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Mais lições de competitividade: Índia e África do Sul

Técnicas de países em desenvolvimento são exemplos de uma busca maior pela competitividade

Na minha prévia coluna intitulada “Brasil ‘protecionista’ precisa aprender ‘lição’ mexicana”, comentei sobre uma experiência mexicana de melhoria da competitividade de médias e pequenas empresas buscando melhorias no seu desempenho. 

Na semana passada, tive a oportunidade de aprender sobre novas experiências de países em desenvolvimento, Índia e África do Sul, orientadas na mesma direção de buscar maior competitividade, embora os tipos de abordagem e de empresas variassem muito. 

Estive fazendo palestra em evento na Cidade do Cabo, promovido pelo Lean Institute África. Entre as várias experiências e casos apresentados, chamou a minha atenção a experiência de formação de lideranças para a indústria em um projeto entre os governos da Índia e do Japão (“Líderes Visionários para a Manufatura”) para permitir o aprendizado e a qualificação de lideranças empresariais, possibilitando uma mudança na mentalidade empresarial. 

Resultado da cooperação entre órgãos do governo japonês e a Confederação da Indústria da Índia, como principais entidades envolvidas, tem permitido não apenas os ganhos econômicos substanciais como também a formação de uma nova geração de lideranças. A maior amplitude desse projeto permitirá um substancial fortalecimento da capacidade competitiva do país.

Por outro lado, na África do Sul, chamou a minha atenção o esforço para a melhoria da capacidade e da eficiência de certos órgãos do governo. Um projeto junto ao Ministério da Justiça daquele país tem focalizado seus esforços na melhoria do atendimento de decisões dos tribunais acerca da custódia de crianças, para tornar as decisões mais ágeis. Além disso, há uma série de iniciativas no setor de saúde pública, um setor no qual a África do Sul tem uma das maiores porcentagens de investimento do PIB no setor no mundo e, mesmo assim, tem resultados muito deficientes. A questão central tem sido como tornar o sistema mais eficaz sob a ótica dos pacientes.

Essas iniciativas governamentais não são exclusivas a esse país. Em diversos países do mundo desenvolvido temos notado o crescente interesse de governos com a filosofia lean, tais como nos Estados Unidos (Federal Drug Administration - FDA - procurando reduzir o tempo de testes para colocar um novo medicamento no mercado), Inglaterra (Saúde, Sistema de Transportes), Holanda (Assistência Social), Austrália (Administração Municipal), etc. Ainda são sucessos parciais e isolados.

Economistas em todo o mundo ainda parecem ter dúvidas e se perguntam se a administração das organizações é importante. Em recente artigo publicado na revista Quarterly Journal of Economics, em 25 de agosto, intitulado “Does Management matter? Evidence from India”, os autores mostraram os resultados da aplicação de algumas técnicas básicas de manufatura em empresas do setor têxtil da Índia e notaram excelentes resultados em ganhos de produtividade e qualidade, além da liberação de capacidade produtiva, requerendo menores investimentos para crescer.

Apesar dos progressos feitos nos últimos anos em muitas empresas, o Brasil precisa despertar para a necessidade de melhorar dramaticamente o desempenho de sua economia. Nesta semana, mais um pequeno passo foi dado no sentido de reduzir os elevados custos de se produzir no Brasil, ou seja, foram reduzidos os custos trabalhistas sem prejudicar os trabalhadores. Mas tudo isso não é suficiente para tornar o país competitivo e enfrentar os desafios crescentes da competição global.

A postura protecionista tem resultados de curto prazo apenas. Os Estados Unidos formalmente tem reclamado da postura recente do governo brasileiro através de seu embaixador na OMC - Organização Mundial do Comércio.

A presidente Dilma Rousseff afirmou recentemente que a busca pela competitividade é fundamental para o Brasil. "Não seremos um país justo se não formos capazes de ser um país competitivo".

Mudanças na política de juros e melhorias na infraestrutura são medidas importantes. Mas se não olharmos mais para dentro das organizações, esse esforço não será suficiente para que o país sobreviva e prospere em um mundo em que os países desenvolvidos não estão parados e os países emergentes crescem e se desenvolvem em ritmo crescente.  

Fonte: Revista Época NEGÓCIOS

Publicado em 17/09/2012