CONSTRUÇÃO

Consórcio elevou 18% de produtividade e 32% de faturamento com lean em obras de instalação de redes de gás residenciais

Renato Mariz

Com o programa de expansão de uma concessionária de gás no interior de São Paulo, foi testado o primeiro modelo de contrato EPC desta empresa visando melhorar a eficiência da instalação destes produtos.

O Consórcio de grandes construtoras paulista que venceu a concorrência buscou a metodologia lean para melhorar suas performances de produtividade e qualidade da entrega, pois seus recursos eram quase todos mão de obra própria, as entregas possuíam elevados lead times e grande quantidade de trabalho inacabados em andamento.

Veja como este consórcio conseguiu resultados significativos ao aplicar a metodologia lean.

Entendendo os problemas no campo diretamente com o cliente final

O primeiro princípio do lean é “entender o que é valor para o cliente final”, por isso, como primeiro passo deste projeto foi feita uma análise diretamente com o cliente final e avaliado o NPS (net promoter score) dos clientes que se encontravam abaixo dos parâmetros estabelecidos com a concessionária.

Foi identificado que para o cliente final a sensação era de demora na ligação de gás dentro de sua residência, já que haviam diversos pontos de contato, com as etapas de: 1-Vistoria no imóvel; 2- Ramal interno na casa do cliente; 3- Ramal externo; 4- Recomposições de piso e 5- Ligação de saída de gás.

Com uma análise detalhada no campo, identificou-se que somente em 26% de um dia trabalho estava sendo dedicadas a atividades que agregavam valor, ou seja, 74% estavam distribuídas entre atividades que não agregam valor ou são trabalho auxiliar.

Os principais detratores de tempo foram:

  • Falta de ferramentas adequadas para desenvolver o trabalho;
  • Retrabalhos com rompimento de tubulações já existentes;
  • Demora para saída dos colaboradores por falta de organização e consequentemente atrasos no início da jornada de trabalho na linha de frente;
  • Como não havia um planejamento adequado dos recursos, a falta de alguma conexão, ferramenta ou acessório de trabalho gerava demoras, revisões ou reagendamentos, já quando a equipe se encontrava na residência do cliente.

Após esta análise, foi realizado um workshop para discussão dos dados levantados com as equipes de produção, planejamento, programação, suprimentos, engenharia, qualidade e segurança do trabalho. Como produto deste workshop foram geradas várias ações para minimizar ou eliminar alguns destes problemas em campo.

Implantando e acompanhando as ações de melhorias

As principais ações para mitigar os desperdícios no campo foram relacionados a:

  • Preparação e separação de kits para otimizar a saída das equipes para o campo;
  • Definição de novos horários para uma equipe fazer esta preparação;
  • Equipes com horários defasados, ou seja, uma equipe para ir na frente com a sinalização das ruas;
  • Estratégia de concentração e trabalho próximo das frentes para agilizar o compartilhamento de recursos (mão de obra especializada e máquinas específicas);
  • Criação de ferramenta para controle e reposição de estoque de materiais de rápido consumo.

Um segundo passo foi uma análise do fluxo de planejamento e programação, pois com o lead time longo e muitas instalações em andamento em etapas diversas, foram tomadas ações para baixar o estoque de atividades em progresso: a) implementação do conceito de takt-time = ritmo de entrega puxado pelo cliente; b) balanceamento e redimensionamento de equipes de trabalho por cidade e por tipo de atividades; c) implantação de rotinas do Last Planner System para avaliar a produtividade e tomar ações diariamente e d) confirmação com cliente com dois dias de antecedência para facilitar a execução da obra.

Foi feito também um diagnóstico relacionado a quebra de equipamentos HDD (horizontal directional drilling) para identificar oportunidades para melhorar a produtividade das equipes que executavam a atividade de instalações de redes. Esta análise identificou que um fornecedor específico apresentava as máquinas mais problemáticas, além disso, foi tomada uma ação de contenção que foi o aluguel de um equipamento sobressalente, caso houvesse quebra. Neste caso, foi feito um estudo financeiro que apontou que compensava ter esta máquina. Outras ações como um estoque de peças para o cotidiano e uma equipe reduzida de mecânicos também foram alternativas que trouxeram bons resultados.

Colhendo os resultados e definindo os próximos passos da jornada

Após as aplicações, bons resultados foram gerados. As consorciadas enxergaram os benefícios do projeto lean e buscaram consolidar os resultados gerados para levarem para outras obras destas empresas. O lean construction demonstra que é uma excelente modelo de gestão para obras de infraestrutura urbana, podendo levar maior eficiência e competitividade para as contratantes e as construtoras.

Publicado em 27/11/2023

Autor

Renato Mariz
Head para Construção do Lean Institute Brasil

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