Desde os primórdios da organização humana, a busca por formas eficientes de coordenar esforços coletivos tem sido central nas sociedades. Ao longo da história, diversos modelos de gestão surgiram. Alguns ficaram confinados a períodos ou setores específicos, enquanto outros foram superados pelas transformações econômicas e sociais. No entanto, um sistema relativamente recente tem se mostrado flexível e adaptável: o lean. Criado originalmente pela Toyota, esse modelo se espalhou por diversos setores, indo muito além da indústria automotiva.
Sua força reside não só nos métodos e técnicas, mas na sua "elasticidade" – a capacidade de se renovar, cruzar fronteiras setoriais e permanecer relevante em contextos diferentes de sua origem. O sistema lean vai além de um mero conjunto de técnicas: é uma abordagem de gestão que se adapta continuamente às necessidades das organizações. Essa versatilidade o torna aplicável em cenários variados.
No Brasil, o pensamento lean ganhou força há cerca de 30 anos e tem demonstrado relevância crescente. Cada nova aplicação reforça que esse sistema não se limita a ferramentas isoladas para a indústria, mas é um modelo de gestão para qualquer organização. Seu potencial transformador aparece não só em fábricas, mas em escritórios, hospitais, escolas e até na administração pública.
Inicialmente, houve resistência: advogados viam o método como exclusivo da manufatura, sem conexão com sua rotina. Com o tempo, porém, os resultados surgiram: aumento no faturamento, melhoria no ambiente de trabalho e maior qualidade de vida para a equipe. Hoje, práticas e conceitos lean integram todo o ciclo de relacionamento com clientes, do primeiro contato ao pós-atendimento, provando a flexibilidade do método no setor jurídico.
O escritório aplica kaizen para aprimorar rotinas, reuniões diárias de gerenciamento para monitorar indicadores e identificar problemas, e mapeamento de fluxo de valor para eliminar gargalos e desperdícios. Essas técnicas liberaram tempo para sócios e colaboradores explorarem novas frentes, como publicar livros, dar aulas em universidades e palestrar em eventos. O impacto foi tão grande que inspirou outros escritórios, promovendo mudanças positivas no setor.
Esse caso reflete um movimento crescente no Brasil e no mundo. Hospitais usam lean para reduzir filas e aprimorar a jornada do paciente. Universidades aplicam o pensamento lean para reestruturar processos administrativos e currículos, elevando eficiência e satisfação de alunos e professores. Empresas de tecnologia e startups integram kanban e outras ferramentas lean para inovar mais rápido.
A repercussão do caso chamou a atenção de James Womack, um dos principais responsáveis pela disseminação do sistema Toyota globalmente. Em entrevista recente, ele elogiou a ousadia da iniciativa, destacando a importância de profissionais dispostos a inovar e ter coragem para experimentar novas abordagens.
O Brasil enfrenta desafios de produtividade, mas exemplos assim mostram que é possível superá-los em diversos setores – não só fábricas, mas escritórios, hospitais, escolas e administração pública. Para elevar a competitividade econômica, é essencial priorizar sistemas de gestão focados em eficiência e eliminação de desperdícios. Há 30 anos vemos benefícios, mas agora urge aprofundar sua aplicação estratégica nas decisões de negócios. Esse movimento pode ser a chave para um crescimento robusto e uma sociedade mais justa e produtiva.