Agosto foi o melhor mês da história da indústria automobilística brasileira em termos de vendas, com o recorde de cerca de 400.000 unidades vendidas.
A principal razão foi o possível término da redução do IPI sobre os veículos, previsto para o último dia do mês, antes da decisão do governo de estender esse período até o final do mês de outubro.
Essa possibilidade significava que os veículos ficariam mais caros entre 1,6% e 10% com a mudança da alíquota desse imposto. Os consumidores teriam, então, antecipado suas compras e, com isso, acabaram levando ao enorme pico de venda no mês recém-findo.
Tem sido comum nas políticas governamentais no Brasil essa prática de implementar medidas pontuais para resolver problemas momentâneos. Assim, o baixo crescimento da economia e em particular das vendas automotivas nos primeiros meses do ano levou o governo a tomar a medida de redução temporária de impostos na expectativa da redução de preços e melhoria das vendas, garantindo, assim, empregos ao longo da cadeia produtiva.
O problema que esse tipo de política traz é intensificar picos e vales que normalmente ocorrem nos mercados. Se os consumidores antecipam suas compras, isso significa que nos meses seguintes o consumo será reduzido. Após o pico, se seguira um profundo vale, uma queda substancial do volume de vendas.
Por outro lado, os recursos disponíveis (fábricas, pessoas etc.) para a produção são basicamente os mesmos ao longo do pico e do vale.
Desse modo, no período de pico há uma sobrecarga na utilização dos recursos, como fábricas operando a todo vapor, pessoas trabalhando de forma intensa, fornecedores também tendo que intensificar suas produções etc.
A figura ao lado representa as oscilações intensas das vendas causadas por essas medidas e a relativa estabilidade da capacidade de produção.
Desse modo, nos picos há uma sobrecarga na utilização dos recursos com horas extras, aumento nos ritmos de produção etc. E nos vales há uma significativa ociosidade.
No mês de abril deste ano, as vendas fora de 199 mil unidades, metade, portanto, do volume de agosto. Uma enorme oscilação.
Outro aspecto negativo é o impacto sobre o mercado de usados que se tornam desvalorizados mais rapidamente.
A redução de juros e a redução permanente de impostos são medidas importantes que devem continuar a serem buscadas. E deve-se evitar medidas “pipoca”, que aparentemente “resolvem” o problema no curto prazo, mas causam problemas sistêmicos e permanentes para a indústria.
É necessário reduzir os custos gerais e sistêmicos da indústria. Essa oscilação abrupta não ajuda. A instabilidade é um dos maiores inimigos da busca da eficiência.
Esse mesmo efeito pode ser notado na indústria de caminhões. Após um ano de recordes de produção e vendas em 2011, neste ano temos notado fábricas paradas, diminuição do número de turnos de trabalho, períodos longos de férias coletivas etc. Nesse caso, foi uma mudança mal planejada de substituição de um tipo de tecnologia de motores que melhorou as condições ambientais, mas, por outro lado, significou aumento de preços e novo tipo de combustível (Euro 5).
Se quisermos ter uma indústria competitiva, deveremos evitar ao máximo esses picos e vales artificiais para poder utilizar melhor os recursos produtivos.
Fonte: Revista Época NEGÓCIOS