GERAL

Sem “agentes de mudança” não se melhora a gestão

Flávio Augusto Picchi
Sem “agentes de mudança” não se melhora a gestão
É importante que a empresa, uma vez decidida por um processo real e efetivo de adoção de algum novo modelo de gestão, consiga entender quem são os potenciais agentes de mudança

Transformar para melhor a gestão de uma empresa não é, certamente, uma tarefa fácil. Principalmente porque toda mudança gera insegurança nas pessoas e, consequentemente, resistências. É como se existisse uma grande inércia nas organizações que dificulta qualquer alteração.

Para melhorar é preciso mudar. No entanto, para vencer as forças que tendem a travar a evolução ou que fazem com que ela ocorra muito lentamente é necessário que existam pessoas que tenham a visão do que poderia ser melhor, quais os benefícios e que influenciem seus entornos, entusiasmem os demais, gerem motivação e conduzam as mudanças.

São indivíduos que podemos chamar de agentes de mudança. São aquelas pessoas que, dentro das companhias, atuam como motores principais da transformação da gestão.

Na prática, cabe a esses agentes de mudança basicamente duas ações fundamentais.

Primeiro, conhecer, aprender, aprofundar-se e levar para dentro da organização informações, conhecimentos, técnicas, métodos... que possam como ser usados como combustível para a mudança de gestão.

Segundo, além de trazer esse conhecimento para dentro da empresa, também caberá a eles estimular e/ou dar condições para que as pessoas da companhia entendam, aprendam e efetivamente usem toda a nova informação para efetuar as mudanças necessárias e para que tragam os resultados esperados.

Essas ações podem parecer simples, mas, na realidade, são bastante complexas. Primeiro, porque exigem um sofisticado processo de ensino-aprendizagem, tanto por parte dos agentes de mudança, que precisam, primeiro, aprender os métodos, quanto, também, do lado das pessoas às quais se pretende ensinar, treinar, etc.

Segundo porque é uma ação eminentemente humana. Ou seja, é um processo que depende da qualidade dos relacionamentos entre as pessoas nas empresas, muito mais do que novas ferramentas ou tecnologias.

E, terceiro, isso exige profundas mudanças de mentalidades, tanto de quem vai levar e disseminar as novas informações para dentro da organização, como para quem vai receber, aprender e manipular e usar tudo isso. Na verdade, cada um de nós deveria fazer uma reflexão: tenho contribuído como agente de mudança de novas formas de pensar e agir em minha organização? Ou tenho sido parte das forças invisíveis que dificultam qualquer mudança?

Tive oportunidade de conhecer e mesmo desenvolver diversos agentes de mudança, em inúmeras empresas nas quais acompanhei a transformação lean. O primeiro agente de qualquer mudança de gestão dessa magnitude tem que ser o número um – presidente, CEO. Faz parte da definição de seu papel como líder estabelecer uma direção e conseguir que todos se engajem naquele rumo.

No entanto, somente um agente de mudança, por mais poderoso que ele seja pelo seu cargo, não consegue mover uma organização inteira. São necessários muitos agentes de mudança, estimulando e mantendo a transformação em curso nos diversos níveis e áreas.

E nem sempre a mudança inicia do topo, o que seria o ideal. Por vezes, uma transformação lean inicia por uma unidade ou pela iniciativa de um agente de mudança no nível intermediário. Ao dar resultados, desperta o interesse da direção, que mais adiante retoma o processo de cima para baixo, mas com apoio de exemplos de sucesso já colhidos.

Assim, é importante que a empresa, uma vez decidida por um processo real e efetivo de adoção de algum novo modelo de gestão, consiga entender quem são os potenciais agentes de mudança. É fundamental identificar, desenvolver e apoiar aqueles que podem ser pioneiros e entusiastas na adoção de novas metodologias, contagiando positivamente todos pelos resultados obtidos na prática.

Um verdadeiro agente de mudança tem como função mudar não só os processos, mas, principalmente, as pessoas da empresa, a começar por si mesmos. Sendo um verdadeiro exemplo vivo de novos padrões de comportamento, pode influenciar outros, gerando um processo em cascata.

E como sabemos que mudar a gestão é, essencialmente, mudar as pessoas, nutrir agentes de mudança nos vários níveis é algo necessário ou mesmo inevitável para que se consiga obter sucesso nessa empreitada.

Publicado em 09/08/2023

Autor

Flávio Augusto Picchi
Senior Advisor do Lean Institute Brasil