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Estímulos governamentais não promovem competitividade real


Um executivo de uma empresa sugeriu recentemente ao governo que este se preocupasse mais efetivamente com a excelência na gestão das empresas. A resposta de um alto representante da gestão da economia foi que isso seria responsabilidade de cada empresa.

Pois nas últimas semanas, preocupado com a perda de competitividade de alguns setores, inclusive do automotivo, o governo brasileiro tem lançado mão de várias iniciativas, tais como a redução do IPI, aumento dos impostos de importação, esforços para reduzir a valorização do real, melhores condições para o financiamento ao consumidor via juros menores e prazos maiores, imposição de maiores níveis de conteúdo local para novos investimentos etc. Com essas medidas, o governo espera não apenas proteger a indústria local da competição com os produtos importados, como também estimular o mercado interno que andou cambaleando recentemente.

Com isso, “Vendas de veículos se recuperam em maio”, foi uma das manchetes da semana passada.

E a partir disso, ouviram-se declarações públicas de autoridades governamentais e executivos da indústria, tais como “agora nossa indústria está mais competitiva”.

Não deixa de ser parcialmente verdade. As medidas parecem estar dando certo. As importações reduziram e o mercado interno reagiu.

Mas essas aparentes melhorias das condições competitivas são o caminho para a perda de competitividade real no médio e longo prazos.

O governo prefere seguir firme disponibilizando bilhões de reais em recursos para a compra de mais máquinas e equipamentos. Por sua vez, a empresa desse executivo que sugeriu ao governo uma melhor gestão das empresas está implementando técnicas e programas baseados na filosofia lean, que estão liberando capacidade produtiva por meio da melhor utilização das máquinas e das pessoas. Esse processo está mostrando que havia outras fábricas escondidas dentro da empresa. A capacidade produtiva liberada era uma capacidade ociosa oculta.

Esse executivo sabe disso. Mas a autoridade governamental parece desconhecer. Ou ignorar. E prefere continuar a mobilizar e liberar recursos financeiros para ampliar a capacidade produtiva, quando isso nem sempre é necessário. Isso significa um péssimo uso dos recursos públicos, escassos em um país com tantas carências e necessidades básicas em infraestrutura e investimentos sociais. A obsessão por financiar bens de capital como sinal de progresso e com o propósito de aumentar a competitividade tira o foco das enormes potencialidades de se aumentar a competitividade real.

A competitividade real origina-se das melhorias na produtividade e eficiência, na melhor qualidade, em novos e melhores produtos, em custos menores etc. É o que efetivamente vai trazer melhores condições para a indústria e trazer mais valor para os clientes.

Os fatores externos da competitividade, como as taxas de câmbio, administração de subsídios e impostos, crédito ao consumo e ao investimento, medidas protecionistas, podem ajudar apenas momentaneamente.

Assim, vejamos o câmbio, por exemplo. A valorização do real, saindo de R$ 1,5 para R$ 2 torna as indústrias exportadoras mais “competitivas”, mesmo que nada tenha acontecido dentro das empresas.

Ou a redução de impostos possibilita uma redução de custos, que pode ser repassada aos clientes com preços reduzidos e ampliação das vendas, ou maiores margens de lucro.

Mas são medidas efêmeras. A competitividade real focaliza nos indicadores de desempenho que dependem exclusivamente da empresa e de sua gestão.

Se uma empresa exporta, uma atitude correta seria se preparar internamente, com mudanças nas práticas gerenciais, para um dólar equivalente a R$ 1,5 ou menos. Assim, estaria se preparando para piores condições macroeconômicas.

Medidas pontuais podem ajudar momentaneamente. O governo tende a achar que o problema da competitividade pode ser resolvido com essas medidas específicas. E, no longo prazo, as empresas teriam recursos e estímulos para investirem em máquinas para modernização e ampliação da capacidade. Ou ainda criar fusões e aquisições para criar os “campeões nacionais”, empresas gigantes que, em tese, teriam melhores condições de competir globalmente. Nenhuma dessas medidas focaliza na competitividade real.

É verdade que melhorar a gestão é responsabilidade das próprias empresas. Governos tendem a não ser bons nisso. Mas os ganhos advindos do apoio para programas de melhorias seriam infinitamente maiores e muito mais baratos, além de terem maiores efeitos na competitividade real do país.Trariam resultados mais sustentáveis do que medidas “pipocas”, que pulam aqui ou acolá ao sabor das vicissitudes e dificuldades momentâneas.

Precisamos de uma visão e de um plano para melhorar a eficiência e melhoria da gestão das empresas. Esse, sim, é o caminho efetivo para aumentar a competitividade real da indústria e da economia.

Fonte: Revista Época NEGÓCIOS

Publicado em 11/06/2012