AGRONEGÓCIO

Cooperativa agrícola soma 1.2 Milhão ao evitar perdas na colheita com gestão lean

Andry Caroline, Bruno Battaglia e Tharles Franchesco Castriani
Cooperativa agrícola soma 1.2 Milhão ao evitar perdas na colheita com gestão lean
Cooperativa Agrícola do Mato Grosso do Sul comprova que as práticas da gestão lean diminuem perdas financeiras substanciais.

Como resultado de uma parceria entre a Copasul e o Lean Institute Brasil em propriedades da região de Naviraí, as Fazendas do Mato Grosso do Sul estão experimentando ganhos expressivos com a adoção do pensamento lean na colheita de grãos. Os resultados animadores podem ser exemplificados quando comparamos as perdas de uma fazenda que usa esta metodologia há três anos com as perdas médias encontradas em demais produtores na região.


Os números são expressivos e trazem ao produtor um aumento da margem que o torna fortalecido no negócio e possibilita outros investimentos importantes na propriedade. Os resultados financeiros de soja e milho totalizam ganhos de aproximadamente R$1,2 milhão em três anos somente em perda na colheita.


Além disso, o pensamento lean trouxe ainda outros ganhos para as fazendas que adotaram essa prática. Entre eles, podem ser destacados:

  • Maior conscientização de operadores e gestores sobre a necessidade de medições regulares de perdas, com método estruturado.
  • Melhor engajamento da equipe em reconhecer e apontar outras oportunidades de melhorias em áreas de suporte na Fazenda, como oficina de manutenção, silos, estoques, entre outros.
  • Transparência sobre a performance de colheita, com avanços no pensamento crítico sobre a importância de ter indicadores e acompanhá-los com frequência, auxiliando na tomada de decisões.
  • Yokoten, ou desdobramento lateral dos aprendizados. Com o projeto piloto na Fazenda Lean, a cooperativa passou a expandir a abordagem para outras quatro fazendas sob sua orientação, com apoio da consultoria.

Esse projeto iniciado em 2018 agora passa por uma fase de consolidação do método e expansão para outros produtores interessados. Mas como tudo isso foi possível?

Como começar…

A colheita é um momento fundamental no processo agrícola realizado por todo produtor, independentemente de qual cultura ele produza. É o momento de “colher os louros” de todo o trabalho árduo que começa na  preparação do solo, passando pelo plantio, às aplicações para, enfim, colher e comercializá-lo. Esta etapa final do processo, todavia, exige que alguns requisitos e padrões sejam previamente estabelecidos, dando vazão às necessidades de mão-de-obra capacitada e de um planejamento bem feito, auxiliando na execução.

A colheita é uma etapa chave para o processo de produção e fazê-la do melhor modo, adicionando uma gestão forte e atuante, assim como métricas e indicadores no processo, podem trazer ganhos ano a ano.

Partindo de uma perspectiva lean sobre o planejamento, o trabalho na colheita começa muito antes de a atividade, de fato, ser executada. Planejar de modo eficiente é crucial para o alinhamento de expectativas, a definição de metas e indicadores e a alocação de recursos para, assim, termos um plano de ação claro de como alcançar cada um destes objetivos. Para isso, necessitamos também de pessoas responsáveis e prazos bem definidos para todas as ações propostas.

Como planejar…

Uma das formas para orientar esse planejamento é um questionário estruturado que pode ajudar na aplicação do método. Através de algumas perguntas, as necessidades da colheita são identificadas, mostrando também as eventuais lacunas que o produtor pode ter em seu planejamento de capacidade. Veja abaixo um exemplo de parte do planejamento utilizado na colheita de grãos dos cooperados da Copasul.



Uma vez feito esse planejamento, ele passa a ter um acompanhamento periódico, o que ajudará a garantir que tudo esteja pronto para iniciar a colheita com o menor número possível de imprevistos. É recomendado também que este planejamento, feito até então em um nível mais gerencial, seja apresentado a todos aqueles envolvidos no processo da colheita (imagem abaixo), o que  evita ruídos de comunicação, possibilita a retirada de dúvidas e é um passo decisivo para que todos entendam o objetivo maior da propriedade, tornando-se ainda mais envolvidos e comprometidos com a atividade.


Em relação ao acompanhamento de variáveis de controle na colheita, usualmente são avaliados 2 pontos básicos: hectares colhidos por dia (ha/dia) e perda de grãos na colheita (em sacas/ha). Essas informações são colocadas em quadros de Gerenciamento Diário (GD) para que sejam de conhecimento de todos, conforme o exemplo mostrado abaixo:


Como gerenciar diariamente…

Diariamente, a equipe de colheita se reúne de 10 a 15 minutos para discutir qual foi o cumprimento da meta estipulada para o dia anterior, bem como  os problemas encontrados na operação e quais serão as medidas tomadas para sua resolução. Por meio do GD, coletamos informações importantes para o entendimento dos problemas mais recorrentes na colheita daquela safra, além de informar sobre as prioridades e eventuais replanejamentos do dia.

O gerenciamento diário, como ferramenta de gestão, permite a tomada de decisões a partir das medições enquanto ainda “há tempo”, ou seja, quando não é tarde demais para a execução da estratégia previamente definida.

Como medir…

No caso das medições de perdas na colheita, utiliza-se uma metodologia de amostragem sugerida pela Embrapa. Esse acompanhamento é feito por um colaborador dedicado em tempo integral, que avalia as perdas de cada uma das máquinas que realizam a colheita. O “monitor de colheita” desempenha um papel fundamental no processo, e seu treinamento deve ser realizado para garantir que tenha senso crítico apurado, juntamente com autonomia para paralisar o processo de colheita em caso de perdas acima do desejado. Sugere-se que pelo menos 15 dias antes do início da colheita, ele já comece a ser treinado no método.

Após iniciada a colheita de grãos, o monitor acompanha a campo os indicadores do processo para aquela safra. As medições são realizadas diariamente, avaliando e registrando o desempenho de todas as máquinas individualmente. A atividade de monitoramento e registro das perdas pode ser documentada em vídeo para que possa ser realizada facilmente por outros colaboradores.

Em caso de perdas superiores à meta definida pela propriedade ou de padrões que fogem à normalidade, o avaliador aciona o operador da máquina para que realize os ajustes necessários, passando depois por nova avaliação. Em caso de sucessivos ciclos de medição-regulagem sem obter êxito ou de recusa do operador em realizar ajustes, a cadeia de ajuda é acionada e uma outra pessoa, acima na hierarquia da propriedade, vem auxiliá-lo na resolução do problema, se necessário.

Para o registro e tabulação de dados, a Copasul desenvolveu um sistema próprio de coleta, um aplicativo utilizado pelo avaliador de perda na colheita e plataforma online de dados, conforme demonstrado nas imagens a seguir.


Com o uso deste sistema, o produtor tem dados mais rápidos para realizar o gerenciamento e a tomada de decisão juntamente com a equipe, de uma forma visual e de fácil acesso.

Continue melhorando

Uma vez finalizada a colheita, e de posse dos dados e informações coletadas ao longo da etapa, promovemos um momento de hansei – ou reflexão – com toda a equipe da propriedade, onde são discutidos pontos importantes sobre o atingimento ou não das metas, as conquistas, a produtividade média da safra, assim com os principais problemas encontrados e, se possível, já sair com um plano de ação. Temos visto que o hansei se torna um momento de democratização de conhecimento e de consolidação dos aprendizados, gerando iniciativas importantes para ajuste de rota da próxima safra e maior alinhamento entre gestão e operação.



O que os hansei que realizamos nos ensinaram foi que existem alguns elementos essenciais para o sucesso do projeto:

  • Envolvimento direto e apoio integral do proprietário.
  • Empenho do gerente da fazenda para fazer acontecer junto à equipe.
  • Engajamento dos operadores e terceiros rumo à melhoria do desempenho.
  • Apoio externo da cooperativa e da consultoria lean, trabalhando na parte técnica de equipamentos e demais elementos de gestão.
  • Bom planejamento das atividades e compartilhamento do propósito com toda a equipe.

Através de conceitos simples, o pensamento lean pode contribuir para elevar potencialmente os ganhos e trazer melhor performance à fazenda, através de maior produtividade e menos desperdícios, gerando ainda maior envolvimento dos colaboradores e da gestão no monitoramento e melhoria dos processos de modo geral.

Com a gestão lean, empresas agrícolas podem dar um salto no desempenho, criando vantagens competitivas de longo prazo e fortalecer ainda mais o setor, ao proporcionar aos colaboradores da linha de frente e às lideranças uma nova maneira de pensar e de fazer, tornando-se melhor preparado para atender as necessidades atuais e demandas futuras na produção de alimentos e renda no mundo rural.

Publicado em 14/06/2022

Autores

Andry Caroline
Especialista Lean no Agronegócio da Copasul.
Bruno Battaglia
Head Lean para o Agronegócio no Lean Institute Brasil
Tharles Franchesco Castriani
Supervisor de Lean no Agronegócio da Copasul.
Planet Lean - The Lean Global Networdk Journal