Lean Institute Brasil: Em meio a tantas mudanças acontecendo cada vez mais rapidamente, as
necessidades do cliente oscilam com alta frequência. Que aliados temos para nos adaptarmos às
mudanças?
Fábio Trierveiler: Muitas pessoas pensam no trabalho criativo como algo solto, desorganizado,
como se estruturas matassem a criatividade. Entretanto, o processo criativo pode e deve ser estruturado; esse
é um ponto importante. Ao contrário da cena presente em um estereotipado local de trabalho criativo,
esse processo não engloba somente algumas pessoas sentadas em uma mesa colando notas adesivas nas paredes;
ele é muito maior que isso.
Nessa busca por estruturar esse processo de criação para responder a essas mudanças e para que a
empresa esteja sempre atualizada conforme as necessidades dos clientes, existem algumas metodologias,
frameworks e maneiras de pensar que objetivam justamente criar essa adaptabilidade necessária;
dentre elas, está o design thinking, a lean startup e o lean inception, que
discutiremos em nosso próximo evento.
LIB: O que são esses conceitos de design thinking, lean startup e lean
inception?
FT: Bom, vamos começar pelo design thinking. Gosto de compará-lo a um
guarda-chuva: quando começa a chover, abrimos o guarda-chuva para nos protegermos da água, e quando
para de chover, nós o fechamos, pois não precisamos mais dele naquele momento; assim, um guarda-chuva
nos fornece a possibilidade de nos adaptarmos a diferentes climas. Da mesma forma, o design thinking nos
fornece as bases para podermos pensar fora da caixa e liberarmos toda a nossa criatividade, mas nos dá
a segurança de podermos voltar às bases quando for necessário. Assim, ele nos permite divergir
e convergir os pensamentos e as ideias de forma estruturada, com foco não apenas em entregar o produto, mas
em sempre retroalimentar, testar e aprender junto ao cliente.
Passando para lean startup, ela parte da premissa de que é a partir dos nossos erros que aprendemos.
Entretanto, o mundo frenético em que estamos vivendo não nos fornece muito tempo para aprender.
Portanto, quando falamos em lean startup, estamos falando em falhar e aprender mais rapidamente. A lean
startup traz muitos conceitos do MVP, ou Mínimo Produto Viável. Ou seja, com ela, você
consegue entregar valor mais rapidamente numa versão, digamos, reduzida, mas fundamental e que entrega valor
(que é o verdadeiro foco: entregar valor). Além disso, permite que aprendamos rapidamente com os
feedbacks do cliente e melhoremos o produto de forma rápida também.
Por fim, a lean inception reúne todos esses conceitos em um processo altamente estruturado, que pode
levar desde quatro horas, se for uma coisa bem simples com poucas etapas, até quarenta horas, se for algo
mais complexo. Portanto, a lean inception é uma forma bem estruturada para permitir que utilizemos
todas essas técnicas.
LIB: Cite algum caso em que a lean inception trouxe algum exemplo de insight ou descoberta
que sem ela a gente de repente não teria chegado nessas conclusões.
FT: A primeira coisa que me vem à mente foi um caso em que estávamos realizando uma
lean inception de quarenta horas para um aplicativo de gestão de plano de saúde.
Estávamos analisando o aplicativo, e quando chegou na parte de fazer o cadastro de pessoas, que nos permite
entender o nicho que podemos atender, tinha uma persona que chamava “João Pai de
Família”. Olhamos nas características sobre esse cadastro e descobrimos que ele tinha dois
filhos.
Nesse momento, uma pessoa chegou e disse: “Peraí, se a criança tiver dois anos de idade, ela tem
plano de saúde também?”. A resposta é sim, claro. A pessoa continuou: “E a
criança, então, vai ter que ter um login e senha para entrar no aplicativo?”.
“Com seu dedinho de criança…”, alguém até brincou. Mas a resposta é
claramente não. Assim, chegamos à conclusão de que que precisávamos criar um
módulo de cadastro de dependentes.
Ninguém tinha pensado nisso até o momento, e a gente já estava no terceiro dia dos cinco da
inception. Então, através de uma das técnicas, a gente criou todo um módulo
novo de cadastro de dependentes em que o pai ou a mãe poderia criar e cadastrar os seus filhos. Esse é
apenas um dos exemplos que a gente tem em que a lean inception consegue ajudar a garantir o produto certo
para a pessoa certa e com a melhor qualidade possível.
LIB: O que podemos esperar com o evento? O que uma empresa participante pode ganhar com isso?
FT: Mais do que entender do que o cliente precisa, muitas vezes a gente tem a possibilidade de criar
a necessidade antes mesmo dela existir. Como as mudanças rápidas do mundo exigem
soluções ainda mais rápidas, a lean inception nos dá essa agilidade.
Entretanto, não é só sobre agilidade: a gente não pode focar em somente ser
rápido, mas não entregar coisa certa ou entregar sem qualidade. É basicamente isso que vamos
ensinar: como, através da lean inception, podemos entregar soluções mais rapidamente e
garantir que façamos a coisa certa para a pessoa certa e com qualidade.