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Manifestações nas ruas, paz nas empresas

Enquanto as manifestações tomam as ruas, os sindicatos e centrais sindicais ligadas ao setor privado estão relativamente quietos.

As múltiplas manifestações públicas realizadas na semana passada em várias cidades em torno de uma grande variedade de temas e reivindicações, desde preço e qualidade do transporte público até prioridades nos gastos públicos frente aos grandes eventos esportivos internacionais, contrastam com a relativa paz e tranquilidade nas empresas privadas.

O dia a dia e a rotina diária de produção seguem normalmente, assim como o esforço de melhoria da produtividade e competitividade das empresas que tem sido feito com o apoio dos colaboradores das empresas, em seus diferentes níveis de responsabilidades.

Os sindicatos e centrais sindicais ligadas ao setor privado estão relativamente quietos. As greves têm escasseado nesses últimos anos. Essas manifestações e protestos recentes têm girado exclusivamente em torno de temas e questões de políticas públicas.

Há semanas, quando estive em dois países (Uruguai e França), deparei-me com situações nas quais chamou a minha atenção o fato de que empresas que visitei reclamaram muito das dificuldades em lidar com os seus colaboradores e com sindicatos que estariam barrando algumas iniciativas de melhoria.

No primeiro caso, do nosso vizinho do Sul, visitei uma empresa de autopeças que estava prestes a fechar suas portas por dificuldades de lidar com uma mão de obra não colaborativa, aparentemente uma situação normal naquele país nos anos recentes. Como última tentativa, começou a implementar algumas das novas práticas de produção lean. Os enormes sucessos iniciais de ganhos de produtividade e qualidade, e também na melhoria das condições ergonômicas e sociais do trabalho não apenas garantiram que a fábrica não fosse fechada, como também conquistaram o apoio integral dos colaboradores e dos sindicatos que querem acelerar essa transformação. Com isso, agora a matriz da empresa pensa em realizar novos investimentos e trazer novos produtos que fariam crescer as oportunidades de emprego.

Já uma empresa start up que visitei na Franca não teve o mesmo resultado. Por tratar-se de empreendimento pequeno e incerto, as políticas e demandas dos colaboradores apoiados pelos sindicatos tornaram tão grandes as dificuldades, os custos e as incertezas que a empresa decidiu fechar após dois anos de estudos iniciais de mercado e do desenvolvimento de um protótipo, quando chegou a ter um máximo de 25 colaboradores.

Nesses dois países, os sindicatos pouco colaborativos podem eventualmente se tornar obstáculos à melhoria da competitividade das empresas se elas não conseguirem implementar políticas internas adequadas.

Voltando a nossa situação, a relativa paz nas empresas e o maior espirito de colaboração dos últimos anos deve-se a melhoria das condições econômicas que levam a aumentos salariais acima da inflação, baixos níveis de desemprego, sindicatos e centrais sindicais ligadas a partidos políticos que assumiram o poder e levaram lideranças sindicais a assumirem posições nos poderes executivo e legislativo.

E, principalmente, a implementação de práticas de gestão de pessoas mais eficazes por parte das empresas que pressupõem mais respeito, mais educação e mais oportunidades de desenvolvimento das pessoas nas empresas.

Porém, as condições ambientais podem mudar. O crescimento econômico anêmico pode deteriorar as condições salariais e de emprego, assim como mudanças políticas poderão significar menos acesso a cargos públicos de lideranças sindicais que passariam, assim, a focalizar mais suas energias para as empresas.

Se isso acontecer, então saberemos efetivamente se as mudanças nas empresas estão efetivamente sólidas, se a mudança de comportamento e atitudes das supervisões, gerências e direções efetivamente ocorreu ou se apenas se beneficiou das condições econômicas e políticas.

Se as empresas tiverem efetivamente capacitado suas lideranças para implementar novas práticas de gestão nas quais respeitar as pessoas, envolvê-las nas decisões, melhorar as condições de trabalho, criar condições de progresso na empresa, então serão esses os fatores que poderão manter um bom relacionamento nas empresas.

Quanto mais as empresas perceberem que há necessidade de harmonizar os diferentes interesses dos acionistas, clientes e colaboradores em busca de situações ganha-ganha e baseadas em confiança e respeito mútuos, maiores serão as chances de quaisquer divergências serem resolvidos com base no diálogo e entendimento. Aproveitar os períodos de paz para se preparar adequadamente para dificuldades que poderão surgir no futuro é a melhor receita.

Por outro lado, a possível continuidade das manifestações focalizadas nos temas e questões de interesse público reflete a precariedades das políticas públicas. Talvez isso force ao início da realização de mudanças mais profundas e efetivas na administração pública.

Fonte: Revista Época NEGÓCIOS

Fonte: Época Negócios
Publicado em 17/06/2013