Uma tradicional loja de departamentos de Paris está promovendo durante os meses de abril, maio e junho uma exposição chamada le Brèsil anunciada em um grande cartaz na parede principal na entrada.
Supõe-se que o país vai ser muito falado no mundo todo nos próximos três anos devido aos grandes eventos esportivos, a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016.
A audiência e atenção de bilhões de telespectadores em seus países de origem acompanhando as emoções esportivas, além da visita de milhares de turistas de mais de uma centena de países que acompanharão in loco os eventos, leva a crer que o Brasil estará na moda.
Aproveitar essa oportunidade – imaginando que essa atenção e destaque da mídia de todo o mundo pelo que acontecerá nos estádios e instalações esportivas poderá expor o país de uma forma positiva e atrair a atenção e a curiosidade para outras dimensões além das esportivas – parece ter sido a motivação da direção dessa loja de departamentos para esse evento.
A exposição procura explorar múltiplas facetas da cultura e da economia brasileira. Desde algumas marcas e produtos “chic” dos grandes centros urbanos, como Rio e São Paulo, até outras que representam o Brasil rural e rústico.
Espalhados pelos cinco andares do grande magazin, cada um dedicado a um tipo de produto, os itens brasileiros expostos e colocados à venda são móveis, produtos de higiene e beleza, alimentos, bebidas, objetos de cozinha, calçados, acessórios e roupas, vestiário esportivo etc. Há mais de uma centena de produtos em exposição.
Esses produtos estavam misturados aos produtos tradicionais do centro comercial, mas eram colocados em destaque através de cartazes e decorações específicas em locais de fácil acesso.
Além disso, havia exposições de fotos e imagens, trechos de programas de TV, exposição sobre Brasília, em homenagem ao arquiteto brasileiro mais conhecido no mundo, Oscar Niemeyer.
Na minha visita aos vários andares da exposição, percebi que chamava muito pouco a atenção, dos clientes que pareciam passar ao largo e não se interessar. Se houvesse interesse, o próximo passo seria procurar conhecer melhor o produto em detalhe e saber os preços.
Uma almofada de 50 cm x 50 cm com desenhos de representantes da fauna e flora tropicais custava 230 euros, cerca de 570 reais, ou um porta moedas de plástico era vendido por 40 euros, cerca de 100 reais, entre outros exemplo, não pareciam atrair muito o interesse de consumidores acostumados a marcas e produtos de melhor qualidade e preços mais competitivos.
Encontrei vários brasileiros que passavam pelos vários departamentos do centro comercial se misturando aos clientes franceses e de outros países. A reação a minha pergunta do que estavam achando da exposição era quase sempre “legal essa divulgação do Brasil, mas achei os produtos sem graça e caros”.
É possível que um produto de moda tipicamente nacional tenha uma presença global. O exemplo clássico é a Havaianas, um produto de muito sucesso, conhecido em praticamente todo o mundo, tendo sofrido uma profunda transformação, deixando de ser um produto barato e sem variedade para classes C, D e E, para ser consumido por todos os segmentos de renda através de uma mudança de imagem e de aumento de sua variedade.
Além de vítimas de cópias e imitações baratas vindas da China principalmente, o produto local sofre a competição de produtos inovadores e com melhor ou igual conforto e beleza. Mas a empresa brasileira procura reagir, como é padrão nos ambientes competitivos.
Essa iniciativa da loja de departamentos é louvável e pode ser usada como um aprendizado para as empresas brasileiras interessadas em exportar mais e se tornarem cada vez mais competitivas internacionalmente.
Se o Brasil vai fazer bonito na organização dos eventos e no desempenho esportivo, ainda veremos. Mas pela percepção da exposição le Brèsil, o Brasil pode entrar na moda por conta dos grandes eventos, no entanto, grande parte de seus produtos parece que ainda não entrou.
Fonte: Revista Época NEGÓCIOS