As organizações não mudam sozinhas. São as pessoas que fazem as transformações acontecerem. Em um momento delicado para o Brasil, marcado por desafios econômicos, sociais e políticos, quem aprende mais rápido e compartilha melhor as descobertas encontra um caminho para prosperar.
É nesse sentido que o conceito japonês de yokoten, que significa literalmente “transferir de lado”, ganha relevância. Inspirado na maneira Toyota de aprender e melhorar, o yokoten privilegia a observação direta, o trabalho colaborativo e a disseminação de boas práticas, criando uma base sólida para a transformação.
O diferencial do yokoten está em sua simplicidade e no potencial de impacto. Ele parte de um princípio essencial: dentro de cada empresa há fontes riquíssimas de conhecimentos: experiências de quem está na linha de frente, ideias testadas no gemba e inovações que, muitas vezes, não ultrapassam as fronteiras de um departamento. O yokoten rompe essas barreiras, democratizando o aprendizado e permitindo que soluções locais se tornem conquistas coletivas.
Mais do que um processo, o yokoten é uma mentalidade que valoriza a colaboração e a humildade. Em uma organização, isso significa reconhecer que as melhores ideias podem surgir de qualquer canto — do chão de fábrica ao escritório executivo.
Como aplicar o conceito no Brasil
No Brasil, onde a criatividade e a resiliência são marcas culturais, o yokoten canaliza essas forças para criar uma rede de aprendizado dinâmico. Imagine um time de vendas que descobre uma abordagem inovadora para engajar clientes e, em vez de guardar o segredo, compartilha essa prática com outros setores, adaptando-a para diferentes contextos.
A implementação do yokoten começa com a identificação de boas práticas, exigindo uma cultura de observação atenta e escuta ativa. Líderes devem incentivar as equipes a documentar sucessos — mesmo os pequenos — e compartilhar lições aprendidas com falhas.
Em um país onde muitas organizações enfrentam restrições de recursos, o yokoten oferece uma solução acessível: não exige grandes investimentos, mas, sim, uma mudança de perspectiva. Uma pequena empresa que descobre como reduzir desperdícios na linha de produção e compartilha esse aprendizado com outras unidades multiplica ganhos sem custos adicionais.
Para que o yokoten floresça, é essencial romper silos organizacionais. No Brasil, onde muitas empresas ainda operam com estruturas hierárquicas rígidas, isso pode ser um desafio, mas também uma oportunidade. Ferramentas como workshops, reuniões de compartilhamento e plataformas digitais podem facilitar essa troca de conhecimento.
Como o yokoten funciona na prática?
Imagine um hospital que adota uma prática bem-sucedida de gestão de filas em um setor e a replica em outros, reduzindo o tempo de espera dos pacientes e energizando equipes que se sentem parte de um propósito maior.
Outro pilar do yokoten é a adaptação. Boas práticas não devem ser copiadas cegamente; elas precisam ser ajustadas ao contexto de cada equipe ou organização. Em um país como o nosso, onde a diversidade cultural e regional é imensa, essa flexibilidade é ainda mais crucial.
Uma estratégia de marketing que funciona no Sul pode precisar de ajustes para engajar consumidores no Nordeste. O yokoten ensina que o aprendizado é dinâmico: ao compartilhar, testamos, refinamos e melhoramos, criando uma cultura viva e ágil, essencial para superar crises.
Tecnologia pode ser grande aliada
A tecnologia pode ser uma grande aliada do yokoten. Plataformas colaborativas, como intranets ou sistemas de gestão do conhecimento, permitem que boas práticas sejam registradas e acessadas rapidamente, democratizando o aprendizado.
Uma rede de franquias, por exemplo, pode usar um sistema interno para compartilhar inovações entre suas unidades, garantindo que uma ideia bem-sucedida em uma loja no interior chegue rapidamente às grandes capitais.
O impacto do yokoten vai além da eficiência operacional; ele transforma a cultura organizacional. Ao valorizar o compartilhamento, as empresas criam um ambiente onde as pessoas se sentem reconhecidas e motivadas. Num momento delicado, quando muitos brasileiros enfrentam incertezas, esse senso de pertencimento pode ser um diferencial.
O yokoten nos lembra que, juntos, podemos encontrar soluções criativas para os desafios mais complexos. E que o próximo grande insight pode estar na mesa ao lado. Cabe a nós buscar, adaptar e compartilhar para construir um futuro mais forte e coletivo.