores em operações flexíveis são adequados para enfrentar ambientes, cuja única certeza é a mudança.
Desse modo, os verdadeiros pensadores lean na verdade deveriam perguntar se o copo tem o tamanho certo e necessário. Se ele está sobrando metade, é porque há excesso de capacidade.
O equivoco dessa empresa que terminou por permitir uma significativa sobra de capacidade ocorreu devido a erros no projeto do copo, superestimando a demanda e a necessidade.
Antes de fazer novos investimentos, pense muito bem no tamanho do copo. E logicamente no tipo adequado e no custo do mesmo. Não jogue dinheiro fora em copos muito grandes.
Fonte: Revista Época NEGÓCIOS