A infraestrutura portuária no Brasil tende a crescer nos próximos anos, devido à grande quantidade de investimento público e privados nesse segmento. Alguns exemplos são obras de expansão e reforço de cais no porto de Santos, expansão do terminal do porto de Itapoá e do retro área porto de Paranaguá.
As obras portuárias possuem característica típicas devido à grande influência da meteorologia e das marés, da alta demanda de equipamentos logísticos terrestres e marítimos e da elevada utilização de elementos pré-moldados e pré-fabricados. Tais especificidades indicam a necessidade de uma atenção especial ao planejamento físico e logístico desses tipos de obras.
Apresentaremos cinco dicas de como garantir prazos em obras portuárias com a implementação do “lean thinking”:
1 - Planeje a obra em fluxo contínuo
O fluxo contínuo é um dos principais conceitos do lean, pois permite que atividades sejam executadas em sequência sem interrupção. Ao implementar o fluxo contínuo, conseguimos evitar a superprodução e o desbalanceamento de atividades, além de eliminar ociosidades sistêmica nas obras, o que proporciona uma execução mais fluida e rápida em obras portuárias.
A ferramenta da linha de balanço ajuda a transmitir fácil e visualmente como podemos incorporar este elemento ao planejamento.
Para isso, devemos envolver as pessoas, pois entendemos que o planejamento e controle é muito mais do que um departamento: é um processo que passa por várias áreas até chegar e ser retroalimentado na produção. Precisamos conectar esse planejamento e aproveitar a visão holística com uma boa estratégia de suprimentos e logística macro da obra.
Por fim, deve ser adotado um fluxo contínuo que seja conectado ao fluxo de caixa otimizado (sem prejudicar a produtividade) e adaptado ao contexto específico da situação atual da empresa e da obra.
2 - Ataque a obra em pequenos lotes
Sabemos que, às vezes, algumas empresas utilizam a estratégia de avançar o máximo possível nos serviços iniciais (como é o exemplo das estacas, por conta de definições prévias do planejamento e principalmente para buscar faturamento). Essas definições muitas vezes causam dificuldades para avançar com as demais atividades devido às dificuldades logísticas ocasionadas pelo avanço das atividades iniciais. Além disso, os eventuais problemas de qualidade que ocorrem demoram para ser identificados pelos serviços posteriores em certos casos (e mesmo quando são descobertos, geram uma enorme quantidade de retrabalho).
Ao utilizar o lean, busca-se aliar o bom e rápido andamento executivo com um fluxo de caixa previamente planejado. Para aplicar o conceito de “pequenos lotes”, a pergunta que deve ser feita é “Qual é a área mínima (trecho, módulo, eixos etc.) que posso avançar os serviços sem que tenha problema de segurança do trabalho, qualidade e logística de execução?”. Ao avançar em áreas mínimas, criamos um efeito de eliminar esperas entre as atividades, o que reduz o prazo sem a necessidade de acrescentar mais recursos. Um exemplo que pode ser mencionado é o avanço das pré-vigas, pré-lajes e concretagens em pequenos módulos. Nessa linha, podemos concluir que as atividades de comissionamento se beneficiariam se utilizassem o conceito de pequenos lotes, visto que poderiam entregar a obra aos poucos e, com isso, antecipar etapas de operação.
3 - Estruture a solução de problemas com rotinas produtivas
Um dos grandes problemas que são encontrados em obras portuárias de grande porte é a demora na resolução de problemas. Esses projetos normalmente possuem grande quantidade de efetivos com uma enorme dificuldade para gerir informações e problemas.
O lean na construção busca estruturar rotinas produtivas de gestão envolvendo, inicialmente, as lideranças de campo e da engenharia da obra e, depois, expandindo para a equipe da produção.
Rotinas de remoção de restrições são executadas comumente para esses tipos de obras em uma cadência semanal. Há também reuniões de planejamento semanal com metas claras e alinhadas ao planejamento macro da obra. Nessas reuniões, também são analisadas as causas dos desvios, e são tomadas ações claras para mitigar e eliminar os problemas recorrentes.
O gerenciamento diário também é uma rotina bastante produtiva, sendo realizado por meio de uma reunião rápida de 15 minutos para resolver problemas emergenciais com as equipes de engenharia e produção da obra.
Todas essas rotinas trazem agilidade na correção de desvios visando à retomada do planejamento macro. Elas também resultam em um enorme engajamento da equipe e possuem uma forte aplicação na gestão visual (outro elemento do lean) para permitir de forma clara e rápida identificar se a informação foi entendida. Com isso, os problemas são rapidamente resolvidos sem se acumularem.
4 - Alavanque a produtividade com o mapeamento de fluxo de valor e o trabalho padronizado
A produtividade é um elemento fundamental para qualquer obra. Para obras portuárias, recomendamos a utilização do mapeamento de fluxo de valor, que é uma ferramenta da indústria que foi adaptada para a construção justamente para eliminar desperdícios em atividades específicas ou em um conjunto de atividades. Os principais desperdícios que eliminamos em obras portuárias com o MFV é a movimentação e a espera entre os processos das atividades. Para esses tipos de obras, estes tipos de desperdícios consomem aproximadamente 1/3 do tempo das atividades executivas.
Após o desenvolvimento do estado futuro das atividades, avançamos para o desenho do trabalho com o auxílio da ferramenta “trabalho padronizado”. Com ela, o trabalho de cada funcionário, dupla ou equipe é padronizado em nível de turno ou dia de um ciclo repetitivo. A rotina da equipe de logística também é padronizada. Os layouts dos locais de trabalho são projetados visando reduzir desperdícios de transporte, estoque e movimentação.
Esse desenho do trabalho possui forte envolvimento das equipes do campo, inclusive com a realização de testes pilotos para melhorar e validar o planejamento das atividades.
Resultados típicos conseguidos com essas abordagens incluem o aumento da produtividade entre 20 e 35%.
5 - Sincronize a logística
A logística é importante em toda grande obra (e nas portuárias, é mais importante ainda). A logística lean auxilia com o dimensionamento de supermercados (estoques mínimos para fazer a produção fluir), as rotas de abastecimento, o dimensionamento e a padronização de atividades de uma equipe dedicada à logística.
A logística de elementos pré-moldados se torna extremamente relevante em obras portuárias. Para isso, sugere-se que sejam utilizados sistemas puxados pela produção com previsão dos locais corretos para armazenagem, da quantidade correta e com kits de elementos auxiliares pré-montados que facilitem a montagem que é executada pela equipe de produção.
Iniciando o embarque na jornada lean
A implementação do lean em obras portuárias pode ser realizada em qualquer etapa de desenvolvimento do projeto. Obras ainda não iniciadas terão o benefício de planejar com cautela ao introduzir estratégias de planejamento em fluxo contínuo antes do início dos serviços. Obras já iniciadas podem atacar o planejamento em paralelo com a introdução de rotinas de gestão e a aplicação de ferramentas para elevar a produtividade em serviços críticos.
Sugerimos que, antes da implantação, identifiquem e mergulhem nos principais desafios que a obra enfrentará ou já está enfrentando, pois a implantação do lean deve ser situacional, ou seja, de acordo com as dificuldades momentâneas.
O lean na construção de obras portuárias tem trazido diversos benefícios para as empresas que o vem adotando no seu sistema de gestão da produção. O principal tem sido a garantia dos prazos acordados com seus clientes, fato que auxilia na redução dos custos da obra e nos ganhos de bônus por antecipação. A contratante também se beneficia, pois garante o início antecipado da operação, gerando resultados antes do que foi inicialmente previsto.
As empresas que têm aplicado o lean em obras portuárias relatam que ainda não estão no fim da jornada, e sim no início, e que esperam resultados ainda maiores pela frente.