OUTROS

Prezada Presidente da Petrobras,


Parabéns!
Há muito tempo que não se via uma alta executiva desse gabarito, a frente de uma grande e importante empresa como essa, falando de forma tão franca e transparente sobre um problema muito sério que quase todas (ou mesmo todas) as companhias no mundo inteiro enfrentam, mas bem poucas demonstram a coragem de revelar publicamente: problemas de gestão.

Por isso, achei muito corajosa sua entrevista, dado ao jornal Valor Econômico, na edição do dia 26 de junho, na qual, segundo a reportagem, a senhora teria apontado que a estatal “vinha divulgando metas que sistematicamente eram descumpridas, conviviam com a falta de planejamento, controles insuficientes e ineficiência operacional.”

“As antigas projeções de produção, consideradas irrealistas pelo mercado e, agora, assumidas pela nova administração, indicou a presidente, contavam com a sorte para serem atingidas”, diz um trecho da matéria, assinada por Cláudia Schüffner, Rodrigo Polito e Marta Nogueira.

Pois bem, presidente Graça, você certamente deve saber que sua fala foi não apenas corajosa, mas também sintonizada com o que de mais moderno se estuda e se pratica hoje em gestão de empresas.

Certamente você sabe que falou em público como uma típica “presidente lean”.

Estou falando do sistema de gestão originário do modelo Toyota, que vem sendo adotado hoje por empresas de todos os setores e em todo mundo.

Em primeiro lugar, porque um dos princípios fundamentais do sistema lean diz que, numa empresa, seja em comunicação interna ou externa, a verdade deve sempre prevalecer – mesmo que isso, a verdade, não seja lá a coisa mais agradável para se ouvir naquele momento.

Segundo, porque o sistema lean também nos ensina que, numa empresa, só há uma forma realmente eficiente de se resolver os problemas: expondo-os. Seja qual for o problema ou a empresa

Deixando-os (os problemas) tão transparentes e a vista quanto possível, para que ocorra o óbvio – para que eles possam ser encarados e, então, resolvidos.

Essa é a gestão mais moderna que existe. E é assim que deveria ser em todas as gestões de todas as empresas.

Infelizmente, em boa parte das companhias – para não dizer a maioria ou todas – ocorre exatamente o contrário. Há uma (má) cultura corporativa que preconiza que “esconder” os problemas do cotidiano do negócio é a coisa mais “esperta” a se fazer.

Quem convive no dia a dia de uma grande corporação sabe que isso é fato.

Boa parte do quadro humano de uma empresa com gestão tradicional passa o dia convivendo com processos produtivos ruins, ultrapassados, sem controles ou planejamentos claros e científicos. Mas quase ninguém fala nada sobre isso, e a “sujeira” vai sistematicamente para debaixo do tapete.

E todos sabem, evidentemente, o porquê disso ocorrer no mundo corporativo: pelo medo que a “culpa” pelos problemas, pelos erros, falhas e descontroles caiam sobre nossas cabeças, gerando punições ou desligamentos.

Pois o sistema lean sugere um conceito de gestão radicalmente diferente que possa eliminar tanto esse medo como, consequentemente, tornar os problemas transparentes, para que possamos resolvê-los.

Trata-se da ideia de que, se há um problema, a “culpa” nunca deve ser das “pessoas”, mas sim dos “processos”.

Esses sim, os processos, é que devem ser analisados, corrigidos, transformados, mudados ou eliminados. A “culpa” deve ser sempre dos problemas e não das pessoas.

Mas para fazer isso, não há outra saída: os processos – e seus problemas intrínsecos – devem ficar sempre o mais transparentes possível, claros e lúcidos.

Pois parabéns novamente, presidente Graça Foster.

A má notícia, pelo menos para mim, é que as ações da Petrobrás demonstraram fortes quedas. É triste, pois, mais uma vez, o mercado financeiro refletindo essa cultura corporativa tradicional e ultrapassada do “me engana que eu gosto”, quando deveria ser o contrário – as ações deveriam demonstrar alta.

Eu, mais do que nunca, afirmo publicamente que quero, agora, comprar ações da Petrobrás.

Pois, pelo que se viu na imprensa, ela é uma presidente absolutamente sintonizada com o que de mais moderno e eficiente se conhece hoje no mundo em termos de modelo de gestão. O que certamente fará a empresa continuar evoluindo para se tornar cada dia mais sólida e eficiente.

Fonte: Revista Época NEGÓCIOS

Publicado em 02/07/2012