Os hospitais estão doentes e fazem mal à saúde. Não apenas o sistema público, mas também aqueles hospitais considerados de elite. Recentemente, pude perceber in loco essa situação. Fiquei internado por uma semana para a realização de uma série de exames. Nada grave. Apenas um acompanhamento preventivo de um paciente com problemas renais.
Mas o que eu pude perceber nessa semana?
Erros e falhas constantes que deixariam ruborizados aqueles que acham que podemos mensurar defeitos em partes por milhão. A imprensa divulga com frequência os casos mais graves, absurdos e bizarros, como o do menino que recebeu ácido no lugar de remédio, do aposentado com problemas cardíacos que sofreu um AVC após ser tratado com xarope, do outro menino que acabou falecendo após ter apendicite negligenciada. No meu caso, eu poderia quase que contar erros por hora ou erros em elevadas porcentagens.
Senão vejamos. Quase que diariamente, faltava um ou mais alguns dos remédios que eu deveria tomar. As atendentes me pediam para usar os “meus”, que havia trazido comigo enquanto os da farmácia do hospital não chegavam. Um pedido médico de determinada pomada para tratar de problemas causados pelo uso de soro demorou exatas 24 horas para chegar da farmácia, que fica a uns 5 minutos de elevador do meu quarto.
Não se sabia inicialmente se um dos exames a ser realizado seria coberto pelo meu plano de saúde. Por acaso, eu tenho dois planos. Isso me levou a ficar um dia a mais no hospital e a ocupar um tempo enorme dos médicos nas negociações. Talvez isso tenha custado mais caro do que o exame em si.
Não havia informações sobre se eu deveria ou não estar em jejum para fazer exames que ninguém sabia quando iriam efetivamente ocorrer. Às vezes, o jejum se mostrara desnecessário e em outros o exame era adiado. Sem contar as dúzias de picadas que levei em minhas veias consideradas “dançarinas”. Alguns conseguiram ser infalíveis enquanto outros sofriam e me faziam sofrer.
Interessante era olhar para o pessoal de enfermagem e de suporte e ver que, na maioria do tempo, estavam ocupados preenchendo relatórios com informações. E quando eu, o paciente, e supostamente o motivo da existência de tudo aquilo, perguntava alguma coisa que envolvia a mim, ninguém sabia informar.
Mas de uma coisa eu não posso reclamar: da equipe médica que me tratou com grande atenção e cuidado, liderada por uma médica excepcional que me trata há mais de 30 anos. Sorte minha? Ressalte-se que não culpo as pessoas pelos problemas que enfrentei. Os problemas originavam-se de processos que estavam quebrados, mal-definidos, sem padrões e métodos.
Há um número crescente de autoridades públicas e privadas que reconhece que um dos principais problemas na área da saúde é o da gestão, e não necessariamente da falta de recursos. Ainda bem! Os problemas mencionados aqui são muito pequenos frente aos milhares de erros e problemas que ocorrem nos hospitais.
Vários hospitais no mundo estão começando a implementar mudanças profundas em sua gestão através da filosofia lean, com resultados expressivos na diminuição da mortalidade, tempos e custos hospitalares, conforme é relatado no livro “Uma Transformação na Saúde: como reduzir custos e oferecer um atendimento inovador”, de autoria de John Toussaint e Roger A. Gerard, recém-lançando no Brasil.
Minha experiência pessoal recente reforçou que efetivamente os hospitais precisam transformar de forma radical a sua gestão. As empresas industriais e de serviços podem ensinar muito, principalmente aquelas que também estão mudando o sistema de gestão. Muita adaptação ao ambiente hospitalar será necessária.
Hospitais precisam melhorar muito, não apenas porque consomem desnecessariamente uma vasta quantidade de recursos. Mas principalmente porque estão cuidando muito mal do nosso mais precioso bem: a nossa saúde.
Fonte: Revista Época NEGÓCIOS