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O que a ida de Neymar para o Barcelona ensina para as empresas

Há limites para a contratação de superestrelas?

A analogia entre o mundo dos negócios e do futebol há muito tempo deixou de ser inusitada enquanto analogia, mesmo porque o futebol, assim como muitos outros esportes, tornou-se em si próprio um grande negócio.

Mesmo assim, não deixa de ser instigante compararmos aspectos da gestão empresarial ao mundo esportivo. Em duas colunas anteriores (Gestão influencia o desempenho esportivo) e (Corinthians, Espanha e Miami Heat) já comentei sobre o impacto da gestão sobre o desempenho esportivo.

Há pouco tivemos a rumorosa transferência de Neymar, o jogador mais midiático do país, para o Barcelona, por € 28 milhões. Não foi a transferência mais relevante do ano, nem mesmo da semana, se pensarmos nos valores financeiros envolvidos. Enquanto o ex-jogador santista mudava de clube, o artilheiro colombiano Falcão Garcia se transferia, por € 45 milhões, do Atlético de Madrid para a equipe do Mônaco, que disputa o campeonato francês.

Mesmo assim, as expectativas sobre o futuro desempenho do jogador brasileiro no melhor time do mundo na década são muito grandes e nos fazem refletir sobre o papel das superestrelas no futebol e na gestão empresarial.

Assim como em muitas empresas, as equipes de futebol parecem sempre querer ter em seus quadros os melhores profissionais, logicamente dependendo da disponibilidade de recursos financeiros.

Neymar; durante sua apresentação como jogador do Barcelona (Foto: Agência EFE)

Nas empresas, tal decisão existe também, podendo significar buscar no mercado o que há de melhor em termos de qualificações profissionais, quer seja para preencher o quadro de trainees, os níveis intermediários de gestão e até mesmo os dirigentes máximos ou o presidente.

Porém, há empresas que preferem escolher as pessoas medianas mais por suas qualidades de serem capazes de trabalhar em equipe do que as superestrelas. E optam por se esforçarem na busca de processos extremamente eficazes, além de sólidos esquemas internos para o desenvolvimento de pessoas. Esse sistema costuma funcionar melhor no longo e médio prazos.

Podemos buscar no próprio Barcelona alguns elementos para reflexão, pois esse clube catalão tem tido uma história recente particularmente interessante nesse aspecto. Ganhador de muitos títulos nos anos recentes, não tem sido diferente na busca pelos melhores jogadores nos últimos anos.

Só para lembrar algumas, houve várias contratações de vulto. Em seguida, listamos algumas delas, seus respectivos valores e origem, assim como seu desempenho. Alex Song veio do Arsenal por € 19 milhões e marcou um único gol em 59 jogos. Fabregas também veio do Arsenal, custou € 34 milhões e foi titular em metade dos jogos. Sanchez, ex-Udinese, custou € 26 milhões e ficou na reserva, entrando em poucos jogos. Ibrahimovic foi uma das mais caras contratações, tendo custado € 46 milhões. Jogou uma temporada, perdeu o título da UEFA para seu ex-clube, o Inter de Milão, antes de voltar a Itália e, em seguida, ir para a França. O ucraniano Chgrynskly custou € 25 milhões, jogou uma vez e retornou a sua equipe inicial com perda de € 10 milhões para o Barcelona. Tivemos também o fracasso retumbante dos ex-palmeirenses Keirisson, comprado por € 14 milhões, e Henrique, por € 8 milhões, que nunca jogaram na equipe catalã, tendo sido emprestados a outras equipes até voltarem recentemente ao Brasil.

As aquisições que deram certo foram a do argentino Mascherano, comprado por € 19 milhões e que se consolidou na equipe em grande parte por sua versatilidade e espírito de equipe, tendo sido titular em várias posições, além de Piquè, que havia jogado nas equipes de base do Barcelona, saído para outros clubes e transferido de volta por meros € 5 milhões, o mais barato de todos os mencionados, que não apenas tornou-se titular absoluto, como recebeu a prestigiosa faixa de capitão da equipe.

Quais as lições que podemos tirar disso? A mais evidente mostra que, considerando-se os valores financeiros, os mais caros e, em princípio os melhores, nem sempre trouxeram os melhores resultados.

Porém, o que difere substancialmente a equipe do Barcelona das demais é a sua conhecida capacidade de formar seus próprios jogadores e de ter um padrão de jogo particular. Seus melhores jogadores, como Iniesta, Xavi, Messi, Puyol, Victor Valdés etc., saíram das equipes de base, onde já praticavam o mesmo tipo de futebol solidário e coletivo, onde as estrelas podem brilhar dentro do espírito de equipe. Lógico que passaram por diversas peneiras nas quais foram obrigados a mostrar suas capacidades para poderem prosperar na carreira.

A compra de Neymar pelo Barcelona pode ser mais uma dessas compras mal sucedidas, pois há dúvidas se ele vai se encaixar no estilo coletivo ou vai querer aparecer com jogadas lustrosas pouco objetivas ou oscilar entre lampejos de gênio e a omissão medíocre.

Uma questão antiga que paira no ar em muitas empresas é a aparente dúvida entre a alternativa de desenvolver e promover colaboradores da casa ou buscar os melhores no mercado – a qual já fiz referência na coluna “Contratar ou promover”. A experiência do Barcelona mostra que promover os da casa funciona melhor, mas considerando-se a existência de um esquema de padronização e filosofia da equipe bem definida.

Nas empresas acreditamos que os melhores processos realizados por pessoas medianas, como são a maioria das pessoas, são capazes de trazer resultados excepcionais. E que pessoas excepcionais, as superestrelas, em processos inadequados trazem resultados ruins.

Ou seja, os melhores indivíduos por si só não trazem os melhores resultados, mostrando assim a importância e o poder dos processos robustos.

Com vai ser a experiência no Barcelona do considerado melhor jogador do Brasil na atualidade? Vai se constituir em mais um remorso ou arrependimento do Barcelona ou ser a exceção, dependendo de como vai se enquadrar na filosofia da equipe de padronização do jogo e espírito coletivo.

Mas o que essa equipe tem mostrado, e isso vale também para as empresas, é o limite das superestrelas em trazer bons resultados para os negócios.

Fonte: Revista Época NEGÓCIOS

Fonte: Época Negócios
Publicado em 03/06/2013