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Explosão da Starship: aprender com erros é indispensável para inovar

Flávio Augusto Picchi
Explosão da Starship: aprender com erros é indispensável para inovar
Assim como acontece nos sofisticados programas espaciais, as empresas também podem se beneficiar de uma cultura de experimentações sucessivas e aprendizados acumulados através de sucessos e falhas

Há poucos dias assistimos à explosão da Starship, o mais poderoso foguete já lançado. No entanto, o que mais surpreendeu a muitos foi a reação do empresário Elon Musk, CEO da empresa responsável pelo projeto, imediatamente comemorando o “grande sucesso”.

A maioria das pessoas pensou: com pode ser um sucesso algo que terminou em explosão, devido a uma falha no desacoplamento dos estágios? Passada a imediata reação, várias informações foram trazidas e, nesse ponto, pelo menos, temos de concordar com o polêmico empresário: o lançamento foi, sem dúvida, um experimento de sucesso, apesar da explosão.

A discussão desse acontecimento, que mobilizou pessoas das mais diversas atividades no mundo todo, reaviva mais uma vez o debate sobre o papel das falhas nos processos de inovação, tão importantes para todas as empresas.

Cabe lembrarmos como a corrida espacial evolui. Quem gosta do assunto certamente já estudou como os programas Mercury, Gemini e Apollo criaram uma sucessão de aprendizados, até que fosse concretizada a primeira viagem do homem à Lua.

Numa sucessão de missões planejadas, foram testados e ajustadas importantes etapas, como o acoplamento de diferentes módulos no espaço, o primeiro voo em órbita da Lua e etc. Por mais que os engenheiros e cientistas planejem, somente os testes reais podem comprovar se tudo vai funcionar ou demonstrar falhas que precisam ser corrigidas. Cada missão é desenhada como um experimento, com objetivos de aprendizado bem definidos. E nem sempre as coisas ocorrem como planejado, resultando em dezenas de acidentes, reportados ao longo de anos.

No caso do recente lançamento da Starship, diversos objetivos foram concretizados, como o lançamento mais poderoso até então sem destruir a plataforma, a superação do ponto de esforço crítico, dentre outros. Alguns objetivos fracassaram, como a separação do estágio, mas isso também gera inúmeros aprendizados, para que os próximos voos funcionem.

É assim que a inovação evolui, seja nos programas espaciais, seja nas empresas: através de experimentos que comprovem ou refutem algumas hipóteses. Sendo algo nunca tentado, pode dar errado, mas isso faz parte do processo de aprendizado.

É por isso que no ambiente de startups, que lidam com incertezas maiores por testarem produtos e modelos de negócio totalmente novos, existe uma tolerância a erros muito maior que na cultura empresarial tradicional, pois um protótipo sempre pode falhar. “Erre rápido” é um mantra nesse meio, no sentido de que é preciso testar o mais cedo possível e corrigir antes de escalar seu modelo de negócio.

Isso não pode ser confundido com erros decorrentes de mal planejamento, negligência ou iniciativas temerárias, sem estudos ou dados que apontem sua viabilidade potencial. Esse tipo de erro não passa de má gestão.

Significa que para inovar devemos conduzir experimentos sucessivos, bem planejados e com hipóteses e objetivos claros para serem testados numa escala controlada. E a cultura da empresa deve estar preparada para o fato de que falhas ocorrerão e que o mais importante é o aprendizado gerado. Isso é indispensável para que as etapas seguintes conduzam ao sucesso esperado.

Ambiente controlado, num programa espacial, ocorre por exemplo nos testes em aeronaves não tripuladas (como foi esse da Starship) até que se tenha segurança para enviar seres humanos.

Numa empresa, pode significar lançar um produto em pequena escala ou somente numa região e medir os resultados. Da mesma forma que na Starship, na qual sensores forneceram informação valiosa que será analisada, num experimento empresarial devemos estabelecer indicadores que possibilitem gerar conhecimento útil, seja qual for o resultado do teste.

Não são só as startups que precisam de uma cultura ousada de inovação. Todas as empresas estão sendo desafiadas a buscar inovações, sejam incrementais ou radicais, para atenderem aos desafios crescentes da sociedade, num ritmo cada vez maior. Isso não será conseguido com iniciativas voluntaristas e mal estruturadas, mas, sim, através de ensaios bem desenhados e acompanhados.

Assim como acontece nos sofisticados programas espaciais, o dia a dia das empresas pode também se beneficiar com essa cultura de experimentações sucessivas e aprendizados acumulados através de sucessos e de falhas.

Publicado em 26/04/2023

Autor

Flávio Augusto Picchi
Senior Advisor do Lean Institute Brasil