A união da filosofia de gestão lean e da metodologia BIM – Building Information Modeling –
torna possível a identificação de desperdícios e interferências na obra de
modo antecipado por meio da visualização e simulação da construção.
Esses dois conceitos, quando bem entrosados, permitem que os processos sejam claramente integrados e que os
times contribuam, de fato, para um resultado superior. Mais do que uma mera alegação, as pessoas que
já ousaram com essa aliança puderam enxergar e comprovar seus ganhos, em especial no que se refere ao
aumento de produtividade e redução de custos.
Há pouco mais de 10 anos, tanto o lean quanto o BIM vêm crescendo no setor de construção.
Contudo, poucos ainda perceberam que os dois combinados trazem resultados muito maiores do que se usados
separadamente. Mas como podemos combinar de forma
eficiente lean e BIM? As possibilidades são inúmeras, e elas podem ser aplicadas em todas as
etapas de um empreendimento. Vejamos cinco aplicações possíveis:
1) Desenvolvimento do projeto. O BIM tem revolucionado este processo, integrando
informações a objetos, possibilitando a detecção de interferências, facilitando a
colaboração entre projetistas etc. A filosofia lean tem um enfoque específico para projetos que
se aplica totalmente à construção e que é inspirada em práticas de desenvolvimento
de produtos e processos industriais. Traz elementos como LPPD (Lean Project and Process Development), LeanIPD
(Integrated Project Delivery), Target Cost/Target Value Design, engenharia simultânea,
interações entre disciplinas em pequenos lotes, gestão através de obeya (sala de
guerra), prototipagem rápida, entre outros. Tudo isso fica altamente facilitado com o uso do BIM que permite
simulações de conforto térmico, acústico, checagem de conflitos,
detecção de interferências, simulações de execução e principalmente
de custos, fato este que gera projetos e obras mais rápidas, de melhor qualidade e com menores
custos de implantação e operação.
2) Planejamento de obras. Muda
completamente com a gestão lean ao se utilizar de uma lógica de fluxo contínuo e sistema puxado.
A programação e o controle ocorrem por meio de rotinas semanais e diárias, com
ajustes rápidos na origem dos desvios e problemas, garantindo maior aderência ao
planejado. As possibilidades do BIM para potencializar esse processo são inúmeras, como: a
simulação 4D, visualização do progresso em 3D, utilização do modelo para
complementação de informações para o uso do gerenciamento diário, o registro do
executado por dispositivos móveis e drones conectados ao modelo da obra etc.
3)
Produção. Este está no coração do sistema lean e eleva a produtividade
dos processos. Isso ocorre com a observação detalhada do trabalho no gemba (onde as coisas
acontecem). A aplicação dessa análise usando BIM possibilita estudos prévios e
simulações. Isso antecipa movimentos e interferências entre trabalhadores e equipamentos e
identifica as melhores formas de execução, considerando menor esforço com maior segurança
e ergonomia. O modelo da obra conectado ao trabalho padronizado facilita a comunicação com os operadores
e o treinamento da mão de obra fica muito mais efetivo ao se utilizar realidade virtual e aumentada.
4) Processos de compras e logística. Estes também podem ser totalmente transformados ao
se usar a lógica lean de kits puxados e entregas just-in-time, facilitados pelo uso de
informações precisas de quantidades, custo e tempo associadas a cada elemento no modelo BIM.
Simulações de layouts, estoques e movimentações podem otimizar o fluxo de materiais,
eliminando esperas e desperdícios.
5) Transformação cultural. O lean vai
muito além de mudanças operacionais, sendo
considerado um fator de transformação estratégica nas empresas. Isso se concretiza com uma
profunda mudança cultural puxada por comportamentos de uma liderança focada em desenvolver parcerias em
toda a cadeia produtiva. Por exemplo, em processos colaborativos como a IPD (Integrated Project Delivery) e com o
cotidiano desenvolvimento das equipes como solucionadoras de problemas. A transparência e a
disponibilização de informações confiáveis, compartilhadas e atualizadas,
propiciadas pelo BIM, são fatores decisivos para que isso possa ocorrer.
Esses são apenas alguns exemplos. Conforme se aumenta a combinação eficiente entre lean e BIM,
surgem novas possibilidades de integração para melhorar processos, solucionar problemas na
prática e trazer melhores resultados.
A construção passa por um momento de clara necessidade de um salto de produtividade e eficiência
frente às maiores exigências de clientes e elevação de custos de insumos. Ao pensar de
forma lean, as empresas do setor têm grande oportunidade de rever os modelos tradicionais, serem ágeis e
usarem adequadamente a tecnologia. Contratantes públicos e privados também já percebem os ganhos
potenciais e começam a incorporar requisitos relacionados tanto ao lean quanto ao BIM em exigências
contratuais.
Embora o uso do lean e BIM venha crescendo no setor, o momento é ainda de aprendizado. Não perca a
oportunidade de explorar o quanto antes as enormes sinergias que a aplicação conjunta desses conceitos
pode trazer para a competitividade das empresas e obras.