A segurança no ambiente de trabalho é um dos pilares fundamentais para o sucesso de qualquer organização. Ela vai além do cumprimento de normas ou da prevenção de riscos; trata-se de garantir que as pessoas estejam protegidas, tanto fisicamente quanto emocionalmente, criando um ambiente onde possam se sentir seguras e focadas em suas atividades.
Empresas comprometidas com a segurança não se limitam a atender a exigências legais; elas cultivam uma cultura em que o bem-estar das pessoas está diretamente vinculado à produtividade, inovação e sucesso da companhia. A segurança, portanto, não é apenas uma obrigação, mas uma estratégia essencial para desbloquear o verdadeiro potencial organizacional.
De acordo com a teoria de Maslow, clássica em administração, a segurança ocupa um lugar central na pirâmide das necessidades humanas, logo após as necessidades fisiológicas básicas. Antes de aspirar a níveis mais elevados, como autoestima ou autorrealização, os indivíduos precisam se sentir protegidos contra ameaças físicas e emocionais.
Hoje, o conceito de segurança no ambiente de trabalho não se limita apenas à proteção física, mas também à segurança psicológica. Isso está intimamente relacionado a outras dimensões da “pirâmide de Maslow”, como o sentimento de pertencimento e o reconhecimento. Em setores como serviços e tecnologia, por exemplo, onde o risco físico é minimizado, surgem novos riscos, como a pressão emocional, a sobrecarga de responsabilidades e a falta de suporte, que podem afetar profundamente o equilíbrio mental das pessoas.
Em contextos organizacionais, isso significa que, sem uma base segura, as pessoas podem enfrentar distrações, estresse ou burnout, comprometendo diretamente a colaboração eficaz, a criatividade e o desempenho geral. Quando essa necessidade fundamental é negligenciada, o turnover aumenta, e a inovação estagna, afetando os resultados de forma direta.
No século 21, tragédias como o acidente na fábrica de explosivos em Quatro Barras, próximo a Curitiba, que resultou na morte de nove pessoas em 12 de agosto de 2025, reforçam a urgência de priorizar a segurança. No Brasil, essa realidade é particularmente alarmante: em 2024, foram registrados 724.228 acidentes de trabalho, dos quais 74,3% ocorreram no ambiente de trabalho, e 24,6%, durante o trajeto, resultando em cerca de 2,4 mil mortes. No primeiro semestre de 2025, nosso país já contabilizou 1.689 óbitos por acidentes laborais, destacando uma tendência preocupante em meio a subnotificações persistentes.
Esses eventos não são isolados: segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de 3 milhões de trabalhadores morrem anualmente em razão de causas relacionadas ao trabalho, globalmente, com um aumento de mais de 5% desde 2015, além de 395 milhões de lesões não fatais. Tais estatísticas, tanto nacionais quanto internacionais, enfatizam a necessidade de integrar a segurança não apenas como uma questão regulatória, mas como uma responsabilidade central nas empresas.
Essa abordagem pode ser ilustrada pela história da DuPont, empresa americana que vivenciou algo parecido com o que ocorreu em Quatro Barras, quando enfrentou um desastre devastador em uma de suas fábricas de explosivos, no início do século XX. Em 1912, uma explosão na fábrica de Niagara, em Nova Jersey, resultou na morte de 8 pessoas e foi um marco para a empresa, que então percebeu a urgência de reformular suas políticas e práticas de segurança.
Paul O'Neill, ao assumir a liderança da Alcoa em 1987, ofereceu outro exemplo marcante. Em seu primeiro discurso, ele priorizou a segurança no trabalho, declarando-a como o foco principal, ao invés de metas financeiras imediatistas. Para O'Neill, o sucesso só viria quando todos os colaboradores se sentissem respeitados, seguros e valorizados, tanto física quanto emocionalmente.
Essa estratégia transformou a Alcoa. A taxa de incidentes com perda de dias de trabalho caiu de 1,86 para menos de 0,2 por 100 funcionários, com algumas fábricas passando anos sem acidentes. Como resultado, a empresa não só se tornou uma das mais seguras do mundo, mas também viu seu valor de mercado saltar de US$ 3 bilhões para cerca de US$ 27 bilhões ao longo de 13 anos, durante a gestão de Paul O'Neill, ilustrando a conexão direta entre segurança e crescimento sustentável.
A prática de segurança no trabalho deve ser vista não apenas como uma responsabilidade ética ou legal, mas como um pilar estratégico da gestão. É essencial integrá-la em todos os processos, tornando-a um compromisso compartilhado em todos os níveis hierárquicos, como fez O'Neill na Alcoa, onde a segurança deixou de ser uma função isolada para se tornar uma prioridade coletiva, conectada vitalmente à estratégia da organização.
Empresas que adotam essa visão não apenas cumprem obrigações, mas geram resultados concretos: redução de custos com acidentes, maior engajamento e bases sólidas para inovação e ganhos de produtividade. Segurança é uma dimensão inegociável e um dos principais motores do êxito corporativo. No contexto brasileiro, onde os dados revelam uma epidemia silenciosa de acidentes, investir e desenvolver capacidades nessa área não é opcional, mas imperativo para um futuro mais seguro para todos nós.