Uma recente reportagem de capa da revista “The Economist” questionou como é possível aumentar a inteligência das pessoas no mundo. Estudo recente indica que o QI (Quociente de Inteligência) médio, em nível global, tem aumentado ao longo das últimas décadas. Mas a média global tem sido puxada para cima por países ricos, que avançam a passos largos para patamares inéditos. Em países mais pobres, a situação é bem diferente, o que significa que a diferença, que já é expressiva, continua aumentando em relação aos países de alta renda.
Embora a matéria aborde o tema sob um prisma macroeconômico, considerando aspectos nutricionais da população, por exemplo, ela nos permite suscitar uma outra preocupação que deveria estar entre as prioridades do mundo corporativo: como aproveitar melhor o talento das pessoas. Capacidade humana subaproveitada ou descartada também é desperdício. Atualmente, talvez o principal deles. Inteligência Artificial (IA) cada vez mais acessível para um mundo organizacional cada vez menos preparado para desenvolver potencialidades humanas. Preocupante.
Talvez isso ajude a explicar a dificuldade que muitas empresas têm para atrair e reter talentos em diferentes níveis e funções. Gastam muito dinheiro com longos e demorados processos de seleção e contratação. E até chegam às boas mentes. Porém, não raro, veem os preciosos recursos “escorrerem pelas mãos” quando, por exemplo, brilhantes jovens “entediados” simplesmente não permanecem em determinadas posições.
Trata-se de um fenômeno, dizem os especialistas, ocasionado por uma série de mudanças sociais recentes, o que inclui uma parcela considerável de jovens que prefere trabalhar autonomamente, como entregadores ou motoristas de aplicativos, por exemplo, do que construir carreira dentro de uma empresa. Sentem-se mais valorizados “na rua” do que dentro das fábricas ou escritórios.
Assim, independentemente do setor econômico em questão e de seus respectivos contextos competitivos, trata-se de um problema que precisa ser atacado frontalmente pela gestão. Se ela for ruim, vai certamente funcionar com um “repelente natural” de talentos humanos. Se for boa, poderá criar as condições necessárias para destravar potenciais e tornar mentes mais produtivas.
Como? Não há fórmula mágica.
Já sabemos, no entanto, que quando a empresa possui uma cultura de gestão que estimula as pessoas a analisarem o trabalho que executam e, mais do que isso, dá a elas condições e autonomia para que possam, de fato, mudar os processos e, assim, melhorar os resultados, isso se torna muito mais natural. E, como consequência, cria-se um ambiente mais favorável à atração, retenção e desenvolvimento de talentos.
Isso também tem a ver diretamente com a maneira como as lideranças se comportam diante de seus liderados. Líderes pautados pelo chamado “comando e controle”, que gostam de “dar ordens” e “fazer cobranças”, certamente encontrarão crescentes dificuldades para manter por perto e motivados profissionais mais jovens e questionadores.
Ao contrário, aquelas lideranças que entenderem que o melhor caminho é tornarem-se mentores, que, na medida certa, sabem como desafiar, mas também apoiar o desenvolvimento dos liderados, criando ambientes psicologicamente seguros, propício ao aprendizado... esses certamente terão maiores chances de reter mais e melhores talentos ao longo do tempo.
Quando essa confluência ocorre de fato – ao se associar a gestão que estimula a melhoria contínua às lideranças apoiadoras e mentoras –, a vida profissional das pessoas transforma-se completamente. Autoestimas são revitalizadas e capacidades latentes são despertadas. Indivíduos e equipes percebem-se mais valorizados, desafiados a progredir, a continuar evoluindo dia após dia.
Assim, atenua-se o “tédio organizacional” e aquele sentimento de estar sendo mal aproveitado, subdesenvolvido ou mesmo explorado. Isso diminui a vontade de procurar um outro lugar para trabalhar. E ajuda a atrair e reter quem realmente quer se dedicar e crescer na profissão. Claro que essa questão está ligada também a outros fatores, como políticas de remuneração, benefícios e condições de trabalho, mas a gestão pode ser um fator decisivo.
É curioso perceber que, em tempos de IA, torna-se ainda mais urgente entendermos com profundidade de que forma a gestão pode contribuir para aumentarmos o capital intelectual humano dentro das organizações. Precisamos começar garantindo que não estamos desperdiçando talentos.