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Novo regime automotivo não traz inovação e gera mais burocracia

O papel do governo deveria ser o de criar condições para o aumento da competitividade e da inovação, como a redução e simplificação de impostos

Com o Novo Regime Automotivo chamado “Inova-ar Auto”, o governo brasileiro definiu uma série de incentivos para estimular e aumentar o investimento automotivo e melhorar sua capacidade competitiva.

A indústria automotiva brasileira é, hoje, uma das maiores do mundo, gerando empregos e riqueza para o país. O Brasil é o 4º maior mercado automotivo do mundo, aproximando-se do volume de 4 milhões de veículos produzidos e vendidos anualmente, sendo superado apenas pela China, EUA e Japão.

Apesar desse sucesso e crescimento dos últimos anos, há dificuldades para manter a indústria competitiva, tanto que as importações vinham aumentando significativamente até que o governo aumentou as barreiras protecionistas, e as exportações vêm minguando, apesar de estarem instaladas no país a maioria das maiores montadoras do mundo.

Trata-se, portanto, de um novo esforço para enfrentar esse desafio de competitividade. A nova política governamental procura agora apoiar a capacidade de inovação da indústria através de incentivos “à pesquisa e ao desenvolvimento” (P&D). Além disso, há estímulos fiscais à produção de veículos com menor consumo de combustível e também regras de conteúdo local, entre outros temas. 

O estímulo à inovação é uma das novidades para o setor. A premissa é que a indústria local não é avançada tecnologicamente. Embora essa constatação seja inequívoca, a proposição é incorreta. Governos anteriores já tentaram medidas semelhantes para a indústria eletrônica com a ideia de estimular essa indústria então nascente no Brasil. Foi uma política fracassada, em grande parte pela dificuldade de se mensurar o esforço em P&D. As empresas foram obrigadas a criar burocracias adicionais para “mostrar” investimentos inexistentes, pois não havia o interesse real e a necessidade concreta da inovação.

Mas como, então, resolver um problema evidente: a falta de competitividade e de modernidade tecnológica da indústria que cresceu significativamente em volume, mas não se modernizou na mesma velocidade?

O papel do governo deveria ser o de criar condições para o aumento da competitividade e da inovação, como a redução e simplificação de impostos, a melhoria da infraestrutura para facilitar a logística, a melhoria do sistema educacional e tecnológico etc., sem artificialismos, mas com mudanças efetivas naquilo que impacta o desempenho das empresas.

Por exemplo, uma redução de impostos pela metade, atingindo cerca de 15% de carga tributária, ainda que continuasse a ser uma das maiores do mundo (a dos EUA é de 6%), junto com reduções de custos de 10% nas montadoras e na cadeia de suprimentos, daria a essa indústria uma competitividade muito maior. A consequência disso não seria necessariamente uma redução nos preços finais dos produtos, mas abriria a possibilidade do aumento do conteúdo tecnológico com a oferta de produtos mais avançados que agregassem mais valor aos clientes.

Não se espera que as empresas multinacionais desenvolvam inovações no Brasil. Elas precisam ter condições competitivas e institucionais para colocar nos veículos aqui produzidos as muitas inovações já lançadas em seus países de origem.

Algumas das empresas mais inovadoras do mundo, como Google, Amazon, Apple, Facebook etc., não surgiram e prosperaram a partir de estímulos governamentais, mas da existência de um ambiente competitivo que permite e estimula a inovação.

Ainda poderíamos aproveitar para fazer uma reflexão. Por que ainda não temos uma montadora nacional? Por que temos na Embraer um exemplo de empresa local em um mercado extremamente competitivo e com interferências decisivas de governos por suas implicações militares e estratégicas? Países com uma indústria muito mais nova que a brasileira, como a Índia, China, Coreia, hoje têm montadoras locais que estão se tornando empresas globais. E cada uma, a seu modo, bastante inovadoras. Mas esse é um assunto para a próxima coluna. Até lá!

Fonte: Revista Época NEGÓCIOS

Publicado em 09/10/2012